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"JÁ QUE TÁ, QUE FIQUE"
Não é fácil achar uma pamonha em Piracicaba
A busca pelo puro creme do milho faz que o doce propagandeado em Kombis ganhe ares de lenda urbana
DA ENVIADA ESPECIAL A PIRACICABA
Quem tem mais de 30 anos e
cresceu no Sudeste tende a
imaginar que todas as pamonhas vêm de Piracicaba, por
força do jingle repetido à
exaustão pelas caixas de som
dos vendedores ambulantes.
Procurar pelo doce in loco,
no entanto, deixa a sensação de
estar caçando uma lenda urbana. Ninguém sabe bem onde
comprar uma pamonha. É possível encontrar o petisco em
ambulantes na rua do Porto e
no Mercado Municipal -nada
de uma fábrica de pamonhas
capaz de suprir um exército de
Kombis e Brasílias país afora,
como se poderia imaginar.
O fato é que Piracicaba já teve
uma fábrica familiar de pamonhas que chegou a produzir
5.000 unidades por dia e originou o famoso jingle, gravado
nos anos 1960. O anúncio do
"puro creme do milho" pegou,
foi utilizado por vendedores de
pamonhas de outras procedências e sobreviveu à fábrica, que
fechou na década de 1980.
A antiga fábrica de pamonhas, que ficava na rua do Porto, nasceu do trabalho das irmãs Wasty, Jenny e Noemi Rodrigues, que, nos anos 1950, resolveram engordar o orçamento familiar fazendo o doce para
vender. O trabalho começava à
tarde, quando o milho era retirado dos sabugos e moído, e
adentrava a madrugada, quando era preparado e cozido.
"Pamonha é uma coisa que
estraga. Elas precisavam estar
prontas quando os vendedores
chegavam, às 5h30", lembra
Davi Ferreira Barros, 65, reitor
aposentado da Unimep e filho
de Jenny. Ele ajudava a família
e chegou a vender pamonhas
antes de se tornar estudante
universitário.
No auge da demanda, a produção chegou a envolver 15
pessoas, introduzindo uma novidade no mercado: a palha do
milho era costurada antes de
receber o doce, o que agilizou o
trabalho. "Com o tempo eles foram mecanizando a coisa",
conta Barros. A fábrica funcionou até os anos 1980. "As famílias foram crescendo, almejando outras coisas", diz.
Barros pôde reviver um pouco da história de sua família ao
conhecer Wanda e Ademir Assarisse, da vizinha Charqueada,
no programa "Comida Boa", da
TV Unimep, capitaneado por
José Luiz Mazzi, chef e professor de química da instituição.
Assim como fizeram os Rodrigues há cerca de 50 anos, os
Assarisse resolveram botar a
mão no milho e construíram,
há um ano, a cozinha industrial
para fazer curau e pamonha.
Há 15 anos, quando fez a primeira porção de pamonhas,
Wanda, 53, nunca havia provado o doce. Hoje ela chega a produzir 3.000 unidades por semana, com a ajuda de sete ou
oito pessoas. A palha, seguindo
a tradição das irmãs Rodrigues,
é costurada. O horário de trabalho também é semelhante: da
1h às 5h50, quando os vendedores vêm buscar a mercadoria.
"O produto precisa sair fresquinho", diz Ademir, 55.
E, assim como as pamonhas
das irmãs Rodrigues, o doce feito pelos Assarisse não leva leite
na receita. "Pamonha paulista
não tem leite", explica Wanda.
O casal faz o doce por encomenda, mas quem quiser arriscar pode encontrar algumas
unidades prontas, a R$ 1,70. É
preciso combinar a visita pelo
tel.: 0/xx/19/3486-1506;
Quem faz questão de se fartar
de pamonha em Piracicaba pode programar a visita para os finais de semana de 7 e 8/3, 14 e
15/3 ou 21 e 22/3, quando ocorre a Festa do Milho no distrito
de Tanquinho. Ali é garantida a
fartura de pamonhas e de outros produtos à base de milho.
O centro rural de Tanquinho
foi alvo de um projeto para industrializar a produção de pamonhas e de outros produtos
de milho, parceria que envolveu a Esalq, a Fapesp, o Sebrae
e a Prefeitura de Piracicaba.
Além de identificar as implementações necessárias para a
produção em condições ideais
de higiene e qualidade, o projeto visou o estímulo da plantação de milho na região, dominada por canaviais. Concluído
em novembro passado, está
pronto para ser implementado.
"O produto deve ser congelado à vácuo e mantido sob refrigeração, e não vendido em isopores, como é costume", diz
Gilma Lucazechi Sturion, professora do departamento de
agroindústria, alimentos e nutrição da Esalq e coordenadora
do projeto. "Buscamos resgatar
a tradição da pamonha na cidade. Há a discussão sobre o nome, se vai ser pamonha de Piracicaba. Mas parece que já tem
registrado no Paraná...". A lenda, pelo visto, continua.
(MARINA DELLA VALLE)
5.000
unidades de pamonhas
fresquinhas eram produzidas
diariamente na fábrica familiar
dos Rodrigues
1960
foi a década em que
o jingle foi gravado
3.000
pamonhas é a produção
semanal dos Assarisse, que
fazem o doce há 15 anos; hoje, a
fábrica deles funciona em
Charqueada, município vizinho a
Piracicaba
R$ 1,70 é o preço de uma pamonha
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