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ORIENTE MÉDIO REAL
Exploração pede bom guia, fôlego e força nas pernas
Para chegar a monumentos, é preciso fôlego para encarar trilhas que sobem e descem morros de pedra
DA ENVIADA ESPECIAL A PETRA
Há duas formas de visitar Petra. A primeira é passando apenas um ou dois dias, só para fazer as trilhas mais básicas, ver
os principais monumentos e
garantir fotos à la Indiana Jones. A segunda forma é conhecê-la de fato.
Neste caso, o turista precisará, basicamente, de duas coisas:
ter mais tempo -quatro dias
são suficientes- e ser guiado
por alguém com quem se relacione bem. Serão muitas horas
de passeio e é bom que a companhia seja agradável. E, para
isso, não tem outra maneira
além do famoso "ir com a cara".
Shadi al Bdoul, 25, é casado,
sem filhos, nasceu e foi criado
nas cavernas de Petra, aprendeu inglês com os turistas, apelida de "tortilla batata" os turistas gordinhos que vê no caminho, não entende como alguém
pode ficar cansado depois de
sete horas de sobe-e-desce pelas montanhas e se acomoda
nos lugares de onde a vista é
mais linda para tocar flauta enquanto o visitante, orgulhoso
por ter conseguido chegar, olha
boquiaberto a paisagem.
Foi Shadi que, por quatro
dias, acompanhou a reportagem do caderno de Turismo
pelas montanhas de Petra.
Na foto acima, ele segura a
flauta perto do Tesouro (Khazneh), monumento feito pelos
nabateus -povo que dominou
Petra entre o século 6º a.C. e o
ano 106 d.C.-, escavado em
posição estratégica para protegê-lo da chuva e do vento.
Cenário para o templo a que
Indiana Jones e seu pai chegam para tentar impedir que o
cálice sagrado fique nas mãos
de uma irmandade nazista, na
vida real a história do Tesouro
-pelo menos na versão dos beduínos, relatada por Shadi- é
ainda mais intrigante. "Foi
construído para guardar o tesouro de um faraó. Tem uma
urna lá em cima. Mas ninguém,
até hoje, encontrou o tesouro."
Para os arqueólogos, o monumento foi construído no primeiro século antes de Cristo,
provavelmente pelo o rei Aretas 3º Philhellene, que difundiu
a arquitetura helênica por todo
o litoral do Mediterrâneo.
Mas, durante a caminhada, o
melhor é embarcar no que contam os beduínos para entrar de
cabeça no clima do passeio e
nas crenças dos locais.
Esse é o primeiro monumento que se vê depois da caminhada de 1,2 km Petra adentro. Um
trajeto que, contemplativo, dura meia hora e merece ser feito
em horas diferentes do dia. A
cada posição do sol, as montanhas ganham nuanças únicas.
E são pedras gigantescas. Em
alguns pontos, têm 200 metros
de altura. Chamado de Siq, o
caminho foi formado naturalmente, quando um terremoto
dividiu a montanha em duas
partes. Assim que termina essa
passarela, chega-se ao Tesouro.
Para vê-lo de cima, a caminhada é mais longa. Depois de
andar pelo Siq, conte pelo menos mais uma hora de subida.
Um percurso tão íngreme que
Shadi recomendou à reportagem que fizesse o trajeto em cima de uma mula.
A menos que você esteja
acostumado a beirar penhascos
no lombo de um animal de quatro patas, recuse. O peso delas
danifica as trilhas deixadas pelos nabateus, e se equilibrar sobre a mula é infinitamente
mais sofrido do que colocar as
pernas para trabalhar morro
acima. Fora o fato de que quem
vai a pé acaba parando mais para conversar com os beduínos e
tomar um chá de menta providencial para repor o fôlego.
Além do Tesouro, há outras
paradas obrigatórias, como o
Teatro, o lugar dos sacrifícios e
o fantástico Monastério. O último foi possivelmente construído como templo ao rei Obodas
1º, que governou no primeiro
século antes de Cristo. O Monastério fica num dos pontos
de mais difícil acesso. De novo,
força nas pernas, água mineral
na mochila, protetor solar no
rosto, máquina fotográfica na
mão e muita disposição, antes
que Shadi recomece: "Vamos!
Tá andando mais devagar que
uma "tortilla batata!'".
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)
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