São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

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ORIENTE MÉDIO REAL

Exploração pede bom guia, fôlego e força nas pernas

Para chegar a monumentos, é preciso fôlego para encarar trilhas que sobem e descem morros de pedra

DA ENVIADA ESPECIAL A PETRA

Há duas formas de visitar Petra. A primeira é passando apenas um ou dois dias, só para fazer as trilhas mais básicas, ver os principais monumentos e garantir fotos à la Indiana Jones. A segunda forma é conhecê-la de fato.
Neste caso, o turista precisará, basicamente, de duas coisas: ter mais tempo -quatro dias são suficientes- e ser guiado por alguém com quem se relacione bem. Serão muitas horas de passeio e é bom que a companhia seja agradável. E, para isso, não tem outra maneira além do famoso "ir com a cara".
Shadi al Bdoul, 25, é casado, sem filhos, nasceu e foi criado nas cavernas de Petra, aprendeu inglês com os turistas, apelida de "tortilla batata" os turistas gordinhos que vê no caminho, não entende como alguém pode ficar cansado depois de sete horas de sobe-e-desce pelas montanhas e se acomoda nos lugares de onde a vista é mais linda para tocar flauta enquanto o visitante, orgulhoso por ter conseguido chegar, olha boquiaberto a paisagem.
Foi Shadi que, por quatro dias, acompanhou a reportagem do caderno de Turismo pelas montanhas de Petra.
Na foto acima, ele segura a flauta perto do Tesouro (Khazneh), monumento feito pelos nabateus -povo que dominou Petra entre o século 6º a.C. e o ano 106 d.C.-, escavado em posição estratégica para protegê-lo da chuva e do vento.
Cenário para o templo a que Indiana Jones e seu pai chegam para tentar impedir que o cálice sagrado fique nas mãos de uma irmandade nazista, na vida real a história do Tesouro -pelo menos na versão dos beduínos, relatada por Shadi- é ainda mais intrigante. "Foi construído para guardar o tesouro de um faraó. Tem uma urna lá em cima. Mas ninguém, até hoje, encontrou o tesouro."
Para os arqueólogos, o monumento foi construído no primeiro século antes de Cristo, provavelmente pelo o rei Aretas 3º Philhellene, que difundiu a arquitetura helênica por todo o litoral do Mediterrâneo.
Mas, durante a caminhada, o melhor é embarcar no que contam os beduínos para entrar de cabeça no clima do passeio e nas crenças dos locais.
Esse é o primeiro monumento que se vê depois da caminhada de 1,2 km Petra adentro. Um trajeto que, contemplativo, dura meia hora e merece ser feito em horas diferentes do dia. A cada posição do sol, as montanhas ganham nuanças únicas.
E são pedras gigantescas. Em alguns pontos, têm 200 metros de altura. Chamado de Siq, o caminho foi formado naturalmente, quando um terremoto dividiu a montanha em duas partes. Assim que termina essa passarela, chega-se ao Tesouro.
Para vê-lo de cima, a caminhada é mais longa. Depois de andar pelo Siq, conte pelo menos mais uma hora de subida. Um percurso tão íngreme que Shadi recomendou à reportagem que fizesse o trajeto em cima de uma mula.
A menos que você esteja acostumado a beirar penhascos no lombo de um animal de quatro patas, recuse. O peso delas danifica as trilhas deixadas pelos nabateus, e se equilibrar sobre a mula é infinitamente mais sofrido do que colocar as pernas para trabalhar morro acima. Fora o fato de que quem vai a pé acaba parando mais para conversar com os beduínos e tomar um chá de menta providencial para repor o fôlego.
Além do Tesouro, há outras paradas obrigatórias, como o Teatro, o lugar dos sacrifícios e o fantástico Monastério. O último foi possivelmente construído como templo ao rei Obodas 1º, que governou no primeiro século antes de Cristo. O Monastério fica num dos pontos de mais difícil acesso. De novo, força nas pernas, água mineral na mochila, protetor solar no rosto, máquina fotográfica na mão e muita disposição, antes que Shadi recomece: "Vamos! Tá andando mais devagar que uma "tortilla batata!'".
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)


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