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EXPERIÊNCIA NA BAGAGEM
Raimon Martínez Frailan, secretário-geral do Turismo, discute no Brasil como aprimorar setor
Espanha quer viajante por mais tempo
SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO
Principal autoridade do turismo
espanhol, Raimon Martínez Fraile, 57, veio ao Brasil discutir como
os países podem obter sucesso no
setor de viagens aumentando o
número de turistas estrangeiros
que a eles se destinam.
Militante do Partido Socialista
Obrero Espanhol (PSOE), ex-vice-prefeito de Barcelona e ex-deputado, ele é o secretário-geral do
Turismo na Espanha desde abril.
Martínez Fraile é ainda professor
universitário de história contemporânea -e traz na bagagem a
experiência de ter participado do
grupo que, entre 1982 e 1988, capitaneou a bem-sucedida candidatura de Barcelona aos Jogos Olímpicos que lá foram realizados em
1992. Leia a seguir os principais
trechos da entrevista exclusiva
concedida por ele à Folha:
PROPÓSITOS - "Vim ao Brasil no
bojo da reunião da Unctad, seminário realizado em São Paulo pelas Nações Unidas, para uma discussão, organizada pelo Ministério do Turismo brasileiro, sobre
como os países em desenvolvimento devem trabalhar para o
aprimoramento do setor. A Espanha recebeu, em 2003, 52 milhões
de turistas estrangeiros [é o segundo maior receptivo mundial,
depois da França] e esse fórum foi
bastante interessante, tocou muito no aspecto da desburocratização, das oportunidades e das
ameaças vivenciadas pelo setor,
bem como no que países mais desenvolvidos podem fazer para
ajudar países em desenvolvimento a crescer."
MAIOR X MELHOR -"Como secretário-geral de Turismo espanhol,
diria que a melhor política é não
olhar apenas o número de turistas
mas também verificar quantas
noites eles permanecem no países
que visitam. Que atividades essas
pessoas desenvolvem e o que fazer para melhorá-las são questões
importantes. Na Espanha, o segmento chamado de "sol e praia"
atrai visitantes que ali se hospedam, em média, entre seis e nove
noites. Já o turismo de cidades,
que é mais cultural e mais comercial, fixa o viajante entre três e cinco noites. E é isso que precisamos
incrementar, alargando as oportunidades para esses turistas, desenvolvendo atividades complementares."
QUALIDADE - "Cultura, temas ligados à saúde, por exemplo, fitness, turismo esportivo como cicloturismo, concertos e exposições precisam ser incentivados e
divulgados -e a Espanha deve
caminhar nessa direção. Sem renunciar à quantidade, o desafio é,
sempre, melhorar a qualidade dos
serviços turísticos."
CIDADES - "Madri segue sendo o
maior destino turístico e a porta
de entrada para a Espanha, mas é
preciso levar em conta que entre
65% e 70% dos visitantes vêm à
capital do país tendo os negócios
como motivo principal. Isso quer
dizer que devemos desenvolver o
turismo de lazer na cidade, o turismo de ócio, de tempo livre. Já
em Barcelona ocorre o inverso.
Mas temos outras grandes cidades -Sevilha, Granada, Bilbao,
Valência, Salamanca, Toledo,
Cuenca, Málaga, para mencionar
apenas algumas- que devemos
promover, mostrar ao mundo."
SEGURANÇA - "O golpe terrível
do terrorismo, que humanamente nos comove e que golpeou Madri, não nos impede de afirmar
que a Espanha é hoje um país absolutamente seguro. Naturalmente, como qualquer país do mundo, estamos encarando o problema: o desafio é impedir que personagens loucos possam desenvolver ações desse tipo. Depois
dos atentados em Madri, redobramos nosso empenho em segurança e crescemos 16% em número de visitantes no momento seguinte."
TURISMO DE UM DIA - "Há ainda
aquele turista que chega de navio,
passa pouco tempo passeando,
mas que merece ser enfocado.
Desde 1997, Barcelona é o primeiro porto de cruzeiros em todo o
Mediterrâneo, na frente de Marselha, Gênova, Veneza e Atenas. O
desafio é fazer com que os turistas
que acabam suas viagens nesses
portos fiquem dois ou três dias ali,
descansando, complementando
sua viagem, visitando arredores."
ORIGENS - "Nasci na Província
de León, na Galícia, mas adotei
Barcelona de tal modo que me
considero catalão. Vivi toda a minha vida nessa cidade, fiz história
e estudei na Escola de Alta Direção de Empresas (Esade). Na minha vida profissional, também fui
diretor da Rede de Trens de Espanha (Renfe) e do turismo de Barcelona, onde fui vice-prefeito
também entre 1982 e 1988, quando a cidade se candidatou a ser sede dos Jogos Olímpicos, o que
ocorreu em 1992."
BARCELONA - "O trabalho de
transformar Barcelona em sede
de uma Olimpíada foi de longo
prazo - desenvolvemos o plano
de infra-estrutura da cidade, que
nos custou dez anos. Se não fosse
esse desafio, o mesmo trabalho
iria durar, digamos, 50 anos. Foi
um salto de qualidade calcado
num desafio e também em dotar a
cidade de uma melhor oferta de
serviços turísticos."
DESAFIO - "Trabalhamos para
mostrar nos outros países que há
na Espanha uma enorme quantidade de produtos turísticos de
qualidade -e o Centro Oficial de
Turismo Espanhol aqui em São
Paulo explora essa linha. Diversos
pontos de vista são levados em
conta quando alguém escolhe um
país para visitar: o cultural, o de
negócios e feiras e mesmo o comercial. Queremos mostrar que o
comércio de cidades como Madri
e Barcelona não fica devendo ao
de nenhuma outra grande metrópole européia -e que temos preços mais baixos."
GASTRONOMIA - "Vemos ainda
que as artes da culinária têm atraído um número crescente de viajantes, pois grandes chefs espanhóis estão descobrindo formas
diferentes de cozinhar, abrindo
caminhos na gastronomia. Também a hotelaria se desenvolve, se
renova, busca a excelência dos
serviços."
MUSEUS - "Ouso sempre dizer
que a mais bela das pinacotecas é
o museu do Prado, de Madri, mas
naturalmente a Espanha tem museus novos e revolucionários. Há
a fundação Miró e o museu Picasso de Barcelona, que são notáveis,
mas agora, em Málaga, onde Pablo Picasso nasceu, também existe um acervo consagrado à obra
desse grande artista. Naturalmente há grandes museus em Cuenca
e Valência e ainda o Guggenheim
de Bilbao -para mencionar apenas algumas instituições de primeira linha."
EURO FORTE - "Perdoe-me a expressão, que é algo crua e muito
espanhola, mas "o que algo vale algo custa". O euro está valorizado,
mas achamos que, embora os preços pareçam altos na Espanha,
praticamos no país valores mais
baixos que outros países que têm
menor oferta cultural e serviços
piores -mas, apontá-los, seria
rude de minha parte."
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