São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2006

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TURQUIA DUAL

Em Santa Sofia, símbolo cristão e islâmico coexistem

Basílica de cúpulas imensas e minaretes reúne afrescos e mosaicos bizantinos e imagens sagradas

DA ENVIADA A ISTAMBUL

Olhando para cima na imensa nave central da basílica de Santa Sofia, símbolos islâmicos e cristãos surgem lado a lado. Construída no século 6º pelo imperador romano Justiniano, convertida em mesquita em 1453 pelo sultão otomano Mehmet, o Conquistador, e transformada em museu em 1935 por Atatürk, o líder que fez da Turquia o Estado laico que é hoje, a basílica resume a história turca.
Talvez em parte por isso -e certamente em parte por sua escala gigantesca e sua arquitetura interior deslumbrante- é o monumento mais conhecido de Istambul.
Curioso é que, para quem a vê de fora, a construção encravada na área mais movimentada de Sultahnamet (bem de frente para a mesquita Azul, erguida ali para lhe fazer concorrência) não dê idéia da maravilha que é seu interior. Os tijolos aparentes, as cúpulas imensas -mas de linhas simples e tons terrosos-, as árvores que ocultam parte da fachada e os minaretes tão estranhamente acrescentados ao prédio quando de sua conversão para mesquita não preparam o visitante para o que está por vir.
Não é necessário mais do que cruzar a porta, no entanto, para perceber que se está diante de um dos mais bonitos trabalhos humanos. Afrescos e mosaicos bizantinos cobertos de ouro logo no corredor de entrada retratam santos e imperadores num convívio surreal. Diferentemente do que ocorreu nas igrejas da Capadócia, boa parte desses retratos passou intacta -ou quase- pelo Período Iconoclasta, entre os séculos 8º e 9º, quando os imperadores bizantinos ordenaram a destruição de obras que representassem a figura humana por considerá-la ofensiva a Deus.
Dos muçulmanos, ficaram os imensos medalhões caligráficos que adornam as paredes, bem como detalhes de azulejaria de Iznik. São eles que decoram o mausoléu de Selim 2º, situado em um dos nichos do lado direito da nave.
Os imensos arcos e colunas que delineiam os limites da nave e dão forma à luz fluída que invade o espaço a partir do alto pelas dezenas de janelas trazem ao visitante a sensação de encolher ante algo tão grandioso. Pena que os andaimes do trabalho de restauração recubra pilares e parte da cúpula central, escondendo uma parcela do belo trabalho de mármore em tons de verde e cinza.
Ao sair da basílica, aproveite para conhecer suas cisternas. Construída por Justiniano em 532 d. C., a câmara usada como reservatório de água esconde mais de 300 colunas ornamentadas de 8 m de altura e dois imensos monumentos representando cabeças de Medusa.
Só um terço do espaço original é aberto ao público -que anda por passarelas entre piscinas semivazias forradas de moedas deixadas por quem deseja voltar. Mas a luz e a simetria únicas já fazem da visita extraordinária. (LUCIANA COELHO)


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