Entre as iguarias reveladas em livro consta até uma que pede, como ingrediente, uma cauda de jacaré

DA ENVIADA ESPECIAL A MACEIÓ

Tudo para elas acaba na cozinha. Tem festa de aniversário? Visitinha rápida? Batizado? Dia santo? Casamento? "Pronto", dizem em coro, com aquele característico sotaque alagoano: tudo é motivo para um almoço ou jantar na casa de uma das mulheres conhecidas em Maceió como as irmãs Rocha. Elas são quatro: Jacy, 85, Maria, 77, Yeda, 76, e Maria, a caçula, de 74 anos. Mas eram seis. Duas morreram. "Uma pena: bem elas, as melhores quituteiras entre nós", lamenta Yeda, mostrando que até quando o assunto é triste elas dão um jeito de falar em comida.
As irmãs ficaram famosas na cidade por suas receitas, típicas da região e passadas de geração para geração. Veio dos amigos, que queriam repetir a experiência de provar seus pratos tradicionais, a sugestão de que abrissem um restaurante. E foi o que aconteceu, há três anos, pelas mãos de Tatália, filha de Jacyra, e Cecília, filha de Bartyra. "Percebemos que a tradição ia se perder se não fizéssemos alguma coisa", conta Yeda O restaurante fica sob o comando das sobrinhas. Mas isso não quer dizer que as irmãs baixam a guarda. É delas o controle de qualidade dos pratos, que são avaliados um a um, com certa freqüência.
O ambiente lembra uma casa de fazenda. O atendimento é atencioso, mas tende a dar dicas mais palatáveis ao turista com "cara" de que é de fora. Não caia nessa e peça os típicos da culinária, como a entrada Delícias do Mar (R$ 42), que serve até três pessoas, e o Camarão de Cueca (R$ 40; veja receita abaixo). O sururu também figura entre os mais famosos, mas, antes de pedi-lo, siga a dica das irmãs: ele só está bom mesmo quando é lua cheia. Para levar os segredinhos das irmãs para casa é possível comprar no próprio restaurante o livro "Delícias da Cozinha Alagoana - As Melhores Receitas das Irmãs Rocha" (R$ 25), em sua terceira edição.
Entre as delícias está a que pede entre os ingrediente uma cauda de jacaré. A receita alerta: a venda da iguaria, antes comprada nas feiras de Penedo e Piaçabuçu, agora é proibida. Seguir passo a passo as instruções como manda o figurino, elas garantem, resultará no mesmo sabor dos pratos servidos no restaurante. "Com a gente não tem "pulo do gato". Se guardarmos os segredos sobre nossa comida só para nós, quando não estivermos mais aqui eles vão sumir, sufocados por pizzas, congelados e hambúrgueres", acredita Yeda. (PRISCILA PASTRE-ROSSI)