São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2008

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NO SUL DA AMÉRICA

Argentina, Ushuaia dista 3.040 km de Buenos Aires

Paisagem nevada e música erudita levam turistas ao "fim do mundo", título incorporado por essa cidade

Travel Bug/Shutterstock
Ushuaia vista a partir do canal de Beagle

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A USHUAIA

A expressão "fim do mundo" parece pejorativa, mas a cidade argentina de Ushuaia a incorporou por acreditar que poderia torná-la exótica e descrever sua localização. Com 60 mil habitantes e capital da Província da Terra do Fogo, dista 3.040 km ao sul de Buenos Aires e, excetuado um povoado de 100 pescadores, é o ponto de presença humana mais ao sul antes da Antártica.
Local para quem gosta de frio suportável -a temperatura raramente cai abaixo de zero-, de esquiar ou ver os picos nevados na extremidade sul dos Andes ou na cordilheira Darwin, em território chileno. E, de quatro anos para cá, Ushuaia abriga um festival de música erudita em meados de abril.
A Argentina continental acaba no estreito de Magalhães, primeiro ponto de contato marítimo entre o Atlântico e o Pacífico. Ainda não é lá. É preciso descer pela ilha da Terra do Fogo, de 400 km de comprimento e um pouco menos de largura. Ao sul da ilha há o canal de Beagle, denominado em alusão ao navio britânico que, em 1833, levou à região o naturalista Charles Darwin (1809-1882).
Pois o canal de 230 km, e que tem o Chile de um lado e a Argentina do outro, é o segundo ponto de passagem entre os dois oceanos: lá fica Ushuaia.
Um pouco mais ao sul está o cabo Horn, em verdade o preferido para a passagem de embarcações que, assim, economizam o pagamento de práticos argentinos e chilenos. Mas Ushuaia é escala de reabastecimento ou ponto de partida para navios que rumam à Antártica. São, sobretudo no verão do hemisfério Sul, 300 aportamentos.
A região era habitada já há 6.000 anos por ancestrais dos iamanás, etnia de caçadores e pescadores que andava nua como os ameríndios de terras quentes. Aqueciam-se com uma camada de óleo de leão-marinho aplicada na pele. Foram exterminados por sarampo, pneumonia e tuberculose, quando os europeus os obrigaram a se vestir "decentemente" e eles, acostumados a entrar na água, não tinham como manter o corpo seco e aquecido.
Eram 6.000 quando contatados por britânicos, em 1827. Em 1950 restavam 63. Hoje sobrevive só uma anciã, legítima indígena de pai e mãe. Mas em Ushuaia há centenas de pessoas de pele amarronzada e olhos puxados pela mestiçagem. Os britânicos gostam dali.
Aliás, Ushuaia é a "capital" das ilhas Malvinas -em verdade possessão de Londres, que a ditadura militar argentina tentou retomar à força, em 1982, e acabou lamentavelmente derrotada. Mas os britânicos nunca contestaram a supremacia argentina naquele canto da Terra do Fogo. Tanto que uma missão anglicana ali montada se conformou com a chegada de um grupo enviado, em 1884, por Buenos Aires.


O jornalista JOÃO BATISTA NATALI viajou a convite do Festival Internacional de Ushuaia


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