São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cultivo de uvas na região da Toscana remete aos etruscos no século 6º a.C

DO ENVIADO ESPECIAL À ITÁLIA

Com algum desdém pelo Novo Mundo, os produtores tradicionais de vinhos do Velho Continente costumam dizer que "o futuro a todos pertence; já o passado, esse é só de algumas localidades produtoras."
E, entre as regiões vitivinícolas italianas que realmente fizeram história, está a Toscana, epicentro do Renascimento, mas cuja agricultura remete aos etruscos, exímios vinhateiros já no século 6º a.C.
Dos tempos passados, a Toscana herdou a uva sangiovese, que faz desde chiantis, que podem ser vinhos mais simples ou mais clássicos -igualmente saborosos-, até os novos supertoscanos, tintos de qualidade -e preços- superiores.
Os antigos chiantis, marcados com etiquetas com a silhueta de um galo negro ou com um cesto de palha ao redor da garrafa bojuda, logo vêm à mente quando se fala de vinho tradicional toscano.
Mas hoje, num panorama onde as exportações são a tônica no mundo globalizado, há casas como a Cecchi, de 1893, que, em 90 hectares, cultiva em larga escala a cepa sangiovese utilizando tecnologia moderna em locais como Val'delle Rose.
Ali, perto de Siena, numa altitude que varia de 90 m a 110m, os vinhedos empregam colheitadeiras e irrigação por gotejamento, novidades que não são permitidas em toda a Itália.
Nesse país, aliás, as normas relativas à produção de vinhos variam bastante. Nessa região DOCG (cujos vinhos têm denominação de origem controlada e garantida, teoricamente mais importante do que as zonas classificadas com DOC), os produtores colhem 9 toneladas de uvas sangiovese por hectare.
Antes, as normas davam menos atenção à qualidade dos cachos e permitiam produzir 12 toneladas por hectare.
Além de limites dessa ordem, que forçam a seleção dos frutos, as casas produtoras lutam por uma maturação mais esmerada das uvas e submetem seus vinhos a minuciosas análises químicas e bacteriológicas.
O resultado é uma linha de vinhos como o morellino di Scanssano, um DOCG exportado para 53 países. Produzido com 95% de uvas sangiovese, esse tinto estagia em barris de carvalho franceses.
Para acompanhar vinhos assim, o ideal é um queijo cremoso pouco curado que chamam de cacciotta, embutidos semelhantes ao salame (sopressata) ou até fatias de presunto cru.
Além desses vinhos tradicionais toscanos, há novos tintos, caso do Teuzzo, que alude a um senhor que vivia em Villa Cerna, hoje da família Cecchi, por volta do ano 1000. Esses vinhos custam um pouco menos do que o chianti clássico reserva, usam até 90% de uva spargolo, uma variedade da sangiovese, mas na sua produção há até 10% de cabernet sauvignon, alcançando resultados que, garantem os enólogos, dá uma interpretação mais moderna aos tintos da região.

Sem passar em branco
Outra uva autóctone, cultivada tanto nessa região da Toscana como no norte da Ligúria, a vernaccia resulta em vinhos brancos como o vernaccia de San Gimignano.
Um livro escrito no final dos anos 1700 por um pároco célebre chamado Ignacio Malenotti, "Il Propriettario Contadino", é um manual cujo título em tradução livre seria "o proprietário-camponês" -e já anota a preferência regional pelos brancos. Assim, os arredores da cidade de San Gimignano são uma das poucas áreas da Toscana que se dedicam exclusivamente ao plantio dessas uvas brancas. (SILVIO CIOFFI)


Texto Anterior: Evoé, Baco!: Use a internet para preparar a viagem
Próximo Texto: Os "vinhos de garagem" ganham seu lugar ao sol
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.