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Cultivo de uvas na região da Toscana remete aos etruscos no século 6º a.C
DO ENVIADO ESPECIAL À ITÁLIA
Com algum desdém pelo Novo Mundo, os produtores tradicionais de vinhos do Velho
Continente costumam dizer
que "o futuro a todos pertence;
já o passado, esse é só de algumas localidades produtoras."
E, entre as regiões vitivinícolas italianas que realmente fizeram história, está a Toscana,
epicentro do Renascimento,
mas cuja agricultura remete
aos etruscos, exímios vinhateiros já no século 6º a.C.
Dos tempos passados, a Toscana herdou a uva sangiovese,
que faz desde chiantis, que podem ser vinhos mais simples ou
mais clássicos -igualmente saborosos-, até os novos supertoscanos, tintos de qualidade
-e preços- superiores.
Os antigos chiantis, marcados com etiquetas com a silhueta de um galo negro ou com
um cesto de palha ao redor da
garrafa bojuda, logo vêm à
mente quando se fala de vinho
tradicional toscano.
Mas hoje, num panorama onde as exportações são a tônica
no mundo globalizado, há casas
como a Cecchi, de 1893, que, em
90 hectares, cultiva em larga
escala a cepa sangiovese utilizando tecnologia moderna em
locais como Val'delle Rose.
Ali, perto de Siena, numa altitude que varia de 90 m a 110m,
os vinhedos empregam colheitadeiras e irrigação por gotejamento, novidades que não são
permitidas em toda a Itália.
Nesse país, aliás, as normas
relativas à produção de vinhos
variam bastante. Nessa região
DOCG (cujos vinhos têm denominação de origem controlada
e garantida, teoricamente mais
importante do que as zonas
classificadas com DOC), os produtores colhem 9 toneladas de
uvas sangiovese por hectare.
Antes, as normas davam menos atenção à qualidade dos cachos e permitiam produzir 12
toneladas por hectare.
Além de limites dessa ordem,
que forçam a seleção dos frutos,
as casas produtoras lutam por
uma maturação mais esmerada
das uvas e submetem seus vinhos a minuciosas análises químicas e bacteriológicas.
O resultado é uma linha de
vinhos como o morellino di
Scanssano, um DOCG exportado para 53 países. Produzido
com 95% de uvas sangiovese,
esse tinto estagia em barris de
carvalho franceses.
Para acompanhar vinhos assim, o ideal é um queijo cremoso pouco curado que chamam
de cacciotta, embutidos semelhantes ao salame (sopressata)
ou até fatias de presunto cru.
Além desses vinhos tradicionais toscanos, há novos tintos,
caso do Teuzzo, que alude a um
senhor que vivia em Villa Cerna, hoje da família Cecchi, por
volta do ano 1000. Esses vinhos
custam um pouco menos do
que o chianti clássico reserva,
usam até 90% de uva spargolo,
uma variedade da sangiovese,
mas na sua produção há até
10% de cabernet sauvignon, alcançando resultados que, garantem os enólogos, dá uma interpretação mais moderna aos
tintos da região.
Sem passar em branco
Outra uva autóctone, cultivada tanto nessa região da Toscana como no norte da Ligúria, a
vernaccia resulta em vinhos
brancos como o vernaccia de
San Gimignano.
Um livro escrito no final dos
anos 1700 por um pároco célebre chamado Ignacio Malenotti, "Il Propriettario Contadino",
é um manual cujo título em tradução livre seria "o proprietário-camponês" -e já anota a
preferência regional pelos
brancos. Assim, os arredores da
cidade de San Gimignano são
uma das poucas áreas da Toscana que se dedicam exclusivamente ao plantio dessas uvas
brancas.
(SILVIO CIOFFI)
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