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DA SAVANA AO JARDIM
Intempéries acompanham ida ao cabo da Boa Esperança, chamado de Tormentas por Bartolomeu Dias
Geografia norteia passeio na Cidade do Cabo
DO ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL
Cidade do Cabo, Capetown,
Kaapstad. Três nomes e sotaques
para o mesmo lugar, com a diferença de que cada um deles representa um momento pelo qual passou essa região, inicialmente habitada pelos nativos khoikhoi.
Os nomes, que significam a
mesma coisa, têm sua origem em
um acidente geográfico: o cabo da
Boa Esperança, que, inicialmente,
foi chamado de cabo das Tormentas pelo navegador português
Bartolomeu Dias, primeiro europeu a circundá-lo, em 1488.
Porém a denominação mudou
por causa das boas perspectivas
de chegar às Índias.
É fácil entender o porquê da
qualificação de Tormentas e por
que Camões dedicou mais de 20
estrofes do canto 5º de "Os Lusíadas" amedrontando os navegadores portugueses que tentavam
passar pelo cabo, encarnado pela
figura do Gigante Adamastor.
Exatamente no cabo da Boa Esperança se juntam as correntes de
Agulha, com suas águas quentes
que vêm do oriente pelo oceano
Índico, e a Benguela, gelada, do
ocidental Atlântico. Os dois oceanos, entretanto, se encontram só
no cabo das Agulhas, algumas dezenas de quilômetros a leste.
O vento e a força das águas no
cabo das Tormentas podem ser
vistos hoje nesse parque nacional
de 7.750 hectares com praias maravilhosas, em meio a altas montanhas e com vegetação de fynbos
(formada majoritariamente de arbustos resistentes à falta de água,
adaptados ao fogo e que sobrevivem em solo infértil), que é única
no mundo.
O cabo da Boa Esperança não é
tão próximo do centro da cidade,
que fica a cerca de uma hora e
meia de distância. O ideal é reservar pelo menos uma manhã para
ir ao local, que fica na ponta de
uma longa península.
A viagem de ida é feita pela costa ocidental. Antes de entrar na
península, saindo do centro, o turista passa pelas zonas de praia
mais badaladas da Cidade do Cabo, a Camps Bay e a Clifton Bay,
com calçadões, cafés, bares e, nos
verões, muita gente na praia e
pouca no mar, já que nem nos
meses quentes a água atinge temperaturas acima dos 20C.
Para observar o cabo da Boa Esperança, é preciso subir uma
montanha, conhecida como Cape
Point, por um bondinho ou por
uma escadaria durante dez minutos. Venta muito no alto, e chega a
ser difícil segurar com firmeza a
câmera para tirar fotos. No pé da
montanha, há um restaurante. E,
se quiser, o turista pode descer até
o cabo da Boa Esperança.
O retorno é feito pela False Bay,
ou baía Falsa. O nome é uma alusão a antigos navegadores que ancoravam seus barcos na baía errada; a certa seria a baía do Cabo.
Essa área é procurada para a prática do surfe e para os banhos de
mar, já que as águas são da corrente das Agulhas, mais quentes.
A entrada na cidade se dá pelo
outro lado da Table Mountain,
símbolo da Cidade do Cabo. Trata-se de um dos acidentes geográficos mais belos do mundo. Uma
montanha de mais de mil metros
de altura, plana no alto, que parece uma mesa. Nos dias nublados,
uma camada de nuvens cobre o
topo, em um fenômeno da natureza apelidado de Table Towel
(toalha de mesa).
Outro atrativo da região são as
antigas vinícolas fundadas pelos
holandeses, daí o nome Kaapstad.
A holandesa Companhia das Índias Orientais estabeleceu no século 16 uma base onde hoje é a cidade. Casas coloniais brancas
marcam essa presença.
Próximo das vinícolas, está o
jardim botânico Kirstenbosch,
em uma área doada pelo magnata
dos diamantes Cecil Rhodes em
1895. Hoje mais de 9.000 espécies
de plantas da África do Sul são
conservadas no local.
O centro da Cidade do Cabo
tem como principal atração o
bairro malaio. Os habitantes dali
vivem em charmosas casas coloridas e são descendentes dos escravos trazidos da Ásia pelos holandeses nos séculos 16, 17 e 18. A escravidão na África do Sul foi abolida no início do século 19.
Já os britânicos ocuparam a Cidade do Cabo em 1806. Em 1828,
muitos africâners descendentes
dos holandeses da região, descontentes com os britânicos, deram
início à Grande Marcha, desbravando o interior da África do Sul.
A parte turística da Cidade do
Cabo fica no Victoria & Alfred
(não Albert, como muitos acham)
Waterfront. É uma espécie de
Puerto Madero, de Buenos Aires,
Docas de Alcântara, de Lisboa, ou
Dragão do Mar, de Fortaleza, com
restaurantes, shoppings e hotéis,
entre eles o tradicional Cape Grace e o moderno Table Bay.
De lá, partem passeios para a
Robben Island, onde Nelson
Mandela e outros líderes do CNA
ficaram presos por décadas, durante a época em que a Cidade do
Cabo ainda era um dos destinos
mais politicamente incorretos do
mundo. Graças à luta das pessoas
que estavam na Robben Island,
hoje essa cidade divide com Rio
de Janeiro, San Francisco (EUA) e
Sydney (Austrália) o posto de
uma das metrópoles à beira-mar
mais belas de todo o mundo.
(GUSTAVO CHACRA)
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