|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DA SAVANA AO JARDIM
Na Província de KwaZulu-Natal, os dois povos convivem em mercados, cassinos, shoppings e praias
Durban mistura "DNA" zulu e indiano
DO ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL
O nome da Província onde fica
Durban, KwaZulu-Natal, explica
em parte o DNA da cidade no
norte da costa do Índico sul-africano, perto de Moçambique. O
nome Natal foi dado quando Vasco da Gama ancorou, em 1497,
suas naus na baía onde hoje fica a
cidade, no caminho para as Índias, e de onde vieram, quatro séculos mais tarde, no domínio britânico, dezenas de milhares de
trabalhadores, entre eles Ghandi.
O nome de Província Natal persistiu até o fim do apartheid, em
1994. Desde então, KwaZulu foi
incorporado à denominação, em
homenagem à população zulu,
que é a maioria na região.
A uma hora e meia de vôo de Johannesburgo, Durban é até hoje
marcada por ser a maior cidade
indiana fora da Índia, com cerca
de 1 milhão de indianos, entre
hindus e muçulmanos.
O Mercado Vitória é uma das
atrações mais conhecidas da "Índia sul-africana", com lojas que
vendem produtos indianos. Hoje,
o mercado tornou-se muito turístico e perdeu um pouco o seu caráter nativo, a não ser pelos vendedores e proprietários de loja.
Do lado de fora do Mercado Vitória, se localiza, subindo por viadutos e ocupando calçadas, um
imenso comércio de remédios naturais, no qual os vendedores são
em sua maioria zulus, e a freqüência também é quase que inteiramente de negros e de alguns indianos. A reportagem da Folha
não viu nenhum branco durante a
sua visita ao local, a não ser grupos isolados de turistas acompanhados de guias negros. O local é
seguro, e, em nenhum momento,
o turista se sente ameaçado por
algum tipo de tensão racial.
Vende-se de tudo, até remédio
para o HIV. Há cabeças de bichos
mortos, xaropes e tudo o que se
possa imaginar para auxiliar na
cura de doenças. Até um curioso
preservativo zulu é vendido, mas
mais na forma de suvenir do que
de camisinha de fato.
Os indianos também marcam a
paisagem à beira-mar, com vendedoras na calçadas, dividindo
espaço com algumas senhoras zulus. Famílias de indianos caminham sempre de calças, camisas e
vestidos. Quase não há indianos
de bermudas ou de roupas de banho no calçadão ou na praia. Outra marca indiana são os riquixás
que transportam turistas.
A divisão racial é bem visível na
Golden Mile, onde está a maioria
dos hotéis e restaurantes de Durban. Apesar do nome, a avenida
tem cerca de 6 km de extensão.
Os negros ficam na praia tomando sol e usam mais as piscinas públicas para se banharem.
Essas piscinas são abertas a qualquer pessoa que esteja por ali.
Não há cerca, exame médico, nada. Basta mergulhar na água.
Já os brancos são os reis dos mares. Assim como em Jeffrey's Bay,
só eles surfam em Durban. A
maioria se concentra bem no centro da cidade, em meio a dois píeres, onde a formação das ondas é
perfeita. O local é palco de uma
etapa do circuito mundial de surfe. E há desde crianças de sete
anos a sexagenários surfando.
Um dos poucos locais onde se
podem ver as raças um pouco
mais integradas é o cassino de
Durban. Trata-se de uma mistura
de shopping center com cassino.
Na praça de alimentação, lotada,
há restaurantes de todos os tipos.
Indianos, negros e brancos dividem as mesas sem problemas.
Além do mercado, do cassino e
da praia, outro local obrigatório
em Durban é o aquário, construído em um antigo navio no centro.
Há diversas espécies de tubarão,
entre eles o branco, que tanto assusta os turistas. Há, nas praias,
um esquema de segurança com
redes para impedir ataques.
Quem quiser aproveitar melhor
as praias da região pode alugar
um carro e seguir para Durban
North, área mais rica com praias
menos movimentadas.
Nas proximidades de Durban
existem vilas zulus. Porém tome
cuidado para não visitar uma do
tipo "pega-turista", na qual um
show bem artificial tenta mostrar
como é a vida dos zulus. Tente visitar uma vila real, ainda que essa
tenha se modernizado um pouco.
Essas vilas se localizam no vale
das Mil Colinas. Um pouco mais
distante, está a cordilheira de Drakensberg, com suas montanhas
nevadas ao longo de quase todo o
ano.
(GUSTAVO CHACRA)
Texto Anterior: Da savana ao jardim: Surfistas radicalizam atmosfera de Jeffrey's Bay Próximo Texto: Pacifismo de Gandhi começou na África do Sul Índice
|