São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2005

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DA SAVANA AO JARDIM

Na Província de KwaZulu-Natal, os dois povos convivem em mercados, cassinos, shoppings e praias

Durban mistura "DNA" zulu e indiano

DO ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL

O nome da Província onde fica Durban, KwaZulu-Natal, explica em parte o DNA da cidade no norte da costa do Índico sul-africano, perto de Moçambique. O nome Natal foi dado quando Vasco da Gama ancorou, em 1497, suas naus na baía onde hoje fica a cidade, no caminho para as Índias, e de onde vieram, quatro séculos mais tarde, no domínio britânico, dezenas de milhares de trabalhadores, entre eles Ghandi.
O nome de Província Natal persistiu até o fim do apartheid, em 1994. Desde então, KwaZulu foi incorporado à denominação, em homenagem à população zulu, que é a maioria na região.
A uma hora e meia de vôo de Johannesburgo, Durban é até hoje marcada por ser a maior cidade indiana fora da Índia, com cerca de 1 milhão de indianos, entre hindus e muçulmanos.
O Mercado Vitória é uma das atrações mais conhecidas da "Índia sul-africana", com lojas que vendem produtos indianos. Hoje, o mercado tornou-se muito turístico e perdeu um pouco o seu caráter nativo, a não ser pelos vendedores e proprietários de loja.
Do lado de fora do Mercado Vitória, se localiza, subindo por viadutos e ocupando calçadas, um imenso comércio de remédios naturais, no qual os vendedores são em sua maioria zulus, e a freqüência também é quase que inteiramente de negros e de alguns indianos. A reportagem da Folha não viu nenhum branco durante a sua visita ao local, a não ser grupos isolados de turistas acompanhados de guias negros. O local é seguro, e, em nenhum momento, o turista se sente ameaçado por algum tipo de tensão racial.
Vende-se de tudo, até remédio para o HIV. Há cabeças de bichos mortos, xaropes e tudo o que se possa imaginar para auxiliar na cura de doenças. Até um curioso preservativo zulu é vendido, mas mais na forma de suvenir do que de camisinha de fato.
Os indianos também marcam a paisagem à beira-mar, com vendedoras na calçadas, dividindo espaço com algumas senhoras zulus. Famílias de indianos caminham sempre de calças, camisas e vestidos. Quase não há indianos de bermudas ou de roupas de banho no calçadão ou na praia. Outra marca indiana são os riquixás que transportam turistas.
A divisão racial é bem visível na Golden Mile, onde está a maioria dos hotéis e restaurantes de Durban. Apesar do nome, a avenida tem cerca de 6 km de extensão.
Os negros ficam na praia tomando sol e usam mais as piscinas públicas para se banharem. Essas piscinas são abertas a qualquer pessoa que esteja por ali. Não há cerca, exame médico, nada. Basta mergulhar na água.
Já os brancos são os reis dos mares. Assim como em Jeffrey's Bay, só eles surfam em Durban. A maioria se concentra bem no centro da cidade, em meio a dois píeres, onde a formação das ondas é perfeita. O local é palco de uma etapa do circuito mundial de surfe. E há desde crianças de sete anos a sexagenários surfando.
Um dos poucos locais onde se podem ver as raças um pouco mais integradas é o cassino de Durban. Trata-se de uma mistura de shopping center com cassino. Na praça de alimentação, lotada, há restaurantes de todos os tipos. Indianos, negros e brancos dividem as mesas sem problemas.
Além do mercado, do cassino e da praia, outro local obrigatório em Durban é o aquário, construído em um antigo navio no centro. Há diversas espécies de tubarão, entre eles o branco, que tanto assusta os turistas. Há, nas praias, um esquema de segurança com redes para impedir ataques.
Quem quiser aproveitar melhor as praias da região pode alugar um carro e seguir para Durban North, área mais rica com praias menos movimentadas.
Nas proximidades de Durban existem vilas zulus. Porém tome cuidado para não visitar uma do tipo "pega-turista", na qual um show bem artificial tenta mostrar como é a vida dos zulus. Tente visitar uma vila real, ainda que essa tenha se modernizado um pouco. Essas vilas se localizam no vale das Mil Colinas. Um pouco mais distante, está a cordilheira de Drakensberg, com suas montanhas nevadas ao longo de quase todo o ano. (GUSTAVO CHACRA)


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