São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2005

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SOBRE RODAS

Enquanto países do exterior buscam sistemas que possam integrar informações e prever acidentes, Brasil ainda instala câmeras, telefones e pedágios

Rodovias brasileiras estão longe da "inteligência"

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nada mal se, às vésperas de um feriado prolongado, você pudesse rumar para a praia sem se preocupar com congestionamentos e dinheiro para o pedágio. Na verdade, nem no volante seria necessário tocar. O carro se autodirigiria, escolhendo a melhor rota para a viagem, com a ajuda das informações enviadas para o seu celular pela administradora da rodovia.
Essas rodovias inteligentes não serão visíveis nesta década, em nenhum lugar do mundo, mas seus elementos básicos começam a despontar, até mesmo no Brasil.
Um dos mais comuns é o monitoramento das vias por câmeras. A SP-123, que dá acesso a Campos do Jordão, acaba de receber mais duas, em virtude do começo da temporada turística na região serrana. Contudo, o par de câmeras se junta à solitária máquina que até então guardava toda a estrada.
Essa escassez não é exclusiva da SP-123: em 18 mil quilômetros de rodovias geridas pelo Departamento de Estradas de Rodagem de São Paulo, há somente 22 câmeras (as imagens estão disponíveis no site www.der.sp.gov.br). "A meta é ampliar o número para 200, até o final de 2006", informa José Luis Moreira, 52, coordenador de operações do DER-SP.
Já os túneis da pista descendente da rodovia dos Imigrantes, geridos pela concessionária Ecovias, são monitorados em toda a sua extensão e, caso algum acidente seja detectado, o sistema pode baixar cancelas automaticamente, fechando o acesso ao trecho.
Outro item que já se tornou rotineiro ao longo das rodovias é o "call box", que abriga telefones ligados diretamente a centrais de atendimento. As 36 concessionárias em operação no país instalaram, só no ano passado, 425 cabines. Outras disponibilizam linhas telefônicas para ligação gratuita (os chamados 0800), pelas quais os usuários pedem ajuda ou se informam sobre o tráfego.
Sobretudo nas estradas geridas por empresas privadas surgem painéis de mensagem, contadores de tráfego, estações meteorológicas e pedágios eletrônicos (em sua maioria pós-pagos, mas há casos em que o motorista usa um cartão, para o qual compra "créditos", como na BR-40, desenvolvido pela empresa carioca QSi - Qualidade em Sistemas de Informação).
O que falta, então, para as rodovias serem de fato "inteligentes"?
O pulo do gato é "processar informações de forma integrada, buscando dados do passado, associando com os do presente e fazendo ações preventivas", explica Ailton Queiroga, 47, diretor-presidente da Compsis, uma das empresas brasileiras, como a QSi e a paulistana Tesc, que desenvolvem softwares de gerenciamento para cobrança de pedágio e de integração de câmeras e de "call boxes", entre outros.
"É um conceito em implantação no mundo inteiro. Não há nenhum sistema capaz de integrar todas as informações. No Brasil, estamos na fase de instalação de equipamentos e de subsistemas, enquanto que a Europa e os EUA estão à frente na integração dos dados", acrescenta Queiroga.
Além do atraso tecnológico, a falta de uma política governamental que regule o processo pode ser um empecilho para o desenvolvimento das rodovias inteligentes brasileiras.
Os sistemas de cada concessionária podem não ser compatíveis uns com os outros, o que impedirá que os dados de duas rodovias que cheguem à mesma cidade sejam confrontados entre si e com o tráfego daquele município.
Além disso, sem ações governamentais, a iniciativa privada não tem estímulos para produzir tecnologias de integração. "É preciso haver uma política que oriente o investimento. Uma empresa não vai se lançar em um produto se não sabe se ele será de fato utilizado", diz Queiroga. "Infelizmente, algumas concessionárias só se modernizarão se forem obrigadas." (JULIANA DORETTO)


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