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IDAS E VINDAS
Vivo e ruidoso, Benin sintetiza continente
No aeroporto, livreira fala do desafio de ter aberto estabelecimento em meio à alta taxa de analfabetismo
Capital econômica do país, Cotonou tem zumbido de motos e poeira nas ruas, em obras ou sem asfalto
CECÍLIA SCHARLACH
ESPECIAL PARA A FOLHA, NO BENIN
A viagem é feita com escala
em Paris. É de lá que, em dias
intercalados, em vôos da Air
France com duração de seis horas, se chega a Cotonou, a capital econômica do Benin. Porto
Novo é a capital administrativa.
"Nesse pedaço do mundo, as
flores não adornavam as casas,
não alegravam as festas nem
acompanhavam os enterros.
Foram os comerciantes brasileiros e os ex-escravos retornados do outro lado do Atlântico
os primeiros a fazer das flores,
embora com parcimônia e recato, parte de seu cotidiano",
escreve Alberto da Costa e Silva
em "Francisco Félix de Souza,
Mercador de Escravos" (ed.
Nova Fronteira, R$ 29).
No aeroporto, vejo Agnès Adjaho, que conta, entusiasmada,
sobre sua livraria Notre-Dame,
próxima à catedral de Cotonou.
Foi o desafio que ela enfrentou,
num país com altas taxas de
analfabetismo, para que os beninenses não precisassem ir até
Dacar (Senegal) ou Lomé (Togo) para conseguir livros.
Do avião avistam-se lagos, lagoas, lagunas e suas ramificações. A vegetação é rasteira, e
não há árvore quase nenhuma
na chegada a Cotonou. Após o
deserto, as águas cor de garapa
anunciam o vasto golfo do Benin. Distinguem-se na paisagem cinza construções de três
andares.
Em Cotonou, vibra um movimento nervoso nas avenidas.
São os zumbidos de motos, a
poeira de muitas ruas em obras
ou sem pavimentação, as barracas nas calçadas, gente transitando, som de dialetos, vida
ressoando. E as cores e estampas dos trajes dos homens e
mulheres! Parece não haver um
desenho igual ao outro.
Às margens da laguna de Cotonou, o mercado de Dantokpa
é o pulmão econômico da cidade, um universo de cores, especiarias, artesanatos, fetiches,
feitiçarias, alimentos, calçados,
tecidos... Um centro comercial
completo e vivo, ponto de encontro ruidoso, perto do qual as
grandes feiras livres brasileiras
não são nem pálida expressão.
CECÍLIA SCHARLACH é arquiteta, editora e promotora cultural
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