São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2007

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IDAS E VINDAS

Vivo e ruidoso, Benin sintetiza continente

No aeroporto, livreira fala do desafio de ter aberto estabelecimento em meio à alta taxa de analfabetismo

Capital econômica do país, Cotonou tem zumbido de motos e poeira nas ruas, em obras ou sem asfalto

CECÍLIA SCHARLACH
ESPECIAL PARA A FOLHA, NO BENIN

A viagem é feita com escala em Paris. É de lá que, em dias intercalados, em vôos da Air France com duração de seis horas, se chega a Cotonou, a capital econômica do Benin. Porto Novo é a capital administrativa.
"Nesse pedaço do mundo, as flores não adornavam as casas, não alegravam as festas nem acompanhavam os enterros.
Foram os comerciantes brasileiros e os ex-escravos retornados do outro lado do Atlântico os primeiros a fazer das flores, embora com parcimônia e recato, parte de seu cotidiano", escreve Alberto da Costa e Silva em "Francisco Félix de Souza, Mercador de Escravos" (ed. Nova Fronteira, R$ 29).
No aeroporto, vejo Agnès Adjaho, que conta, entusiasmada, sobre sua livraria Notre-Dame, próxima à catedral de Cotonou. Foi o desafio que ela enfrentou, num país com altas taxas de analfabetismo, para que os beninenses não precisassem ir até Dacar (Senegal) ou Lomé (Togo) para conseguir livros. Do avião avistam-se lagos, lagoas, lagunas e suas ramificações. A vegetação é rasteira, e não há árvore quase nenhuma na chegada a Cotonou. Após o deserto, as águas cor de garapa anunciam o vasto golfo do Benin. Distinguem-se na paisagem cinza construções de três andares.
Em Cotonou, vibra um movimento nervoso nas avenidas. São os zumbidos de motos, a poeira de muitas ruas em obras ou sem pavimentação, as barracas nas calçadas, gente transitando, som de dialetos, vida ressoando. E as cores e estampas dos trajes dos homens e mulheres! Parece não haver um desenho igual ao outro. Às margens da laguna de Cotonou, o mercado de Dantokpa é o pulmão econômico da cidade, um universo de cores, especiarias, artesanatos, fetiches, feitiçarias, alimentos, calçados, tecidos... Um centro comercial completo e vivo, ponto de encontro ruidoso, perto do qual as grandes feiras livres brasileiras não são nem pálida expressão.


CECÍLIA SCHARLACH é arquiteta, editora e promotora cultural


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