São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ROMARIA LUSA

Todo ano, 5 milhões de pessoas vão à cidade, onde uma nova basílica deve ser construída a partir de 2003

Fátima emociona até os menos crédulos

Ormuzd Alves/ Folha Imagem
Maria dos Anjos, sobrinha de Lucia, uma das crianças que teriam visto a santa, na casa onde a pastora morava na época das aparições, em Ajustrel


DO ENVIADO ESPECIAL A PORTUGAL

Em 1917, o planeta clamava pelo final da Primeira Guerra Mundial. No dia 13 de maio, Lucia e seus primos Francisco e Jacinta, ainda crianças, pastoreavam um pequeno rebanho de ovelhas em um local conhecido como Cova da Iria, após rezarem um terço, como faziam habitualmente. Enquanto brincavam com algumas pedras, improvisando uma pequena edificação, eles teriam visto uma luz intensa. Pensando tratar-se de um relâmpago, decidiram voltar para casa, mas, de repente, outro relâmpago iluminou o local.
Em cima de uma azinheira -arbusto comum na região-, teriam visto surgir uma "senhora mais brilhante que o sol" com um terço branco na mão.
Anunciando-se como a Senhora do Rosário, ela teria pedido que as crianças rezassem muito e que retornassem ao local todo dia 13 dos meses seguintes. E assim eles fizeram até o dia 13 outubro, data da última aparição. A Virgem só teria mudado as regras em agosto, quando teria aparecido no dia 19 e num local diferente, em Valinhos, perto de Aljustrel, onde os pastorzinhos moravam.
Hoje, cerca de 5 milhões de pessoas visitam Fátima anualmente em busca de um milagre, para pagar uma promessa, em busca de conforto espiritual ou simplesmente como opção turística.
No local da aparição foi feita uma capela -a primeira construção do santuário-, onde permanece uma imagem de Nossa Senhora do Rosário, utilizada nas procissões até a basílica, construída entre 1928 e 1953 em estilo neobarroco, com 15 altares, que representam os 15 mistérios do rosário. A basílica abriga os túmulos de Francisco e de Jacinta Marto.
O movimento começa cedo na cidade, com pessoas chegando em carros particulares, ônibus ou a pé. Em frente à basílica, peregrinos ajoelhados cruzam dois terços do comprimento do pátio até a capelinha das aparições. A romaria continua durante todo o dia. Nos dias 12 e 13 dos meses de maio a outubro, a procissão das velas é tão grandiosa, que até os menos fiéis se emocionam.
Administrada pela diocese Leiria-Fátima, a região tornou-se um dos maiores centros de peregrinação do mundo ocidental.
No ano que vem deve iniciar a construção de uma nova basílica, com capacidade para 17 mil pessoas, contra as 5.000 da atual.
Nos 86.400 m2 do espaço em frente à basílica, em dias de peregrinação, chega a 200 mil o número de fiéis que participam da procissão e da missa rezada em várias línguas. Além da basílica, o peregrino pode visitar vários locais relevantes para a compreensão das aparições em Fátima.
Em Aljustrel, nas casas dos pastorzinhos, conservam-se seus utensílios domésticos e pessoais. No quintal da casa de Lúcia, está o poço onde a Virgem apareceu pela segunda vez, em 1917.
Em Valinhos e Aljustrel pode-se conversar com alguns dos descendentes das três crianças. Eles trabalham como figurantes nas habitações ou em pequenas lojas de artigos religiosos do local.
As vilas foram preservadas graças a um acordo feito entre a prefeitura local e os descendentes dos habitantes originais. A população recebeu novos terrenos próximos às áreas urbanas em Fátima em troca das terras herdadas das famílias dos pastorzinhos.
Fátima é local de silêncio, meditação, oração e peregrinação. No trajeto da via-sacra do Calvário, composto de 14 capelinhas evocativas à Paixão de Cristo, ouvem-se orações em diferentes línguas, do alemão ao latim. (ORMUZD ALVES)


Texto Anterior: Bacalhau protagoniza mesa até na ceia do Natal
Próximo Texto: Museu de cera revela cenas da aparição da santa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.