São Paulo, Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2000


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Navio deixa lixo escapar em alto-mar

da enviada especial

Nas três últimas noites do cruzeiro que o Rhapsody fez para o Nordeste em dezembro, entre os dias 11 e 18, jornalistas e passageiros a bordo do navio viram um rastro de lixo -restos de comida, latas de refrigerante e sacos plásticos- boiando sobre a espuma formada na parte posterior do navio. A cena causou indignação entre os que a viram.
O advogado Henrique Guimarães Silva, 37, do Rio de Janeiro, filmou a cena na madrugada do dia 15 de dezembro e prometeu denunciar o ocorrido. Ele conta que estava na popa do navio quando notou que havia "um monte de lata saindo da traseira do navio", pois elas brilhavam sob a luz das lâmpadas da embarcação.
"Vou denunciá-los como cidadão", disse Silva.
Na madrugada do dia 17, quando o navio rumava de Vitória a Búzios, a mesma cena se repetiu, e foi vista pelo estudante Thiago Rodrigo da Costa Figo, 21, de Campinas (SP). Dizendo sentir "revolta", Thiago acredita que "não custa nada" segurar o lixo um pouco para levá-lo a algum porto.
O comandante do Rhapsody, Giovanni Massa, 50, disse que, se alguém da tripulação estivesse fazendo isso, seria imediatamente demitido. "Conhecemos as leis internacionais", disse.
O Brasil segue as normas estabelecidas pela Convenção Internacional para Prevenção da Poluição por Navios, conhecida como Marpol 73/78, da Organização Marítima Internacional. Há várias regras estabelecidas pela convenção, mas, basicamente, é proibido jogar qualquer tipo de plástico no mar.
O Rhapsody é equipado com máquinas que trituram o lixo orgânico, e o lixo não-orgânico deveria ser despachado nos portos. Neriton Vasconcelos, diretor da Pier 1, que representa a Mediterranean Shipping Cruises (proprietária do Rhapsody) no Brasil, disse que não tem como saber se esse tipo de prática está acontecendo.

Impacto ambiental
O problema de qualquer tipo de lixo no mar são as suas consequências para o meio ambiente. Materiais como metais pesados, por exemplo, entram na cadeia alimentar e podem atingir o próprio homem. "O que é inerte, mas artificial, como plásticos, pode sufocar e matar animais marinhos, incapazes de discernir lixo de comida", alerta Cristina Bonfiglioli, coordenadora de campanhas oceânicas do Greenpeace, que atualmente participa de uma expedição na Antártida. "Além disso, despejos que desobedecem as regulamentações da Marpol podem poluir ou contaminar o litoral, prejudicando a pesca e o turismo, a saúde das pessoas e dos ecossistemas costeiros", completa.
"O navio que descumprir o especificado nessa convenção estará sujeito a sanções regulamentadas por lei federal", afirma o primeiro-tenente Marcos Gomes Corrêa, da Capitania dos Portos de Santos.
Mas as capitanias espalhadas pela costa dependem muito de denúncias para autuar os navios contraventores. É preciso saber o horário, a data e o local por onde a embarcação passava no momento do ocorrido, mas a dificuldade está em comprovar as denúncias. (CKT)


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