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REPÚBLICA GUARANI
Ruínas jesuíticas, artesanato indígena e igrejas do barroco hispano-guarani mostram a outra face do país
Paraguai original está atrás do preconceito
HELOISA LUPINACCI
ENVIADA ESPECIAL AO PARAGUAI
O sol esquenta, a temperatura
atinge 40C, dois homens conversam em guarani. A cena se passa
em uma tribo indígena no interior
do Brasil? Não, estamos na capital
do Paraguai, onde o calor pode
chegar a 48C no verão, e 95% da
população fala espanhol e guarani, língua nativa que é ensinada na
escola, junto do espanhol.
O que se vê além da cena é muito mais do que a imagem típica
que os brasileiros têm do país vizinho: a de uma grande desordem
com muambas e muambeiros
saindo pelo ladrão. O clima pode
até se aproximar disso em Ciudad
del Este, e o contrabando de fato é
um problema no país. Mas há
muito no Paraguai além da cidade
que faz fronteira com o Brasil em
Foz do Iguaçu.
Igrejas do barroco hispano-guarani, fruto da missão jesuíta no
país, que deixou ali ruínas, são o
que há de mais bonito nessas terras vizinhas. E, sozinhas, já valem
a viagem.
Cidades inteiras de imigrantes
ucranianos, russos, alemães e japoneses mantêm seus costumes,
com comidas tradicionais, por
exemplo, mas ao mesmo tempo
adaptam-se ao local. Os moradores falam espanhol com sotaque
alemão ou guarani com acento
ucraniano.
O artesanato herdeiro da habilidade dos índios e dos espanhóis
embaralha os olhos do turista
com fios emaranhados, como no
ñanditu -renda tramada com filamentos coloridos ou brancos
sobre o tecido- e na filigrana
-trabalho de joalheria feito com
fios de ouro ou de prata.
O turismo rural começa a despontar no país, essencialmente
agrário. A capital, Assunção, a segunda mais antiga das Américas,
recebe os visitantes em casarões
do século 18 e em bares na rua.
Um lado
É claro que a realidade do país se
reflete no dia-a-dia do turista. A
pobreza do Paraguai (o país ocupa a 89ª posição pelo Índice de
Desenvolvimento Humano da
ONU, veja no quadro acima) se
faz entrever na multidão de vendedores de cacarecos que abordam o turista com insistência e
até uma dose de desespero.
Do mesmo modo como é difícil
não perder a paciência, é complicado dizer "não" tantas vezes a
crianças manhosas que imploram
a compra de um presente relativo
ao lugar que se acabou de visitar.
O panorama de dificuldades
econômicas -inclusive a escassez de turistas- também se faz
sentir no que diz respeito ao serviço dos hotéis. A reportagem da
Folha ficou hospedada em um
quarto que havia sido pintado um
dia antes do check in e no qual o
chuveiro não funcionava. A água
caía só pela torneira da banheira.
Houve a troca de quarto. A água
quente da nova habitação, entretanto, tinha um tom amarronzado, pouco convidativo.
Em outro hotel, também havia
problemas no banheiro. Dessa
vez, era um cheiro forte e uma coleção de longos fios de cabelo no
chão. Mas nada que um banho gelado e uma camareira cheia de
boa vontade não resolvessem.
Por falar em boa vontade, os
descuidos anteriormente mencionados são quase totalmente compensados pela extrema amabilidade dos atendentes de todos os
lugares. Gentis, os paraguaios fazem questão de demonstrar sua
alegria por receber uma visita.
Um senhor paraguaio, que insistiu não poder dizer seu nome,
pois era vidente e não queria ser
identificado, arrisca indicar, de
certa forma, a imagem que os
nossos vizinhos têm dos brasileiros e de si próprios.
"Vocês no Brasil são muito ricos. Você é rica? Nós somos pobres, bem pobres. Não temos as
belezas naturais do seu país e nem
a riqueza. Mas somos bons, bons
como são os animais e os índios.
Somos puros."
E é como os índios que eles dão
as boas-vindas -até o aeroporto
é trilingüe, com saudações em espanhol, inglês e guarani- : tapeguaheporãiteke.
Heloisa Lupinacci viajou a convite do
Comitê Misto de Promoção Turística do
Paraguai, formado pela TAM Mercosur,
pela Secretaria Nacional de Turismo do
Paraguai, pelo Asunción Convention &
Visitors Bureau (AC&VB), pela Associação
Industrial Hoteleira do Paraguai (AIHPY)
e pela Associação Paraguaia de Agências
de Viagem e de Turismo (Asatur).
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