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Ruínas das Missões reúnem e "catequizam" turistas
DA ENVIADA ESPECIAL
A ruína da "reducción", ou redução, de Santíssima Trinidad del
Paraná, patrimônio histórico da
Unesco, a 400 km de Assunção, é
um exemplo de como eram os povoados jesuítas, onde índios eram
reunidos e catequizados. Também o turista é "catequizado", ou
seja, introduzido ao conhecimento da história das ruínas.
O termo redução é usado para
se referir a um conjunto de prédios formado por casas para índios, casas para sacerdotes, igreja,
escola e praça maior.
Evita-se usar o termo missão
para designar esses lugares. Missão era o conjunto de idéias que
movia os integrantes dessa ordem
-e não o local geográfico.
A redução de Trinidad foi uma
das últimas a serem criadas. Ela
foi fundada em 1706 pelo padre
Juan de Anaya.
Tudo ali foi feito de pedra. Ao
chegar, depara-se com a praça
maior circundada pelas construções que abrigavam os indígenas
tendo, ao fundo, a igreja. Estima-se que ali vivessem 5.000 índios,
submetidos a um horário rígido
ditado pelo dobrar do sino.
Ao percorrer a praça maior rumo à igreja, dá para imaginar como era o cotidiano. Os índios trabalhavam em suas terras durante
quatro dias. Essa produção era
destinada à subsistência da família. Por dois dias, trabalhava-se a
terra comum. O fruto desse cultivo era para alimentar órfãos, viúvas e inválidos. Sobrava um dia na
semana, usado para o descanso. A
igreja é o ponto alto do passeio.
Mesmo em ruínas, guarda detalhes importantes.
Eles surgem logo na entrada,
onde fica a única imagem identificável que sobrou: a de são Paulo.
Há outras figuras, mas lhes faltam
partes. Havia um santo em cada
pilar de sustentação da igreja.
No lugar onde eram velados os
corpos dos mortos, há um entalhe
enorme e curioso na parede: uma
representação do inferno. O tempo apagou as imagens do painel,
mas as chamas ardentes da morada dos maus permanecem lá.
A pia batismal está inteira. O
púlpito também se apresenta íntegro, mas apenas ficou assim depois de uma restauração que colou, como peças de um quebra-cabeça, os 1.500 pedaços que foram encontrados.
Ao lado do altar, entalhes na pedra mostram anjos tocando instrumentos musicais, inclusive
uma harpa paraguaia. Durante as
missas, os meninos guaranis formavam um coro.
Quase zonzo de olhar para essas
ruínas carregadas de informação,
o visitante, que a essa altura estará
suando em bicas sob o sol, pode
subir por uma escada de pedra até
um ponto alto na igreja. Dali, terá
uma visão panorâmica -e inesquecível- do sítio, além de ganhar uma leve brisa no rosto.
Para evitar o calor excessivo, vale chegar às 17h. O local fecha às
19h. Em duas horas, dá tempo de
ver tudo e de contemplar as ruínas do alto, sem ter de encarar o
bravo sol paraguaio a pino.
Ali perto fica San Ygnacio, onde
foi, por oposição, fundada a primeira redução jesuíta do Paraguai, em 1609. Com a expulsão
dos jesuítas, em 1767, não tardou
muito para que as reduções fossem abandonadas. Foi o que
aconteceu com a missão de San
Ygnacio. Os prédios foram desmoronando com o tempo.
Então, nessa cidade, foi decretado que a igreja deveria ser destruída, pois ameaçava desabar. Os
moradores pegaram as imagens
que estavam lá, talhadas em madeira, e as guardaram em casa.
Elas foram protegidas pelos locais até que o governo anunciou
que iria criar um museu dedicado
à missão. As estátuas foram devolvidas em relativo bom estado.
Entre elas, estão três peças bem
curiosas, que ficam logo na primeira sala do museu. São três anjos: um branco, um negro e um
índio. Essas obras, no entanto,
não foram declaradas patrimônio
histórico pela Unesco, pois foram
muito alteradas.
(HL)
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