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Renda de Itaguá se atrela à lenda
DA ENVIADA ESPECIAL
Na primeira vez que vir os círculos de ñanditu bordados, o visitante provavelmente vai esfregar
os olhos achando que nada pode
ser assim tão colorido e delicado.
O ñanditu é o trabalho artesanal
típico do Paraguai que mais chama a atenção. Ele é quase todo
produzido em Itaguá.
A renda foi criada pelos índios
guaranis, e sua origem é contada
em uma lenda que reza ter havido, em uma tribo, uma filha de cacique de formosura ímpar. Todos
a queriam como mulher, mas a
garota tinha um paquera: um índio magricela.
Quando ela atingiu a idade de
casar, o cacique abriu um concurso para escolher seu marido. O
vencedor seria aquele que trouxesse o presente mais belo. Um
bravo guerreiro chegou com a pele de um bicho raro, mas, para
consegui-la, teve de lutar com o
bicho, que lhe comeu o braço.
Também surgiu um guerreiro feroz com uma flor fantástica. Para
apanhar o presente, ele lutou com
feras e perdeu uma das pernas.
Já aquele pretendente magricela
tinha plena consciência de que
não ganharia o concurso porque
não poderia lutar contra as feras.
Ele se sentou sob uma bananeira
para lamentar suas poucas chances. E dormiu. Quando acordou,
no raiar do sol, viu uma teia de
aranha úmida de orvalho que refletia o espectro de cores da luz.
Encantado, foi pedir à sua mãe
que a reproduzisse. A mãe, que já
sabia como era bonita essa visão,
pegou fios de seus cabelos, tingiu-os de diversas cores e juntou a eles
palha de coqueiro. Com o material, fez o primeiro ñanditu -teia
de aranha em guarani. Ao apresentar o regalo, o índio foi consagrado campeão e pôde casar-se
com a amada.
Em Itaguá, há dezenas de lojas
que vendem a renda. Em uma delas, Maria Britez Navarro, de 66
anos, vende seu artesanato e, entre um gole de tereré e outro, borda diversas toalhas com ñanditu.
"Faço isso desde os oito anos",
afirma ela, que aprendeu a arte
observando sua mãe.
Para fazer o bordado, ela prende
um pedaço de tecido em um bastidor e começa a fazer os pontos.
Os primeiros são presos no tecido
-são os contornos dos círculos-, os outros são "voadores"
ou "pontos de ar", ficam presos
aos pontos que já existem, e não
ao tecido. Quando acaba, ela recorta o tecido de baixo, cuidando
para não soltar pontos. O resultado é uma renda multicolorida sobre o tecido vazado.
Há 76 tipos de ponto, que levam
nomes como flor-de-goiaba, o
mais difícil, e garra-de-gato, o
mais simples. Para fazer um trabalho, leva-se em média 22 dias,
trabalhando dez horas diárias.
Um pedacinho, com um círculo,
custa o equivalente a R$ 2.
(HL)
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