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LEGADO RUSSO
Ligada por 450 pontes sobre águas limpas, São Petersburgo abriga histórias de traição, palácios e 40 museus
Rios e canais cercam riqueza de czares
DO ENVIADO ESPECIAL À RÚSSIA
Ela já foi chamada de Petrogrado, Stalingrado e Leningrado e
voltou há dez anos à sua denominação original, São Petersburgo.
Foi a capital da Rússia entre o início do século 18 e a tomada do poder pelos comunistas, em 1917.
A cidade, criada por Pedro 1º, o
Grande, em 1703, é esplêndida
por ter atraído a burocracia imperial e a aristocracia russa, que contratou arquitetos ingleses, franceses e italianos para a edificação de
palácios que em nenhum outro
lugar do mundo estão concentrados em tão pouco espaço.
É também o cenário de "Crime e
Castigo", de Dostoiévski, um dos
mais conhecidos romances russos do século 19.
Na história mais recente da ex-Leningrado há os 892 dias, a partir
de setembro de 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, em que
ela permaneceu cercada pelo
Exército alemão, sem eletricidade
ou calefação, com pouquíssima
comida e nenhum medicamento.
Calcula-se entre 700 mil e 1 milhão o número de pessoas mortas
pelas epidemias e pela inanição
por terem se recusado a capitular.
O que faz o charme dessa cidade, com seus 4,2 milhões de habitantes, localizada no litoral do golfo da Finlândia, é antes de mais
nada sua relação paisagística com
águas muito limpas.
São 63 rios ou canais e 450 pontes. Circular pelos bairros centrais
de São Petersburgo é estar pertinho do mar, é atravessar com frequência o rio Neva -ele é um
pouco mais largo e muitíssimo
mais despoluído que o Tietê, em
São Paulo- e é ainda saltar de
uma ilha para outra.
Além do antigo palácio de inverno dos czares, o Hermitage, há
passeios imperdíveis.
Por exemplo, a fortaleza de São
Pedro e São Paulo, construída para proteger a cidade russa contra
os suecos -foram três as guerras
entre eles e os russos pelo controle
do Báltico Norte. Como prisão
política, o edifício teve entre seus
moradores Dostoiévski, Górki e
Leon Trótski.
Na fortaleza, em uma catedral
ortodoxa do século 18 do mesmo
nome, estão sepultados czares e
czarinas. É provavelmente a
maior concentração mundial de
monarcas estrangulados ou que
tiveram morte suspeita.
Os recém-chegados ao local são
Nicolau 2º e seus familiares, mortos pelos bolchevistas em 1918 e
cujos corpos permaneceram em
sepulturas clandestinas.
Em tempo: os ossos da princesa
Anastácia, filha do czar, estão no
grupo. A lenda de que ela sobrevivera ao regicídio coletivo acabou
há quatro anos, em 1998, com um
simples exame de DNA.
Vale também a pena visitar as
catedrais ortodoxas. Santo Isaac,
concluída em 1858 e detentora da
mais alta cúpula interna do cristianismo, depois de São Pedro,
em Roma, e de São Paulo, em
Londres. Ou ainda a igreja da Ressurreição, construída no local em
que Alexandre 2º, que teve o mérito de acabar com a servidão, foi
assassinado em 1881.
Quanto aos museus, cerca de 40
na cidade, há para quase qualquer
gosto: dos instrumentos musicais,
da história russa (com belos ícones bizantinos), do teatro, da etnografia, da escultura urbana, da
história naval, da artilharia, do
Ártico, do transporte ferroviário e
ainda outros tantos.
Está também ancorado em São
Petersburgo o cruzador Aurora, a
partir do qual, em outubro de
1917, o soviete dos marinheiros
deu, com disparos de canhão, a
senha para a tomada de assalto do
palácio de Inverno e para a deposição do governo social-democrata de Kerenski.
O resto da história é mais que
conhecido. Seguiram-se 74 anos
de ditadura comunista.
(JOÃO BATISTA NATALI)
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