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ARTIGO
Hoje, país é o paraíso do turismo comunitário
Sistema de transporte, bibliotecas e "livros ao vento" estão entre ações que reverteram os índices de violência de cidades como Bogotá, Cali e Medellín
GILBERTO DIMENSTEIN
Colunista da Folha
Se existisse um turismo para
quem está à procura de soluções comunitárias e urbanísticas, a Colômbia seria um de
seus principais e mais cobiçados roteiros. Para esse tipo de
turista, vindo do Terceiro
Mundo, não haveria nenhum
lugar comparável.
Tenho acompanhado experiências, dentro e fora do Brasil,
sobre como incluir crianças e
jovens em risco na sociedade,
promover suas habilidades e,
assim, criar comunidades mais
harmônicas. Por quase três
anos, fiz de Nova York, onde vivi, uma espécie de laboratório
de observação, afinal a cidade
conseguiu reduzir seus índices
de criminalidade, tornando-se
uma referência mundial.
O encanto da Colômbia reside, em primeiro lugar, na sua
tragédia. Lá existiam as cidades
mais violentas do planeta, juntando uma espantosa biodiversidade de conflitos, a começar
pelo narcotráfico, mesclando-se a paramilitares, guerrilheiros de esquerda e jovens marginais. Muitas vezes, esses segmentos faziam e desfaziam
parcerias, colocando lado a lado esquerdistas com narcotraficantes que, por vez, buscavam
proteção de paramilitares. Tal
complexidade tornava São
Paulo e Rio cidades amenas.
A exemplo do Brasil, a Colômbia é um país desigual, com
imensas manchas de pobreza;
e, por isso, é especialmente
atrativa para o turista comunitário do Terceiro Mundo, já que
Nova York beneficia-se da
afluência dos EUA. Barcelona,
outro modelo de revitalização,
não teria ido tão longe não fosse o dinheiro da Espanha, além
dos bilhões de dólares que vieram com as Olimpíadas.
Rodeadas pela miséria, Bogotá, Cali e Medellín conseguiram
baixar intensamente seus níveis de homicídio, combinando
uma série de ações além das repressivas. É de ficar boquiaberto o requinte dessa montagem,
na qual aparecem intervenções
urbanísticas, educacionais, culturais e esportivas.
A mais visível das intervenções é um imenso corredor de
ônibus batizado de "TransMilênio". O corredor serviu para
limpar, não poluir, a cidade:
além de criar gigantescos calçadões, acompanhados de jardins, uniu os bairros e gerou
um senso de coletividade. Foram criadas praças, com equipamentos culturais, para facilitar a convivência. Derrubaram
bairros deteriorados, substituídos por parques. Tirou-se espaço dos automóveis para ganhar
a maior ciclovia do mundo. Ao
domingos, ruas são fechadas
para os carros, transformando-se em passeios públicos.
As prefeituras ergueram bibliotecas nos bairros mais pobres que, de novo, tinham o
sentido de propiciar, através da
cultura, áreas para convivência
e reduzir as tensões. Tais bibliotecas são acessíveis através
do "TransMilênio".
A operação urbana teve impacto sobre a violência porque
veio acompanhada de ações nas
escolas. Promoveram-se atividades culturais entre jovens
para que desenvolvem a auto-estima e tivessem mais chance
no mercado de trabalho.
Se você estiver andando pela
cidade certamente vai encontrar um jovem uniformizado
orientando pedestres ou dando
informações turísticas; provavelmente não vai saber que ele
já faz parte de alguma gangue e
se recolocou na sociedade como um agente comunitário. Alguns deles carregam livros debaixo do braço. Aproximam-se
de alguém num ponto de ônibus e lhe oferece um livro gratuitamente. O beneficiário se
compromete a passar o que recebeu para outra pessoa. Montou-se, assim, um biblioteca
ambulante chamada "livros ao
vento" -aquele jovem que carregava um arma ou droga passa
a distribuir literatura.
Essa é uma obra de vários
prefeitos, envolvendo os poderes federal e estadual, além de
empresários e entidades da sociedade, na qual foi criado um
laboratório que, para muitos
(no meu caso), é um paraíso.
PS - Se perguntarem de algo
inesquecível fora desse turismo
comunitário, minha dica é o
museu do ouro (www.banrep.gov.co/museo/esp/home.htm), em Bogotá; obrigatório. É uma viagem ao mundo pré-colombiano, com peças
de design estupendo.
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