São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2006

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PARQUES NACIONAIS

Maria Tereza Jorge Pádua diz faltar propaganda e plano de manejo, que possibilitem mais visitação

Para ambientalista, brasileiros não são amigos de parque

MARGARETE MAGALHÃES
DA REDAÇÃO

Os brasileiros visitam pouco seus parques por falta de propaganda e porque eles não estão implementados. "Os brasileiros ainda não são amigos dos parques." Essa é a opinião da engenheira agrônoma e preservacionista Maria Tereza Jorge Pádua, que trabalha há mais de 40 anos com parques nacionais. Pádua conhece os dois lados da moeda. Trabalhou no serviço público, no antigo IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal), de 1968 a 1981, e foi presidente do Ibama em 1992. Leia entrevista concedida à Folha.

 

FOLHA - Qual é a função de um parque nacional?
MARIA TEREZA JORGE PÁDUA -
O objetivo precípuo de um parque nacional é proteger amostras de ecossistemas naturais, com toda a sua biodiversidade, não ou pouco alterados, importantes e relevantes no nível nacional, para fins de pesquisas científicas, educação ambiental e turismo ecológico. Para que uma área seja declarada parque nacional, precisa ser de bom tamanho para proteger a biodiversidade que encerra, e os ecossistemas devem ser naturais e abranger belezas cênicas relevantes para comportar a visitação pública. Sua criação é feita por decreto do presidente, e suas terras têm de pertencer ao poder público.

FOLHA - Por que no Brasil apenas 23 estão abertos à visitação?
PÁDUA -
Porque não estão implementados. Isso quer dizer que muitos (50%) deles ainda carecem de regularização fundiária e 60% não possuem sequer planos de manejo. Tampouco têm infra-estrutura turística e funcionários para manejá-los adequadamente. Não têm recursos sequer para combustíveis e carecem de equipamentos básicos, como carros, rádios, computadores e material de escritório.

FOLHA - Por que os brasileiros visitam tão pouco seus parques?
PÁDUA -
Porque não estão implantados. Porque não há suficiente propaganda. Muitos são bem visitados, como Iguaçu, Lençóis Maranhenses, Fernando de Noronha, Itatiaia, Serra dos Órgãos e Sete Cidades, entre outros. Mas, em geral, o brasileiro não sabe bem o que é um parque nacional e quer muito conforto, o que nem sempre é possível em áreas naturais remotas. Os brasileiros ainda não são amigos dos parques.

FOLHA - Como o governo tem tratado seus parques?
PÁDUA -
Mal, muito mal. Estão, na sua grande maioria, abandonados. O orçamento é o pior das três últimas décadas, e estão sendo propiciadas invasões e toda sorte de degradação, devido ao abandono, à falta de funcionários no campo e de recursos financeiros.

FOLHA - Quais modelos de parque funcionariam para o Brasil?
PÁDUA -
O turismo é a atividade que mais cresce no mundo e, dentro dele, o ecoturismo. Os parques enriquecem a região onde estão e o turismo nacional, pois os visitantes gastam com passagens, combustíveis, hotéis, equipamentos etc. Assim, são, em alguns países, a indústria mais rentável, como Costa Rica, Quênia, Tanzânia e Botsuana, entre outros. O Brasil tem vários modelos de área protegida que funcionam muito bem, como o Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), o Iguaçu, a RPPN do Sesc no Pantanal mato-grossense. Temos bons modelos, não precisamos copiar ninguém.


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