São Paulo, segunda, 25 de maio de 1998

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Parte do Pantanal pertenceu ao Paraguai

da enviada especial

Se não fosse a Guerra do Paraguai (1864-1870), embarcar para o Pantanal poderia ser uma viagem internacional -parte do atual território brasileiro, entre os rios Apa e Branco, pertencia ao chamado "país guarani".
São terras que expelem sangue por todos os lados. O conflito, que é considerado um dos mais dramáticos do século 19, quase dizimou a população do Paraguai.
Dos 800 mil habitantes do país, só restaram 194 mil após a guerra. Desses, apenas 2.100 eram homens maiores de 20 anos.
O genocídio, como é classificado por historiadores como Fernando Novais e León Pomer, ambos da USP (Universidade de São Paulo), praticamente pôs fim não só à população paraguaia mas também a todas as conquistas do país.
Autônomo em uma época em que todas as demais nações da América Latina não produziam sequer alfinetes, o Paraguai construía trens e ferrovias, fomentava sua indústria e era auto-suficiente na produção agrícola e pecuária.
O governo do presidente Carlos Antonio López também acabou com o analfabetismo.
O país, com 80% da população formada por índios guaranis, teria começado, então, a ameaçar o panorama servil da América Latina, onde os demais países adquiriam bens manufaturados da Europa. Vendiam, a preços baixos, matéria-prima.
O quadro da estabilidade paraguaia começou a ruir em 16 de outubro de 1864, quando o Brasil invadiu o Uruguai, e o Paraguai saiu em defesa desse último, cumprindo um acordo entre os dois países.

Queda de Assunção
O conflito poderia ter sido dado por encerrado em 1869, com a tomada de Assunção, segundo depoimentos do duque de Caxias, à frente das tropas brasileiras, mas se prolongou por mais um ano.
O objetivo final da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai) era matar Solano López -filho de Carlos Antonio López-, que governava o país.
Caxias se demitiu em 1869, dando lugar ao conde d'Eu. Foi então que o pior da carnificina aconteceu, de acordo com relatos do coronel Oliveira Nery.
"Quantas crianças de 11 a 15 anos despedaçadas pela metralha!", escreveu. Uma das últimas batalhas aconteceu na região de Campo Grande.
Envolveu 20 mil brasileiros e 3.500 paraguaios -os tais combatentes mirins citados por Nery. O "inimigo" foi cercado por um círculo de fogo -morreram todos, queimados ou degolados.



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