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São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2003

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DESAFIO GELADO

Os snowboarders Isabel Clark e Ricardo Moruzzi chegam em primeiro lugar na Copa Continental, realizada no Chile

Brasil tem dupla vitória no Valle Nevado

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL AO VALLE NEVADO

Apesar de seu clima tropical, o Brasil teve uma vitória dupla na semana passada no Valle Nevado, centro de esportes de inverno a 60 km de Santiago, no Chile, onde aconteceu a Copa Continental de Snowboard -um misto de skate e surfe, mas na neve.
A carioca Isabel Clark, 26, e o paulistano Ricardo Moruzzi, 24, conquistaram os primeiros lugares nas categorias "boardercross" e "slalom paralelo", competindo com esportistas de diversos países do mundo.
"Minha profissão é o snowboard", diz Clark, nove vezes campeã brasileira. Ela deixou as areias do Rio de Janeiro para viver, como nômade, sempre em busca de onde tem neve. Atualmente, está no Valle Nevado, onde dá aulas, treina e conquista títulos. Quando a neve derrete na cordilheira dos Andes, parte para Whistler, uma das estações mais famosas do Canadá.
Sua especialidade é o "boardercross", uma prova do snowboard inspirada no motocross e na qual de quatro a seis snowboarders precisam superar, com precisão, saltos e curvas e ainda chegar em primeiro lugar: "É uma prova de muita adrenalina. Mistura tudo o que existe no snowboard: saltos, manobras e velocidade".
Como conta pontos para o ranking mundial -que, por sua vez, define quem vai para a Olimpíada de Inverno-, a Copa Continental atrai esportistas não só das Américas, mas de outras partes do mundo. Isabel desbancou competidoras da Espanha, da Bélgica e do Canadá -segundo, terceiro e quarto lugares, respectivamente.

Rumo às Olimpíadas
Ela é a principal aposta feminina brasileira para o Campeonato Mundial de 2005, em Whistler, e para a Olimpíada de Turim (Itália), em 2006. Se for classificada para Turim, será a primeira snowboarder brasileira a participar do evento mais importante de esportes de inverno do mundo.
Para isso, terá de garantir uma boa posição no ranking mundial. Atualmente, ela está na 75ª posição no "boardercross", mas sua recente vitória ainda não foi contabilizada. Nos últimos jogos, em Salt Lake City (2002), participaram os 35 atletas mais bem posicionados, com um limite máximo de quatro competidores por país.
Apesar do sucesso, Isabel está sem patrocínio no momento. E, para sobreviver, é instrutora de snowboard no Valle Nevado. Mas ela não se importa: "Ensinar os outros a aprender snowboard me faz muito bem".
Isabel, que também é surfista (ela é carioca, lembra?) e skatista, descobriu o snowboard aos 17 anos, quando visitava um irmão que morava na Califórnia. Tentou os esquis, mas gostou mesmo foi da prancha. "No snowboard, consigo me expressar melhor, uso mais a criatividade", diz.

Rebeldia nas pistas
O snowboard surgiu nos anos 60, mas começou a ganhar as pistas nos anos 80. Talvez devido à sua proximidade com o skate e o surfe, conquistou a fama de esporte para "bad boys", atraindo jovens do sexo masculino.
Hoje, já tem praticantes de ambos os sexos e de diversas idades, mas persiste uma diferença de estilo entre eles e os adeptos do esqui. Os snowboarders parecem mais irreverentes, se vestem de forma mais descontraída e descolada. Os esquiadores são mais clássicos e cultivam uma certa desconfiança dos seus colegas de pistas "rebeldes".
Inicialmente, importantes centros de esqui nos EUA e na Europa barravam o snowboard. Um dos argumentos é que seus praticantes seriam imprudentes, possivelmente por serem mais jovens, logo, menos responsáveis.
Mas a popularização do snowboard -e o fato de que possibilitou uma convivência mais interessada entre pais esquiadores e filhos snowboarders nas pistas- falou mais alto. Até mesmo Aspen, que resistiu o quanto pôde a abrir sua Aspen Mountain às pranchas, viu-se compelida a mudar as regras recentemente.
Em 2000, o snowboard foi o esporte que mais cresceu nos EUA: mais de 50% em relação ao ano anterior. Atualmente, cerca de 25% dos praticantes de esportes de neve são snowboarders.
No Valle Nevado, eles parecem ainda mais numerosos. Talvez porque muitos acreditem que o snowboard seja mais fácil do que o esqui, o que é bem questionável.
Provavelmente, os primeiros dias de prática de snowboard sejam até mais perigosos -e doloridos. O motivo: a prancha é bem pesada e prende-se aos pés. Se perder o equilíbrio, o snowboarder não muito experiente pode bater as mãos ou cair sentado com força na neve. Já os esquis se soltam na queda, e o esquiador pode "amaciar" o impacto.
Para alguns adeptos do esqui, o snowboard é um esporte menor. Isabel discorda: "O snowboard tem influenciado o esqui", diz.
Em geral, os instrutores, mesmo de esqui, concordam que o dinamismo do snowboard revolucionou o esqui -dos equipamentos, mais flexíveis e modernos, à própria maneira de esquiar. "O esqui precisou se adaptar para recuperar um espaço que estava perdendo para o snowboard", explica Gastón Ortiz. "Ambos são esportes interessantes e exigentes. Mas acho o esqui mais completo."


Otavio Dias viajou a convite da Lan Chile e da estação de esqui de Valle Nevado

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