São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"MADE IN CEARÁ"

Lino Villaventura indica seus pontos favoritos em Fortaleza

Estilista cria alta moda sem tirar os olhos do popular

HELOISA LUPINACCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Morando em Fortaleza desde os 18 anos, o estilista Lino Villaventura, 49, nascido em Belém, começou a criar moda ali. Envolvido pelo rico artesanato têxtil, inventou uma mistura de elementos populares com materiais finos, criando peças sofisticadas, com alma rococó em alguns momentos, romântica em outros ou ainda dramática. De sua fábrica na capital cearense, ele falou à Folha sobre a cidade e seu trabalho.

 

NORTE VERSUS NORDESTE - Quando cheguei a Fortaleza, achei esse lugar incrível. As pessoas têm a idéia de que Norte e Nordeste são mais ou menos a mesma coisa. Mas o Norte têm mais as marcas portuguesa e indígena. No Nordeste, a cultura e a arte populares são muito ricas. Tenho sorte de ter os dois lugares na cabeça.

INÍCIO - Comecei a trabalhar com moda no Ceará. Eu eu minha família viemos para cá quando eu tinha 18 anos. Meu pai seguiu para o Rio, mas eu fui ficando. Comecei a fazer as roupas. Na época, achei que era "fase". E aconteceu que eu me tornei o que sou hoje.

TÊXTIL - Fortaleza é um grande centro do artesanato têxtil, ligado a rendas e a tear. Aqui tem a tradição que vai de mãe para filha, de avó para neta. Renata Jereissati [mulher de Tarso Jereissati, que governou o Estado de 1987 a 1991 e de 1994 a 1998] fez um resgate das rendas, época em que as rendas daqui ganharam delicadeza e acabamento e deixaram as belgas para trás. Mas isso se perdeu um pouco. O produto ficou caro, e as pessoas precisam sobreviver.

TRABALHO - Eu comecei a fazer um trabalho artesanal, e as roupas ficavam sofisticadas. Não tinham aquela cara de roupa da feirinha. Notei que tinha talento para fazer essa mistura. Eu pegava rendas caríssimas e bordava com barbante. Graças a Deus tenho bom olhar para as coisas brasileiras.

OPÇÃO - Na época que eu consegui mostrar meu trabalho nacionalmente, eu não quis sair daqui. Hoje tenho também uma casa em São Paulo. Mas aqui eu preservo o meu trabalho. Estar em Fortaleza recarrega a bateria e a inspiração.

NO CORAÇÃO - Quando a gente está fora, sente falta de umas coisas que nem sempre faz. Quando fico longe, lembro-me de como é bom comer um caranguejo na praia. Você fica ali comendo, vendo o mar. Tem um ar de férias.

A PRAIA - Mesmo que eu não vá tanto à praia, gosto de passar por ela. Antes de ir para casa, dou uma volta na praia. Dá uma felicidade. E o mar dá aquela calma.

PONTO DE PARTIDA - O primeiro lugar para ir em Fortaleza é a Beira-Mar. Como no Rio ou em qualquer cidade de litoral. Ali você já se situa, já começa a entender a cidade. E tem aqueles ônibus de city tour com o segundo andar aberto. Se a pessoa pega um daquele já conhece a cidade de uma vez. É bem bacana, mesmo se a pessoa estiver sozinha. Não precisa ter ninguém junto, não.

DESCUIDADO - O centro está malcuidado. O cine São Luís [cinema antigo] fechou porque ninguém mais ia. Os shoppings acabam com o centro das cidades. Tem uma parte do centro que você percebe que teve um passado bacana e que acabaram com tudo. Aqui tentaram modernizar umas praças, e elas ficaram horrorosas.

PATINHO FEIO - Tem o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, que é um centro cultural que funciona bem, que exibe filmes e tudo o mais, mas que eu acho muito feio. Não gosto da estrutura dele.

MERCADO - E o mercado central, que tinha aquela organização dos mercados, onde se vendia tudo misturado, tiraram e construíram um moderníssimo. Aí perdeu aquele encanto de mercado meio asiático, perdeu o charme. Essas coisas deviam ser preservadas.


Texto Anterior: "Made in Ceará": Etiqueta de origem indica arte de mais de 50 cidades
Próximo Texto: Inspiração
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.