São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

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"MY KIND OF TOWN"

Chicago renasceu das cinzas depois de incêndio em 1871

Dankmar Adler e F.L. Wright estão entre os primeiros a edificar os arranha-céus pioneiros na metrópole

DO ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Diz a lenda que, em 1871, uma vaca da senhora O'Leary iniciou o Grande Incêndio (ou "Great Fire") ao derrubar um lampião. E que, curiosamente, essa catástrofe deu origem à moderna arquitetura.
Verdade ou invencionice, o episódio acabou reunindo em Chicago, nos anos seguintes à tragédia, alguns dos grandes arquitetos norte-americanos e estrangeiros. Implantando os primeiros arranha-céus do mundo, eles mudaram o perfil da capital do Estado de Illinois, localizada onde o rio Chicago deságua no lago Michigan.
Nas origens, a cidade teve como primeira edificação o forte Dearborn, numa região pantanosa na foz do rio, que não mais existe. A fortaleza foi destruída pelos índios em 1812, reerguida em 1816 e abandonada em ruínas 20 anos depois.
Quando Chicago ganhou foros de metrópole, depois do Grande Incêndio de 1871, alguns dos grandes nomes da arquitetura norte-americana eram Louis Henry Sullivan (1856-1924), Dankmar Adler (1844-1900) e Frank Lloyd Wright (1869-1959).
Os capitais que financiaram o florescimento da metrópole nesse período tiveram, na verdade, origem após a Guerra de Secessão que, de 1861 a 1865, opôs a porção norte dos EUA, que era industrializado, ao sul, cuja economia era baseada na agricultura extensiva e na mão-de-obra escrava.
Vitoriosa após o embate, Chicago emergiu da guerra civil como entroncamento ferroviário que escoava grãos, sede de empresas que industrializavam carne bovina, de siderúrgicas e importante centro bursátil.
Por volta de 1870, as estradas de ferro conectavam a cidade a todos os centros urbanos importantes dos EUA. Assim, se por um lado o Grande Incêndio vitimou 300 pessoas e deixou 100 mil desabrigadas ao destruir 20 mil edificações, por outro, ele abriu espaço para que a Chicago se reinventasse.

Torres e nomes
Daniel Burnham (1846-1912), o pioneiro construtor dos arranha-céus, foi um engenheiro que, durante a Guerra de Secessão, construiu pontes e desenvolveu estruturas metálicas. Depois da guerra fratricida, essas estruturas serviram de referência na edificação dos primeiros edifícios.
Já uma verdadeira metrópole, a Chicago do início do século 20 recebeu imensas levas de imigrantes irlandeses, poloneses, italianos e alemães.
Potência econômica na época da lei seca, em 1920, também viu a contravenção prosperar. O álcool era proibido, e os grupos de gângsteres de Dion O'Bannion, Al Capone e Johnny Torrio fizeram fortunas ilícitas e espalharam o terror em situações que viraram filmes, caso de "Os Intocáveis" (1987), de Brian De Palma, que conta a história do agente federal Eliott Ness combatendo a máfia na cidade.
Quando a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) eclodiu na Europa, a metrópole recebeu arquitetos proscritos pelo nazi-fascismo, caso de Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), líder da escola de design funcionalista alemã Bauhaus. Walter Gropius (1883-1969), seu parceiro e conterrâneo, também deixou sua marca na arquitetura local, influenciando inclusive Frank Lloyd Wright, talvez o mais festejado arquiteto dos EUA.
Os edifícios projetados em Chicago com conceitos da Bauhaus, cujos projetos têm linhas arrojadas e despojadas, acabaram ornamentados por esculturas modernas, caso do Federal Building, prédio de aço de Van der Rohe, de linhas retas, que emoldura a escultura "Flamingo" (1974), megaestrutura vermelha do escultor Alexander Calder (1898-1976).
Daí em diante, além de berço do moderno arranha-céu, Chicago virou a capital das esculturas, exibindo, ao ar livre, além do "Flamingo", imensas obras de Picasso, Miró, Dubuffet, além de mosaico de Chagall. (SC)


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