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OUTONO
Cidade não respira somente a política
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Washington DC é uma cidade
esquisita para os padrões norte-americanos. Não tem arranha-céus, ingredientes do mobiliário
urbano que começaram a espetar
as nuvens no comecinho do século passado, com a invenção dos
elevadores e a possibilidade de
verticalizar ao extremo escritórios
e moradias.
A razão: um edifício de 60 ou
cem andares em Washington colocaria na linha de mira a Casa
Branca, a Suprema Corte e o Congresso. Bem antes que o combate
ao terrorismo virasse discurso da
moda, os norte-americanos conheciam por experiência própria
a vulnerabilidade do poder político às armas de fogo. Em 1865
Abraham Lincoln foi assassinado.
Dentro de um teatro. A espécie
daninha dos "presidenticidas" teve, assim, o seu trabalho em boa
hora dificultado.
Outra característica atípica está
na existência de uma bela malha
de metrô. São cinco linhas, todas
modernas e confortáveis. É raro
que cidades norte-americanas invistam em transporte coletivo de
qualidade para desencorajar o
uso do automóvel individual.
No caso de Washington, há os
que moram nos Estados vizinhos,
Maryland e Virgínia, e que, em caso de periódicos congestionamentos, colocariam em risco a segurança das instituições que estão
por lá sediadas.
Com seus 600 mil habitantes,
Washington não respira a cada
esquina a administração pública e
a política. É uma cidade em que
outras atividades floresceram em
nichos urbanos cuidadosamente
acalentados.
O primeiro deles é a Instituição
Smithsonian, criada há mais de
um século e meio, em 1846. Nasceu da fortuna -na época- de
US$ 515 mil, deixada por James
Smithson, cientista inglês que
morrera em 1829, sem nunca ter
pisado em solo americano.
A administração sensata desse
dinheiro permitiu a construção
de 16 museus que têm como norma a gratuidade do ingresso e a
venda de seus catálogos pelo preço de custo.
Vários deles estão localizados
ao redor do National Mall, espaço
retangular e gramado, que tem de
um lado a colina do Capitólio
(Capitol Hill), em cima da qual está construído o Congresso, e do
outro o obelisco em homenagem
a George Washington. O mais frequentado é o Museu Nacional de
Aeronáutica e Espaço. São 12 milhões de visitantes por ano.
Também à margem do Mall,
mas sem fazer parte da Smithsonian, a Galeria Nacional de Arte
tem coleções ricas e completas de
todas as escolas de pintura européias a partir do Renascimento
florentino. Numa de suas salas está o único Da Vinci que atravessou o Atlântico para integrar uma
pinacoteca nas Américas.
Também há o Kennedy Center,
um caixotão em estilo modernista, construído na beira do rio Potomac, na altura de Georgetown,
o bairro chique e antigo da cidade.
Nos auditórios dispostos um ao
lado do outro, há a sede da Sinfônica Nacional, que nunca chegou
a rivalizar com o padrão técnico
das orquestras da Filadélfia ou de
Nova York, e a Ópera Nacional,
que tem uma programação pouco
imaginativa, mas com produções
muitíssimo caprichadas.
Nesses locais pouco se respiram
as obsessões do presidente George W. Bush. São espécies de "piques" para quem se preocupa
com a hoje possível guerra com o
Iraque ou com o paradeiro de
Osama bin Laden.
De qualquer modo, Washington é para qualquer americano de
média escolaridade uma passagem obrigatória, ao menos uma
vez na vida, em seus roteiros turísticos. Nos Estados Unidos os
cidadãos têm o país e a história
em elevadíssima estima.
A "capital da nação" é algo acalentado no imaginário coletivo.
Tiram-se milhões de fotos do
Congresso e da Casa Branca. Faz
parte de uma espécie de amor cívico que os brasileiros dificilmente compreenderiam.
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