São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 2002

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OUTONO

Cidade não respira somente a política

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Washington DC é uma cidade esquisita para os padrões norte-americanos. Não tem arranha-céus, ingredientes do mobiliário urbano que começaram a espetar as nuvens no comecinho do século passado, com a invenção dos elevadores e a possibilidade de verticalizar ao extremo escritórios e moradias.
A razão: um edifício de 60 ou cem andares em Washington colocaria na linha de mira a Casa Branca, a Suprema Corte e o Congresso. Bem antes que o combate ao terrorismo virasse discurso da moda, os norte-americanos conheciam por experiência própria a vulnerabilidade do poder político às armas de fogo. Em 1865 Abraham Lincoln foi assassinado. Dentro de um teatro. A espécie daninha dos "presidenticidas" teve, assim, o seu trabalho em boa hora dificultado.
Outra característica atípica está na existência de uma bela malha de metrô. São cinco linhas, todas modernas e confortáveis. É raro que cidades norte-americanas invistam em transporte coletivo de qualidade para desencorajar o uso do automóvel individual.
No caso de Washington, há os que moram nos Estados vizinhos, Maryland e Virgínia, e que, em caso de periódicos congestionamentos, colocariam em risco a segurança das instituições que estão por lá sediadas.
Com seus 600 mil habitantes, Washington não respira a cada esquina a administração pública e a política. É uma cidade em que outras atividades floresceram em nichos urbanos cuidadosamente acalentados.
O primeiro deles é a Instituição Smithsonian, criada há mais de um século e meio, em 1846. Nasceu da fortuna -na época- de US$ 515 mil, deixada por James Smithson, cientista inglês que morrera em 1829, sem nunca ter pisado em solo americano.
A administração sensata desse dinheiro permitiu a construção de 16 museus que têm como norma a gratuidade do ingresso e a venda de seus catálogos pelo preço de custo.
Vários deles estão localizados ao redor do National Mall, espaço retangular e gramado, que tem de um lado a colina do Capitólio (Capitol Hill), em cima da qual está construído o Congresso, e do outro o obelisco em homenagem a George Washington. O mais frequentado é o Museu Nacional de Aeronáutica e Espaço. São 12 milhões de visitantes por ano.
Também à margem do Mall, mas sem fazer parte da Smithsonian, a Galeria Nacional de Arte tem coleções ricas e completas de todas as escolas de pintura européias a partir do Renascimento florentino. Numa de suas salas está o único Da Vinci que atravessou o Atlântico para integrar uma pinacoteca nas Américas.
Também há o Kennedy Center, um caixotão em estilo modernista, construído na beira do rio Potomac, na altura de Georgetown, o bairro chique e antigo da cidade.
Nos auditórios dispostos um ao lado do outro, há a sede da Sinfônica Nacional, que nunca chegou a rivalizar com o padrão técnico das orquestras da Filadélfia ou de Nova York, e a Ópera Nacional, que tem uma programação pouco imaginativa, mas com produções muitíssimo caprichadas.
Nesses locais pouco se respiram as obsessões do presidente George W. Bush. São espécies de "piques" para quem se preocupa com a hoje possível guerra com o Iraque ou com o paradeiro de Osama bin Laden.
De qualquer modo, Washington é para qualquer americano de média escolaridade uma passagem obrigatória, ao menos uma vez na vida, em seus roteiros turísticos. Nos Estados Unidos os cidadãos têm o país e a história em elevadíssima estima.
A "capital da nação" é algo acalentado no imaginário coletivo. Tiram-se milhões de fotos do Congresso e da Casa Branca. Faz parte de uma espécie de amor cívico que os brasileiros dificilmente compreenderiam.


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