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ESTAÇÃO ARMÊNIA
Genocídio ainda é negado pela Turquia
Armênios chegaram ao Brasil no final do século 19; movimento se tornou significativo a partir de 1923
COLABORAÇÃO PARA FOLHA
Os primeiros registros da
presença armênia no Brasil remontam ao final do século 19,
mas a maioria das famílias armênias hoje instaladas em São
Paulo chegou a partir de 1923.
Na época, o Império Otomano havia acabado de ruir, e
Mustafá Kemal, conhecido como o pai da Turquia moderna,
proibiu o retorno dos armênios
expulsos de suas casas durante
a Primeira Guerra Mundial.
Durante essa guerra, o Comitê União e Progresso (ou Jovens Turcos, como ficaram conhecidos os então dirigentes do
império) protagonizou um
massacre contra a minoria armênia do Império Otomano,
iniciado em 1915 e no qual, segundo fontes armênias e muitos historiadores, 1,5 milhão de
armênios morreram.
O massacre foi considerado
um genocídio pela ONU, pelo
Parlamento Europeu e por ao
menos 20 países. A Turquia até
hoje não reconhece o genocídio, dizendo que as vítimas armênias (estimadas, em 1919,
em 800 mil) morreram por
causa das duras condições a
que estavam expostos os cidadãos otomanos na guerra.
Chegada ao Brasil
"Os armênios que haviam escapado chegaram ao Brasil porque queriam vir para a "América". Mas, em geral, a idéia de
América que eles tinham era a
da América do Norte", afirma
Hagop Kechichian, professor-doutor especialista em história
armênia. Os que aqui chegaram
são apenas uma pequena parte
da diáspora da população. Hoje
existem mais armênios e descendentes espalhados pelo
mundo do que no próprio país.
Por serem cidadãos otomanos, muitos armênios que chegavam em São Paulo eram chamados de turcos, o que os deixava furiosos.
Estabeleceram-se inicialmente no centro da cidade, na
região da rua 25 de Março. A
grande maioria exercia atividades relacionadas ao comércio e
a pequenas indústrias. Hoje, os
armênios e descendentes se espalham por São Paulo. Mas ainda existe uma região conhecida
como Armênia, onde ficam a
estação Armênia de metrô, os
três templos religiosos, a praça
Armênia e monumentos em
homenagem a esse povo.
Reivindicação
Mesmo pequena, a comunidade do país aqui sabe reivindicar seus direitos. Foi assim que,
em 1988, a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo instituiu o dia 24 de abril como
"dia de solidariedade para com
o povo armênio", data que, em
2003, foi transformada em "dia
de homenagem ao 1,5 milhão
de mártires armênios, vítimas
do genocídio de abril de 1915".
A dispersão provocada pelas
sucessivas repressões aos armênios no Império Otomano
criou comunidades organizadas que lutam pelo reconhecimento do genocídio por parte
do governo da Turquia. Em países como Estados Unidos e Argentina, é comum, nessa época,
mobilizações exigindo esse reconhecimento.
O caso mais famoso é o da
França, onde, no ano passado, a
Assembléia Nacional aprovou
uma lei que proíbe a negação do
genocídio em questão.
Na Turquia, porém, o assunto continua sendo tabu e há até
um artigo da Constituição do
país, o 301, que determina que
toda pessoa que ofender o país
ou o povo turco pode ser processada. Vítima do artigo foi o
prêmio Nobel de Literatura de
2006, o turco Orhan Pamuk,
processado após afirmar que
"30 mil curdos e 1 milhão de armênios foram mortos nessas
terras e ninguém ousa falar disso exceto eu". Outra vítima foi o
jornalista de origem armênia
Hrant Dink, morto em Istambul por um nacionalista turco
em janeiro.
(RENATA SUMMA)
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