São Paulo, quinta-feira, 26 de abril de 2007

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ESTAÇÃO ARMÊNIA

Genocídio ainda é negado pela Turquia

Armênios chegaram ao Brasil no final do século 19; movimento se tornou significativo a partir de 1923

COLABORAÇÃO PARA FOLHA

Os primeiros registros da presença armênia no Brasil remontam ao final do século 19, mas a maioria das famílias armênias hoje instaladas em São Paulo chegou a partir de 1923.
Na época, o Império Otomano havia acabado de ruir, e Mustafá Kemal, conhecido como o pai da Turquia moderna, proibiu o retorno dos armênios expulsos de suas casas durante a Primeira Guerra Mundial.
Durante essa guerra, o Comitê União e Progresso (ou Jovens Turcos, como ficaram conhecidos os então dirigentes do império) protagonizou um massacre contra a minoria armênia do Império Otomano, iniciado em 1915 e no qual, segundo fontes armênias e muitos historiadores, 1,5 milhão de armênios morreram.
O massacre foi considerado um genocídio pela ONU, pelo Parlamento Europeu e por ao menos 20 países. A Turquia até hoje não reconhece o genocídio, dizendo que as vítimas armênias (estimadas, em 1919, em 800 mil) morreram por causa das duras condições a que estavam expostos os cidadãos otomanos na guerra.

Chegada ao Brasil
"Os armênios que haviam escapado chegaram ao Brasil porque queriam vir para a "América". Mas, em geral, a idéia de América que eles tinham era a da América do Norte", afirma Hagop Kechichian, professor-doutor especialista em história armênia. Os que aqui chegaram são apenas uma pequena parte da diáspora da população. Hoje existem mais armênios e descendentes espalhados pelo mundo do que no próprio país.
Por serem cidadãos otomanos, muitos armênios que chegavam em São Paulo eram chamados de turcos, o que os deixava furiosos.
Estabeleceram-se inicialmente no centro da cidade, na região da rua 25 de Março. A grande maioria exercia atividades relacionadas ao comércio e a pequenas indústrias. Hoje, os armênios e descendentes se espalham por São Paulo. Mas ainda existe uma região conhecida como Armênia, onde ficam a estação Armênia de metrô, os três templos religiosos, a praça Armênia e monumentos em homenagem a esse povo.

Reivindicação
Mesmo pequena, a comunidade do país aqui sabe reivindicar seus direitos. Foi assim que, em 1988, a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo instituiu o dia 24 de abril como "dia de solidariedade para com o povo armênio", data que, em 2003, foi transformada em "dia de homenagem ao 1,5 milhão de mártires armênios, vítimas do genocídio de abril de 1915".
A dispersão provocada pelas sucessivas repressões aos armênios no Império Otomano criou comunidades organizadas que lutam pelo reconhecimento do genocídio por parte do governo da Turquia. Em países como Estados Unidos e Argentina, é comum, nessa época, mobilizações exigindo esse reconhecimento.
O caso mais famoso é o da França, onde, no ano passado, a Assembléia Nacional aprovou uma lei que proíbe a negação do genocídio em questão.
Na Turquia, porém, o assunto continua sendo tabu e há até um artigo da Constituição do país, o 301, que determina que toda pessoa que ofender o país ou o povo turco pode ser processada. Vítima do artigo foi o prêmio Nobel de Literatura de 2006, o turco Orhan Pamuk, processado após afirmar que "30 mil curdos e 1 milhão de armênios foram mortos nessas terras e ninguém ousa falar disso exceto eu". Outra vítima foi o jornalista de origem armênia Hrant Dink, morto em Istambul por um nacionalista turco em janeiro. (RENATA SUMMA)


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