São Paulo, quinta-feira, 26 de abril de 2007

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Ao mar

Bilhete de cinema rende volta ao mundo

TELÃO Filme da Família Schürmann estréia amanhã, mostrando como foi seguir a trilha de Fernão de Magalhães

Arquivo pessoal
O casal Vilfredo e Heloísa Schürmann, acompanhados da filha Kat, usam trajes típicos e posam perfilados a dançarinos em Bali<

PRISCILA PASTRE-ROSSI
COLABORAÇÃO PARA FOLHA

Conviver com sete pessoas em 44 metros quadrados durante dois anos e meio -com períodos de até duas semanas sem qualquer contato com o mundo externo- pode parecer uma experiência bastante complicada, pouco atraente para a maioria das pessoas.
Para a família Schürmann trata-se de algo que deve ser feito pelo resto da vida. Pelo menos, se a experiência for em alto-mar. Foi exatamente nesse espaço e tempo que eles reproduziram a primeira volta ao mundo -realizada pelo navegador português Fernão de Magalhães entre 1519 e 1522.
A aventura virou um longa-metragem produzido por David, um dos filhos de Vilfredo e Heloísa Schürmann, filme que tem estréia prevista em cinemas da capital amanhã. Em 92 minutos, "O Mundo em Duas Voltas" mostra os momentos mais marcantes a bordo do veleiro Aysso, que visitou mais de 30 países, percorrendo quatro continentes e três oceanos.
Em entrevista à Folha, David contou como a viagem foi parar na tela grande e os desafios de filmar em alto-mar.

 

FOLHA - De onde veio a idéia de transformar a aventura em filme?
DAVID SCHÜRMANN
- Fui para a Nova Zelândia estudar cinema. Estava lá, já trabalhando com produção de programas, quando meus pais avisaram que queriam reproduzir a volta ao mundo de Fernão de Magalhães. Quando eles me ligaram para falar sobre isso era madrugada. De tão empolgados, esqueceram-se do fuso horário. Eu disse que gostaria de embarcar com eles se pudesse transformar a aventura em filme.

FOLHA - De quantas pessoas era a equipe de filmagem?
DAVID
- Éramos eu, o rapaz que cuidava do áudio, o câmera e o produtor. Dois deles ficaram só três meses. Um porque não suportava viver sem barulho, sem mais gente. Outro porque ficou assustado com a tempestade que pegamos na Patagônia. Eles saíram e ficamos apenas eu e o Luciano, meu assistente.

FOLHA - E como vocês se viraram?
DAVID
- Foi difícil. Tínhamos muito equipamento para pouca gente. No sexto mês, quando o Luciano também saiu, porque o contrato tinha vencido, fechamos com outro brasileiro e um chileno, que ficaram até o final.

FOLHA - Vocês tinham roteiro para a viagem, mas não para o filme, já que a maior parte das coisas acontecia naturalmente. Como foi rodar um longa com características semelhantes às de um "reality show"?
DAVID
- Não foi o roteiro que fez o filme, mas o filme que fez o roteiro. Não estávamos prevendo, por exemplo, chegar às Filipinas durante a Semana Santa. Pois foi o que aconteceu, e o que nos rendeu a cena da crucificação, uma das mais impressionantes (leia na pág.10). Quando chegamos ao Brasil contratamos um profissional que "costurasse" as cem horas de material que tínhamos.

FOLHA - Em 891 dias de contato com a natureza, deu para perceber os efeitos do tão comentado "aquecimento global"?
DAVID
- Sim, no estreito de Magalhães. Deu pra ver claramente o derretimento das calotas. Pegamos muito sol, um calor que não é normal naquela área.

FOLHA - O filme é dedicado à sua irmã Katherine. Entre os cinco e os oito anos, ela gostava de estar lá, longe da escola, dos amigos, da rotina de uma criança normal?
DAVID
- Ela adorava o mar, vibrava com cada novidade, fazia amigos pelo mundo. Kat morreu aos 13 anos, tinha o vírus HIV. A forma como ela veio parar na nossa família é muito bonita: era órfã de mãe, e o pai não tinha condições de cuidar dela. Por isso meus pais a adotaram.

FOLHA - O filme comenta o dia em que vocês quase foram atacados por piratas no mar da China. Mas não há imagens. Como foi isso?
DAVID
- Estávamos ancorados quando vimos um barco se aproximar. A baía era enorme, mas ele parou bem do nosso lado. A tripulação fazia muito barulho e ficamos assustados. O jeito foi apagar as luzes e fazer o barco deslizar para fugir dali sem sermos percebidos. Tomamos uma boa distância e, quando eles notaram, já não conseguiam mais nos alcançar.


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