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Ao mar
Bilhete de cinema rende volta ao mundo
TELÃO Filme da Família Schürmann estréia amanhã, mostrando como foi seguir a trilha de Fernão de Magalhães
Arquivo pessoal
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O casal Vilfredo e Heloísa Schürmann, acompanhados da filha Kat, usam trajes típicos e posam perfilados a dançarinos em Bali<
PRISCILA PASTRE-ROSSI
COLABORAÇÃO PARA FOLHA
Conviver com sete pessoas
em 44 metros quadrados durante dois anos e meio -com
períodos de até duas semanas
sem qualquer contato com o
mundo externo- pode parecer
uma experiência bastante complicada, pouco atraente para a
maioria das pessoas.
Para a família Schürmann
trata-se de algo que deve ser
feito pelo resto da vida. Pelo
menos, se a experiência for em
alto-mar. Foi exatamente nesse espaço e tempo que eles reproduziram a primeira volta ao
mundo -realizada pelo navegador português Fernão de Magalhães entre 1519 e 1522.
A aventura virou um longa-metragem produzido por David, um dos filhos de Vilfredo e
Heloísa Schürmann, filme que
tem estréia prevista em cinemas da capital amanhã. Em 92
minutos, "O Mundo em Duas
Voltas" mostra os momentos
mais marcantes a bordo do veleiro Aysso, que visitou mais de
30 países, percorrendo quatro
continentes e três oceanos.
Em entrevista à Folha, David
contou como a viagem foi parar
na tela grande e os desafios de
filmar em alto-mar.
FOLHA - De onde veio a idéia de
transformar a aventura em filme?
DAVID SCHÜRMANN - Fui para a
Nova Zelândia estudar cinema.
Estava lá, já trabalhando com
produção de programas, quando meus pais avisaram que queriam reproduzir a volta ao
mundo de Fernão de Magalhães. Quando eles me ligaram
para falar sobre isso era madrugada. De tão empolgados, esqueceram-se do fuso horário.
Eu disse que gostaria de embarcar com eles se pudesse transformar a aventura em filme.
FOLHA - De quantas pessoas era a
equipe de filmagem?
DAVID - Éramos eu, o rapaz que
cuidava do áudio, o câmera e o
produtor. Dois deles ficaram só
três meses. Um porque não suportava viver sem barulho, sem
mais gente. Outro porque ficou
assustado com a tempestade
que pegamos na Patagônia.
Eles saíram e ficamos apenas
eu e o Luciano, meu assistente.
FOLHA - E como vocês se viraram?
DAVID - Foi difícil. Tínhamos
muito equipamento para pouca
gente. No sexto mês, quando o
Luciano também saiu, porque o
contrato tinha vencido, fechamos com outro brasileiro e um
chileno, que ficaram até o final.
FOLHA - Vocês tinham roteiro para
a viagem, mas não para o filme, já
que a maior parte das coisas acontecia naturalmente. Como foi rodar
um longa com características semelhantes às de um "reality show"?
DAVID - Não foi o roteiro que
fez o filme, mas o filme que fez
o roteiro. Não estávamos prevendo, por exemplo, chegar às
Filipinas durante a Semana
Santa. Pois foi o que aconteceu,
e o que nos rendeu a cena da
crucificação, uma das mais impressionantes (leia na pág.10).
Quando chegamos ao Brasil
contratamos um profissional
que "costurasse" as cem horas
de material que tínhamos.
FOLHA - Em 891 dias de contato
com a natureza, deu para perceber
os efeitos do tão comentado "aquecimento global"?
DAVID - Sim, no estreito de Magalhães. Deu pra ver claramente o derretimento das calotas.
Pegamos muito sol, um calor
que não é normal naquela área.
FOLHA - O filme é dedicado à sua irmã Katherine. Entre os cinco e os oito anos, ela gostava de estar lá, longe da escola, dos amigos, da rotina
de uma criança normal?
DAVID - Ela adorava o mar, vibrava com cada novidade, fazia
amigos pelo mundo. Kat morreu aos 13 anos, tinha o vírus
HIV. A forma como ela veio parar na nossa família é muito bonita: era órfã de mãe, e o pai não
tinha condições de cuidar dela.
Por isso meus pais a adotaram.
FOLHA - O filme comenta o dia em
que vocês quase foram atacados por
piratas no mar da China. Mas não há
imagens. Como foi isso?
DAVID - Estávamos ancorados
quando vimos um barco se
aproximar. A baía era enorme,
mas ele parou bem do nosso lado. A tripulação fazia muito barulho e ficamos assustados. O
jeito foi apagar as luzes e fazer o
barco deslizar para fugir dali
sem sermos percebidos. Tomamos uma boa distância e, quando eles notaram, já não conseguiam mais nos alcançar.
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