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POLICROMIA AFRO
Safáris acontecem nessas áreas, que se tornaram reservas privadas ou do Estado, como o parque Kruger
Savana se desvela em cores e silêncios
DO ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL
O dia desperta discretamente
na savana. Apenas o som de alguns pássaros. Na planície, a luz
se expande lentamente, como
uma mancha de leite cremoso.
Aos poucos torna-se amarela. É
tudo. A savana é árida, coberta
por vegetação rasteira, arbustos
esparsos e árvores mirradas. Alguém a definiu como o "lugar onde brotam árvores cujas copas
não se tocam". Assemelha-se à
caatinga, e bem poderia se aplicar
a este trecho de "Os Sertões": "Entre dois meios desfavoráveis espaços candentes e terrenos agros as
plantas trazem no aspecto anormalíssimo, impressos, todos os
estigmas desta batalha surda".
Encontram-se também áreas
mais enfolhadas, onde a chuva cai
abundante, e outras áreas, mistas,
com árvores verdes, largas e baixas ou ainda espécies altas, secas
e, às vezes, espinhudas.
Os safáris acontecem nessa paisagem, de manhã cedo ou à noite,
quando os animais se recolhem
ao redor das poças d'água para
beber. Quase todas as grandes
áreas de caça foram transformadas em reservas ecológicas, isto é,
repopuladas e controladas pelo
homem. Nelas, os animas vivem
livremente, mas tenta-se evitar
tanto a extinção quanto a superpopulação das espécies. A manipulação das poças d'água é um
dos meios para exercer o controle.
O Parque Nacional Kruger, nome do presidente sul-africano que
o fundou, pertence ao Estado e é
um dos melhores santuários ecológicos do mundo.
Localizado a 500 km de Johannesburgo, o parque estende-se do
rio Limpopo, ao norte, até o rio
Crocodile, ao sul, e comemorou
um milhão de visitas em um ano,
em março passado.
Aqui, como nas muitas reservas
privadas, é possível andar de ônibus ou de Land Rover para avistar
e fotografar os animais selvagens
chegando, às vezes, muito perto
deles. Os mais cobiçados são os
"big five", segundo o jargão dos
(ex-)caçadores: búfalo, elefante,
leopardo, leão e rinoceronte. Mas
há também zebras, hienas, hipopótamos, girafas elegantíssimas e
pássaros de todo tipo.
Se o dinheiro não é um problema, as melhores reservas são as
privadas, pois o tratamento é
mais personalizado. A hospedagem é geralmente confortável; a
decoração, um misto de opulência e austeridade. Nas paredes,
penduram-se troféus de antigas
caças e máscaras; não há TV no
quarto. As reservas privadas e o
Parque Nacional Kruger assinaram um acordo para retirar as
cercas do parque e deixar os animais circularem à vontade. Mas
nem sempre esse acordo é cumprido entre as reservas privadas.
Quanto menor é a reserva, maior
a chance de avistar os animas.
Por outro lado, nas reservas menores, perde-se o senso de vastidão da savana, pois o grupo dá
volta repetidas ou transita ao lado
de cercas eletrificadas.
Se é verdade que a máquina fotográfica substituiu o fuzil com
resultados fabulosos, isso pode ter
efeitos colaterais. Por vezes, o turista acaba procurando animais
como se fossem atrações de circo.
As fotos dão a sensação de levar os
bichos consigo na hora do "click".
Podendo escolher, na hora de
planejar uma rota, é sempre melhor colocar um dia a mais do que
um a menos. Esse dia deve ser
usado para apreciar as cores, os
espaços e os silêncios africanos.
Contudo é fácil entender como
o encontro com os animais monopoliza a atenção. A sensação é
profundamente física. O corpo
percebe que se compartilha o
mesmo espaço e reage com medo,
surpresa, admiração e respeito.
Em uma situação dessa, é possível entender por que os povos primitivos não costumam separar
corpo e espírito. Longe da ser um
simples órgão anatômico, o olho
repousa o olhar em certas formas
e o desvia de outras. A orelha sente a familiaridade de certos sons e
a hostilidade de outros. Basta ouvir o leão reverberar a escuridão
para compreender.
(VINCENZO SCARPELLINI)
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