São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Animais idosos levam desafios a zoológicos nos EUA

ARTRITE, CATARATA Com o aumento da expectativa de vida, os bichos têm doenças novas e criam dilemas inéditos

DA ASSOCIATED PRESS

Os zoológicos norte-americanos estão se deparando com problemas inéditos relativos à saúde dos animais devido ao avanço da idade. Com a melhora no atendimento veterinário, bichos idosos levantam questões novas, como "gorilas fêmeas que atingem os 40 ou 50 anos sofrem de menopausa?" ou "como tomar a difícil decisão entre prolongar a dor ou interromper a vida quando o paciente é uma pantera?"
"Quantos anos um animal realmente vive?", pergunta Sharon Dewar, porta-voz do zoológico do Lincoln Park (www.lpzoo.org), onde mora Rollie, macaco de 17 anos que perdeu seis dos seus 32 dentes de uma tacada só e agora só come vegetais cozidos.
Para responder a essas questões, os parques rastreiam nascimentos e mortes de populações animais na natureza e em cativeiro. A expectativa de vida deles só faz crescer. A idade média de tigres siberianos em cativeiro é, hoje, 15 anos. Até a década de 1990, era de 11 anos.
O motivo do aumento da expectativa de vida dos animais não é nenhum mistério. Assim como no caso das pessoas, o cuidado da saúde dos bichos está muito mais sofisticado.
No zôo de San Antonio (www.sazoo-aq.org), no Texas, funcionários notaram que George, uma anta de 37 anos, estava cada vez mais devagar. As pernas do animal fraquejavam e ele encontrava problemas para levantar. O diagnóstico veio rápido: artrite.
A primeira medida foi dar suplementos vitamínicos a ele, depois remédios. Finalmente, o parque chamou um especialista para fazer acupuntura na anta para aliviar as dores.
Ao mesmo tempo em que melhoraram o atendimento à saúde dos bichos, os zoológicos passaram a se focar na criação de habitats e ambientes sociais que os tornem mais felizes e menos estressados. O resultado são animais mais robustos, que vivem mais tempo em zôos e aquários. Uma exceção às regras naturais da sobrevivência.
No zôo de Minnesota (www.mnzoo.com), um par de golfinhos alcançou os 44 e os 42 anos de idade. Um casal na Flórida chegou aos 50.
"Nós sabemos, pelo estudo dos dentes dos animais encontrados na praia, que não há exemplares que cheguem a essa idade na natureza", diz Kevin Willis, especialista em expectativa de vida animal do zoológico de Minnesota.
Fronzie, leão-marinho do aquário de Nova York (www.nyaquarium.com), que foi uma das principais atrações dos shows do anfiteatro do aquário, aos 21 anos, está cada vez mais cansado. Suas córneas estão turvas e, em exames raio-X, os veterinários notaram mudanças súbitas em sua estrutura óssea. Ele está com artrite. Faz tratamento no hospital do aquário, onde os exames são rotina. Logo após da coletas de sangue de Fronzie, é a vez de Spook, uma foca cinza de 43 anos de idade, provavelmente recordista na categoria.
A longevidade confronta os zoológicos com dúvidas inéditas. "Uma questão simples foi: uma gorila de 41 anos precisa continuar usando anticoncepcionais? Ninguém sabia a resposta", diz Sue Margulis, responsável pelos primatas do Lincoln Park.
Em uma pesquisa entre gorilas de zoológicos norte-americanos, Margulis encontrou 30 gorilas em 17 zôos no país. Desses, 22 são considerados pacientes geriátricos, incluindo um com 55 anos de idade.
Cerca de um quarto das fêmeas estudadas já não tem mais ciclos menstruais. Mas, apesar de não disputarem mais a atenção de machos grisalhos, a maior parte delas estava em boa saúde. Em zoológicos, gorilas idosas às vezes fazem o papel de avós nos cuidados com os filhotes. Comportamento exclusivo de zoológicos, que têm, inclusive, modificado habitats para adequá-los a animais, diga-se, geriátricos.
No zoológico Arizona-Sonora Desert (www.desertmuseum.org), os ursos pretos Spike e Missoula se mudaram para um ambiente novo, sem rampas e com uma piscina morna. Vão passar o resto da vida fora dos olhos do público, em um tipo de aposentadoria.
O Arizona-Sonora é obrigado a garantir a qualidade de vida de Spike e Missoula enquanto eles viverem, diz Craig Ivanyi, diretor do parque. O desafio é decidir o que fazer quando não houver mais como garantir qualidade de vida a eles. No zoológico de El Paso (www.el pasozoo.org), os funcionários notaram que Sheba, uma pantera negra, estava adoentada. No último outono, Sheba chegava perto dos 27 anos, com dor e fraqueza, e deixou aos veterinários a escolha difícil. Em novembro, foi sacrificada.


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