São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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SEM RUMO

Diante do caos, turismo busca alternativas

Destinos mais próximos de São Paulo e viagens internacionais perdem menos com a crise da aviação

Almeida Rocha - 23.jul.2007/Folha Imagem
Filas em Congonhas, atraso e acidentes desmotivam turista

DA REPORTAGEM LOCAL

A aviação comercial brasileira vive o pior momento de sua história e, com medo de novas tragédias, os passageiros vivenciam filas, atrasos e cancelamentos sistemáticos de vôos.
À desinformação, soma-se a queda-de-braço entre os controladores do espaço aéreo brasileiro e o governo federal, expondo as mazelas da infra-estrutura aeroportuária nacional.
Nesse momento trágico, pilotos e empresas aéreas boicotam, em São Paulo, o aeroporto de Congonhas, o mais movimentado do país -pelo menos até que, no útimo dia 17, o acidente com o Airbus da TAM fez quase 200 vítimas fatais.

Destinos
Desencorajados de voar para cidades brasileiras e em plena época de férias, os turistas que viajam a lazer tendem nesse momento a buscar destinos mais próximos, que num raio de até 400 km de São Paulo, sejam acessíveis por estradas (veja 29 possibilidades de roteiros nas págs. F10).
Outras sugestões desta edição são 16 rotas a serem percorridas de carro para locais que distam até 619 km de São Paulo, acompanhadas de simulações de gastos com combustível e com pedágios (leia na pág. F8).
E, apesar dos conhecidos perigos na malha rodoviária brasileira, há estradas com índices relativamente baixos de acidentes. Em 2005, nas rodovias sob responsabilidade da Dersa (a estatal que administra as travessias litorâneas), como Carvalho Pinto e Ayrton Senna, houve 0,08 morto a cada 10 mil veículos. No entanto, a realidade das estradas brasileiras é outra -onde quase cem pessoas morreram no primeiro final de semana de julho.
O Estado de São Paulo tem as melhores rodovias, seguido por Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT). São cenários com problemas, mas bem distantes dos de 12 Estados brasileiros com menos de 3% da sua malha considerada ótima.

Rumo ao exterior
No cenário aéreo, a maior concentração de problemas está nos vôos domésticos. Assim, os viajantes mais intrépidos aproveitam o dólar em baixa, e, ainda que discretamente, provocam um aumento das viagens internacionais em detrimento do turismo interno.
"Os problemas em aeroportos afetaram principalmente os destinos nacionais: não notamos alterações relevantes no movimento para o exterior. Nosso maior volume de vendas tem sido para o Chile e a Argentina", afirma Luiz Vergani, diretor da Apex Travel.
Ex-presidente da Braztoa (Associação Brasileira de Operadores de Turismo), José Zuquim, da operadora Ambiental, também afirma que, "apesar do medo de avião, o mercado emissivo internacional ganha em todas as pontas."
Os vôos que ligam o Brasil a outros países não estão, entretanto, a salvo da crise.
No fim de semana, uma inexplicável pane no Cindacta-4, que controla vôos na porção norte do país, fez com que jatos que rumavam para os EUA -ou que de lá vinham- voltassem para o ponto de partida.
E é diante desse triste cenário que as viagens de carro ou de ônibus têm sido favorecidas.
"Um grupo de dez passageiros que ia de avião para Goiás cancelou o aéreo e foi de carro, cada um em seu veículo", conta Tereza Ferrari, dona da agência de viagens que leva seu nome.
Na contramão dessa tendência, especialistas em aviação lembram que, além dos acidentes em estradas já serem responsáveis por um número maior de mortes que os causados por aviões, o aumento de trânsito pode piorar a situação.

Soluções difíceis
Nesse quadro negro para a aviação nacional, o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, desponta como uma solução, ainda que momentânea.
Mas também não adianta abandonar Congonhas. Roberto Román, da Interamerican, considera impossível desativar esse aeroporto. "Congonhas tem problemas sim, porém é difícil encontrar um aeroporto perfeito. A maior culpa pelos problemas de Congonhas é das autoridades municipais que, há 50 anos, permitiram a construção de prédios no espaço que deveria ser um corredor de proteção para os aviões". Ele alerta: "A mesma coisa está acontecendo em Cumbica, onde deixaram invadir as adjacências das pistas. Agora, é preciso desalojar os invasores para que se possa ampliá-lo." E, conclui Román, "queiram ou não queiram, Congonhas deve continuar operando, desde que medidas para aumentar a sua segurança sejam tomadas imediatamente."

E agora
Na semana do acidente, até anteontem, diversas agências de turismo consultadas pela Folha registraram queda no movimento. Mas todas apostam que o fluxo turístico voltará assim que a memória da tragédia ficar mais remota.
O calor da crise aérea é tal que turistas, recentemente, preferiram trocar o avião pela viagem pelas estradas; mas a procura pelos pacotes com ônibus era pequena a ponto de grande parte das agências não trabalhar mais com eles. Do total de vendas da operadora CVC, apenas 7% é de pacotes com rodoviário. (SILVIO CIOFFI, HELOISA LUPINACCI, THIAGO MOMM E PRISCILA PASTRE-ROSSI)


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