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SEM RUMO
Viajar por estradas não diminui os riscos
Em 2005, 2.333 pessoas morreram em rodovias estaduais em SP, que concentra as melhores vias do país
THIAGO MOMM
DA REDAÇÃO
A idéia é conhecida: acidentes aéreos são bem mais trágicos, mas aviões matam menos
do que automóveis.
Só no primeiro fim de semana de julho, 91 pessoas morreram nas estradas do país. No
mesmo fim de semana em
2006, foram 54 mortos.
"É possível que o turismo rodoviário tenha algum ganho,
assim como o carro particular
comece a ser utilizado. Entretanto, vai gerar mais tráfego
nas rodovias, que estão péssimas, o que aumenta o risco de
acidentes", sinaliza Cláudio
Candiota, presidente da Associação Nacional em Defesa dos
Passageiros do Transporte Aéreo (www.andep.com.br).
Para o ex-secretário de
transportes do Estado de São
Paulo Dario Rais Lopes, "há
ótimas condições para alavancar o turismo de curta distância: tanto de infra-estrutura como de serviços como resgate e
sites com câmeras mostrando
o movimento on-line..."
Não são opiniões contrastantes. Candiota e Lopes comentam duas realidades diferentes:
a das rodovias brasileiras e a
das rodovias paulistas.
Dirigindo 245 km até um
destino turístico como Brotas,
no interior paulista, o viajante
paulistano terá pela frente ótimas condições. Dirigindo os
mais de 1.200 km até o Pantanal, terá boas estradas em São
Paulo e ruins no Mato Grosso
do Sul, exemplifica Lopes.
Levando em conta estradas
de todo o país, números da
Confederação Nacional de
Transporte (CNT) confirmam
o "péssimo" utilizado por Candiota: 12,2% da malha rodoviária brasileira ganhou justamente essa classificação na última avaliação anual, de 2006,
que examinou 84.382 km.
A classificação "ruim" foi
atribuída a 24,4% da malha, e
"regular", a 38,4%. Somando as
três porcentagens, a CNT conclui: "Ou seja, 75% da malha rodoviária avaliada apresenta algum tipo de deficiência".
Dos 26 Estados, 15 têm menos de 3,2% da malha "ótima"
quanto à sua condição geral.
Acre, Roraima e Sergipe, com
0%, desconhecem o elogio.
Levando em conta apenas o
Estado de São Paulo, a realidade é menos problemática. Apesar dos antipáticos pedágios, as
estradas paulistas somaram
73,5% de "bom" e "ótimo"
quanto ao seu estado geral. Separados, sinalização (79,8%) e
pavimento (79,3%) também foram bem nessa soma.
O quesito geometria da via
tem a pior soma de "bom" e
"ótimo" -54,3%. Rodovias antigas, como a Raposo Tavares,
obedecem a padrões de geometria antigos, e investir na sinalização custa menos do que atualizá-los, explica Lopes.
Apesar de bem avaliadas, as
estradas paulistas estão longe
de acumular poucos acidentes.
Nas estaduais (mais de 90%),
35.715 pessoas ficaram feridas
e 2.333 morreram em 2005
-média de 6,39 viajantes mortos por dia. Mas o impacto dessas mortes é menor, acredita o
ex-secretário de transportes do
Estado, porque elas são "pulverizadas, não acontecem ao
mesmo tempo".
No livro "Cultura do Medo"
(Ed. Francis), que inspirou o
documentário "Tiros em Columbine", o sociólogo norte-americano Barry Glassner acusa a mídia de "vender pânico
aéreo" e lembra que as estradas
dos EUA matam, por ano, muito mais do que "toda a história
da aviação comercial".
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