São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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SEM RUMO

Viajar por estradas não diminui os riscos

Em 2005, 2.333 pessoas morreram em rodovias estaduais em SP, que concentra as melhores vias do país

THIAGO MOMM
DA REDAÇÃO

A idéia é conhecida: acidentes aéreos são bem mais trágicos, mas aviões matam menos do que automóveis.
Só no primeiro fim de semana de julho, 91 pessoas morreram nas estradas do país. No mesmo fim de semana em 2006, foram 54 mortos.
"É possível que o turismo rodoviário tenha algum ganho, assim como o carro particular comece a ser utilizado. Entretanto, vai gerar mais tráfego nas rodovias, que estão péssimas, o que aumenta o risco de acidentes", sinaliza Cláudio Candiota, presidente da Associação Nacional em Defesa dos Passageiros do Transporte Aéreo (www.andep.com.br).
Para o ex-secretário de transportes do Estado de São Paulo Dario Rais Lopes, "há ótimas condições para alavancar o turismo de curta distância: tanto de infra-estrutura como de serviços como resgate e sites com câmeras mostrando o movimento on-line..."
Não são opiniões contrastantes. Candiota e Lopes comentam duas realidades diferentes: a das rodovias brasileiras e a das rodovias paulistas.
Dirigindo 245 km até um destino turístico como Brotas, no interior paulista, o viajante paulistano terá pela frente ótimas condições. Dirigindo os mais de 1.200 km até o Pantanal, terá boas estradas em São Paulo e ruins no Mato Grosso do Sul, exemplifica Lopes.
Levando em conta estradas de todo o país, números da Confederação Nacional de Transporte (CNT) confirmam o "péssimo" utilizado por Candiota: 12,2% da malha rodoviária brasileira ganhou justamente essa classificação na última avaliação anual, de 2006, que examinou 84.382 km.
A classificação "ruim" foi atribuída a 24,4% da malha, e "regular", a 38,4%. Somando as três porcentagens, a CNT conclui: "Ou seja, 75% da malha rodoviária avaliada apresenta algum tipo de deficiência".
Dos 26 Estados, 15 têm menos de 3,2% da malha "ótima" quanto à sua condição geral. Acre, Roraima e Sergipe, com 0%, desconhecem o elogio.
Levando em conta apenas o Estado de São Paulo, a realidade é menos problemática. Apesar dos antipáticos pedágios, as estradas paulistas somaram 73,5% de "bom" e "ótimo" quanto ao seu estado geral. Separados, sinalização (79,8%) e pavimento (79,3%) também foram bem nessa soma.
O quesito geometria da via tem a pior soma de "bom" e "ótimo" -54,3%. Rodovias antigas, como a Raposo Tavares, obedecem a padrões de geometria antigos, e investir na sinalização custa menos do que atualizá-los, explica Lopes.
Apesar de bem avaliadas, as estradas paulistas estão longe de acumular poucos acidentes. Nas estaduais (mais de 90%), 35.715 pessoas ficaram feridas e 2.333 morreram em 2005 -média de 6,39 viajantes mortos por dia. Mas o impacto dessas mortes é menor, acredita o ex-secretário de transportes do Estado, porque elas são "pulverizadas, não acontecem ao mesmo tempo".
No livro "Cultura do Medo" (Ed. Francis), que inspirou o documentário "Tiros em Columbine", o sociólogo norte-americano Barry Glassner acusa a mídia de "vender pânico aéreo" e lembra que as estradas dos EUA matam, por ano, muito mais do que "toda a história da aviação comercial".


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