São Paulo, segunda-feira, 26 de novembro de 2001

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CORAÇÃO DA BAHIA

No séc. 19, Teodoro Sampaio descreveu a beleza da chapada, rica em trilhas

Região conta a história da terra

ESPECIAL PARA A FOLHA

Em Lençóis, acorda-se em um mundo que pode ser percorrido a pé, de bicicleta, a cavalo, de carro ou de canoa, de balão ou de avião. É difícil descrever um espaço tão grande (do tamanho da Holanda) e tão variado. É melhor buscar apoio nas palavras de outro sonhador que viajou à Chapada Diamantina provido, ele sim, de luminosas idéias de progresso.
Muitos conhecem seu nome, mas nem todos lembram quem foi Teodoro Sampaio (1855-1937). Geólogo, cartógrafo e historiador, participou, em 1879, de uma expedição para estudar portos de navegação interna dos grandes rios brasileiros. Depois de visitar o São Francisco, a veia jugular da Bahia, Sampaio percorreu a chapada escrevendo um diário de viagem geológico-literário, misturando termos técnicos e deslumbramentos.
"Pelo lado oriental, o Maciço Atlântico penetra a fundo no coração da Bahia e, entre os paralelos de 11 e 14 graus de latitude sul, situa-se, calculadamente, numa área de 370 quilômetros de comprimento para 228 quilômetros de largura." Assim ele descreve a Chapada Diamantina.
Teodoro Sampaio fala de gnaisses e micaxitos mas, poucas páginas depois, começam os deslumbramentos: "Depois de tanta peregrinação por este vastíssimo sertão, à busca de ouro, descobriam os tais aventureiros uma cordilheira de montes tão elevados que pareciam chegar à região etherea e servir de throno ao vento e às mesmas estrellas."
A linguagem é florida, sem dúvida, seguindo o estilo da época, mas o estupor do visitante moderno não difere muito. A chapada é um dos poucos lugares do Brasil onde se pode admirar um registro da história da terra. Expressões como "esta formação geológica é muito nova: tem apenas 200 milhões de anos" nos deixam boquiabertos.
Há algo de estranho em pensar num movimento que demorou milênios para modelar a paisagem atual. Os primeiros passos do homem, registrados em forma de desenhos pré-históricos, não são difíceis de encontrar.
Com um bom guia, as trilhas levam à descoberta de cachoeiras e lagoas, montanhas e vales, grutas, poços encantados e ruínas de pedra. Há uma infinidade de passeios. É só escolhê-los, tendo em mente a dificuldade e a duração, que pode ser de até cinco dias.
Os mais sedentários podem relaxar num passeio de um dia pelo vale do Cercado, entre o morro do Camelo e a serra do Brejão, ao longo do rio Santo Antônio.
Quem preferir dois dias de passeio, pode passar por baixo da cachoeira da Fumaça, subindo o rio Capivara e dormindo numa toca de garimpeiro.
Para os mais decididos, há o caminho, de cinco dias, de Lençóis para Andaraí: passa por cima da cachoeira da Fumaça, atravessa o vale do Capão, os Gerais do Vieira, o vale do Pati, o Cachoeirão e finalmente Andaraí, de onde em meia hora de carro encontra-se o poço Encantado, que vale qualquer esforço.
O rio Mandassaia, que obriga o visitante a passar por cima e por baixo de rochas e quedas-d'água, propicia um fino prazer para os adeptos da imaginação: sentir-se um explorador de quadrinhos em missão em algum planeta com atmosfera favorável à sobrevivência humana. (VINCENZO SCARPELLINI)


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