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CORAÇÃO DA BAHIA
No séc. 19, Teodoro Sampaio descreveu a beleza da chapada, rica em trilhas
Região conta a história da terra
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em Lençóis, acorda-se em um
mundo que pode ser percorrido a
pé, de bicicleta, a cavalo, de carro
ou de canoa, de balão ou de avião.
É difícil descrever um espaço tão
grande (do tamanho da Holanda)
e tão variado. É melhor buscar
apoio nas palavras de outro sonhador que viajou à Chapada
Diamantina provido, ele sim, de
luminosas idéias de progresso.
Muitos conhecem seu nome,
mas nem todos lembram quem
foi Teodoro Sampaio (1855-1937).
Geólogo, cartógrafo e historiador,
participou, em 1879, de uma expedição para estudar portos de
navegação interna dos grandes
rios brasileiros. Depois de visitar
o São Francisco, a veia jugular da
Bahia, Sampaio percorreu a chapada escrevendo um diário de
viagem geológico-literário, misturando termos técnicos e deslumbramentos.
"Pelo lado oriental, o Maciço
Atlântico penetra a fundo no coração da Bahia e, entre os paralelos de 11 e 14 graus de latitude sul,
situa-se, calculadamente, numa
área de 370 quilômetros de comprimento para 228 quilômetros
de largura." Assim ele descreve a
Chapada Diamantina.
Teodoro Sampaio fala de gnaisses e micaxitos mas, poucas páginas depois, começam os deslumbramentos: "Depois de tanta peregrinação por este vastíssimo
sertão, à busca de ouro, descobriam os tais aventureiros uma
cordilheira de montes tão elevados que pareciam chegar à região
etherea e servir de throno ao vento e às mesmas estrellas."
A linguagem é florida, sem dúvida, seguindo o estilo da época,
mas o estupor do visitante moderno não difere muito. A chapada é um dos poucos lugares do
Brasil onde se pode admirar um
registro da história da terra. Expressões como "esta formação
geológica é muito nova: tem apenas 200 milhões de anos" nos deixam boquiabertos.
Há algo de estranho em pensar
num movimento que demorou
milênios para modelar a paisagem atual. Os primeiros passos do
homem, registrados em forma de
desenhos pré-históricos, não são
difíceis de encontrar.
Com um bom guia, as trilhas levam à descoberta de cachoeiras e
lagoas, montanhas e vales, grutas,
poços encantados e ruínas de pedra. Há uma infinidade de passeios. É só escolhê-los, tendo em
mente a dificuldade e a duração,
que pode ser de até cinco dias.
Os mais sedentários podem relaxar num passeio de um dia pelo
vale do Cercado, entre o morro do
Camelo e a serra do Brejão, ao
longo do rio Santo Antônio.
Quem preferir dois dias de passeio, pode passar por baixo da cachoeira da Fumaça, subindo o rio
Capivara e dormindo numa toca
de garimpeiro.
Para os mais decididos, há o caminho, de cinco dias, de Lençóis
para Andaraí: passa por cima da
cachoeira da Fumaça, atravessa o
vale do Capão, os Gerais do Vieira, o vale do Pati, o Cachoeirão e
finalmente Andaraí, de onde em
meia hora de carro encontra-se o
poço Encantado, que vale qualquer esforço.
O rio Mandassaia, que obriga o
visitante a passar por cima e por
baixo de rochas e quedas-d'água,
propicia um fino prazer para os
adeptos da imaginação: sentir-se
um explorador de quadrinhos em
missão em algum planeta com atmosfera favorável à sobrevivência
humana.
(VINCENZO SCARPELLINI)
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