São Paulo, segunda-feira, 26 de novembro de 2001

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CORAÇÃO DA BAHIA

Cidade é patrimônio da humanidade

Em Lençóis, igreja exibe cerâmica de Macau, lembrança do garimpo

ESPECIAL PARA A FOLHA

Como pausa entre os passeios pela chapada, é bom "descansar" um dia explorando Lençóis, cidadezinha de muitas subidas e descidas, sem meta e sem pressa. Foi rica com o comércio de diamantes, depois abandonada e, hoje, volta à vida com o turismo.
Embora um bom restauro não faça mal, Lençóis é bem conservada e foi tombada como patrimônio histórico. Parece uma mistura da cidade mineira de Tiradentes com um vilarejo toscano.
A paisagem inclui rochas do rio, cachoeiras, ruas e casas em pedra em estilo uniforme, telhados avermelhados e uma ponte com arcos amplos e redondos. Bem poderia figurar no fundo de um quadro de Leonardo da Vinci, se a Bahia tivesse precisado dele.
Em sua época de esplendor, Lençóis chegou a ser a terceira cidade do Estado, depois de Salvador e Ilhéus, como testemunham o prédio que hospedou o consulado francês e as decorações nas fachadas dos palacetes. Quando os diamantes ficaram mais raros e a decadência parecia chegar, houve uma inesperada reviravolta com o diamante preto, o carbonato.
Essa pedra de estrutura amorfa se revelou mais adequada que o diamante para suportar as necessidades industriais no começo do século 20. Foi empregada na construção do canal do Panamá e do metrô de Londres e chegou a custar mais caro que o diamante. Mas isso também não durou muito: as ligas modernas substituíram o carbonato e o preço caiu sem que nada pudesse ser feito.
Lençóis ficou quase vazia. Os pedaços que sobraram das louças de cerâmica, importadas de Macau para decorar as casas mais refinadas, foram decorar os pináculos de uma igreja. No fim dos anos 70, num processo lento que ainda não acabou, a cidade começou a se organizar para o turismo, em sua nova ascensão.
Em setembro de 1985 foi criado, por decreto, o Parque Nacional da Chapada Diamantina, que abrange uma área de 152 mil hectares. Suas principais atrações incluem a cachoeira da Fumaça, de 340 m, e a gruta do Lapão, a maior de quartzito das Américas.

Jogo da sorte
Os últimos garimpeiros da Chapada Diamantina não querem passar a profissão para os filhos e, com medo de que eles achem um diamante e não queiram parar, nem os levam para ver como é.
O garimpo é um composto de vida rude, de liberdade e de jogo da sorte. Embora a experiência seja muito importante, os garimpeiros sabem que se trata de um jogo: eles dizem que o garimpo dá e volta a tomar.
"Às vezes não se acha nada por meses e, um belo dia, em dez minutos aparecem as pedras que pagam tanta fatiga", diz Anísio, um senhor de 73 anos, que ainda sai para o mato. Assim, por paixão.
Quando uma caixa de fósforos acaba, os garimpeiros a jogam fora aberta, para não fechar a sorte. E há também a "leivosia", quando um garimpeiro morto aparece no sonho e diz onde está o diamante.
(VINCENZO SCARPELLINI)


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