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CORAÇÃO DA BAHIA
Cidade é patrimônio da humanidade
Em Lençóis, igreja exibe cerâmica de Macau, lembrança do garimpo
ESPECIAL PARA A FOLHA
Como pausa entre os passeios
pela chapada, é bom "descansar"
um dia explorando Lençóis, cidadezinha de muitas subidas e descidas, sem meta e sem pressa. Foi
rica com o comércio de diamantes, depois abandonada e, hoje,
volta à vida com o turismo.
Embora um bom restauro não
faça mal, Lençóis é bem conservada e foi tombada como patrimônio histórico. Parece uma mistura
da cidade mineira de Tiradentes
com um vilarejo toscano.
A paisagem inclui rochas do rio,
cachoeiras, ruas e casas em pedra
em estilo uniforme, telhados
avermelhados e uma ponte com
arcos amplos e redondos. Bem
poderia figurar no fundo de um
quadro de Leonardo da Vinci, se a
Bahia tivesse precisado dele.
Em sua época de esplendor,
Lençóis chegou a ser a terceira cidade do Estado, depois de Salvador e Ilhéus, como testemunham
o prédio que hospedou o consulado francês e as decorações nas fachadas dos palacetes. Quando os
diamantes ficaram mais raros e a
decadência parecia chegar, houve
uma inesperada reviravolta com
o diamante preto, o carbonato.
Essa pedra de estrutura amorfa
se revelou mais adequada que o
diamante para suportar as necessidades industriais no começo do
século 20. Foi empregada na
construção do canal do Panamá e
do metrô de Londres e chegou a
custar mais caro que o diamante.
Mas isso também não durou muito: as ligas modernas substituíram o carbonato e o preço caiu
sem que nada pudesse ser feito.
Lençóis ficou quase vazia. Os
pedaços que sobraram das louças
de cerâmica, importadas de Macau para decorar as casas mais refinadas, foram decorar os pináculos de uma igreja. No fim dos anos
70, num processo lento que ainda
não acabou, a cidade começou a
se organizar para o turismo, em
sua nova ascensão.
Em setembro de 1985 foi criado,
por decreto, o Parque Nacional da
Chapada Diamantina, que abrange uma área de 152 mil hectares.
Suas principais atrações incluem
a cachoeira da Fumaça, de 340 m,
e a gruta do Lapão, a maior de
quartzito das Américas.
Jogo da sorte
Os últimos garimpeiros da Chapada Diamantina não querem
passar a profissão para os filhos e,
com medo de que eles achem um
diamante e não queiram parar,
nem os levam para ver como é.
O garimpo é um composto de
vida rude, de liberdade e de jogo
da sorte. Embora a experiência
seja muito importante, os garimpeiros sabem que se trata de um
jogo: eles dizem que o garimpo dá
e volta a tomar.
"Às vezes não se acha nada por
meses e, um belo dia, em dez minutos aparecem as pedras que pagam tanta fatiga", diz Anísio, um
senhor de 73 anos, que ainda sai
para o mato. Assim, por paixão.
Quando uma caixa de fósforos
acaba, os garimpeiros a jogam fora aberta, para não fechar a sorte.
E há também a "leivosia", quando
um garimpeiro morto aparece no
sonho e diz onde está o diamante.
(VINCENZO SCARPELLINI)
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