São Paulo, segunda-feira, 26 de novembro de 2001

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HOTELARIA

Aluno vive papéis de hóspede e funcionário em hotel-escola, que ensina desde gerenciamento até serviço de garçom

Diploma de "grife" suíça requer esforço

DO ENVIADO ESPECIAL À SUÍÇA

A escola: um palácio centenário no alto das montanhas suíças. A paisagem: o lago Leman e a riviera de Montreux, de tirar o fôlego. A infra-estrutura: primeiro mundo. A tarefa reservada aos alunos: cozinhar, servir, cuidar da limpeza.
Até parece contra-senso. Passar por testes, mudar de país, deixar família, pagar anualidade no valor de dois carros "populares" zero-quilômetro, para lavar pratos?
Exato. Nos cursos de hotelaria, a prática impõe-se tão inevitável quanto a neve que forra o telhado da SHMS (Swiss Hotel Management School) no inverno. Se essa é a regra em qualquer escola, na Suíça não seria diferente. Aliás, o rigor na formação prática pode ser considerado até mais árduo.
O estudante que quer frequentar instituições européias como a SHMS em busca de um certificado internacional fácil nem precisa pensar em arrumar as malas.
É certo que a chamada "empregabilidade" dos formados em boas escolas cresce exponencialmente; sua experiência de vida é certamente inestimável, e a Suíça, uma pintura. Mas a vida do aluno de hotelaria não é chocolate.
O lema fica claro. Mesmo para os que serão futuros executivos do setor hoteleiro, uma visão geral de todo o processo -o que inclui culinária e arrumação dos quartos- não faz mal a ninguém.
Na SHMS, os alunos têm essa experiência prática logo no primeiro ano. Preparam as refeições de todos os cerca de 340 estudantes, servem os companheiros com a destreza de um garçom, limpam os mais de cem quartos. Em outras palavras, "ralam" bastante.
Não é à toa que os maiores índices de desistência registrados na escola ficam a cargo dos novatos.

Rigor suíço
Além de todo o aprendizado prático, ainda têm pela frente o rigor da disciplina. O uso do uniforme (com casaco, terno e gravata) é obrigatório durante quase todo o dia. Quem se atrasa mais de uma vez para as aulas, por exemplo, ganha de prêmio a tarefa de lavar panelas no fim de semana. Barba por fazer também rende pontos negativos aos rapazes.
Segundo o "reitor", o italiano Remo Sampieri (que já comandou hotéis conceituados como o Waldorf Astoria, em Nova York), "adquirir disciplina é fundamental para trabalhar em hotelaria".
Por isso o horário das refeições é britânico -ainda mais no país dos relógios. No café da manhã, por exemplo, a turma responsável precisa madrugar para deixar tudo pronto para as 7h, horário em que os estudantes chegam ao restaurante principal da escola.

Vida de hóspede
Mas essas regras e tarefas práticas não parecem desestimular os alunos. "Só pode orientar aquele que sabe fazer", afirma a brasileira Lívia da Costa Ribeiro, 19, de Campinas (SP), que está no segundo ano do curso na SHMS, equivalente a um de tecnólogo.
O estágio que fez no primeiro ano foi como garçonete em um hotel de Genebra, onde trabalhava até nove horas por dia. "Mas os sacrifícios compensam. Quando voltar ao Brasil, quero tentar uma boa posição, como gerente", diz.
O período obrigatório de estágio faz parte dessa ênfase dada pela SHMS à formação prática. O estudante cursa um módulo acadêmico, com cinco meses de aula, seguido por quatro a seis meses de estágio supervisionado e remunerado em hotéis ou na própria escola -que tem toda a estrutura de um hotel comercial, mas que não recebe hóspedes externos, apenas os estudantes.
A escola possui, por exemplo, três restaurantes: uma espécie de refeitório, mais informal, um ambiente com cozinha internacional e outro especializado na culinária francesa. Os alunos escalados para o atendimento têm de tratar os demais com toda a cortesia e presteza que seria dada a um hóspede. Para não perder a prática.
(CLEBER MARTINS)



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