|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HOTELARIA
Aluno vive papéis de hóspede e funcionário em hotel-escola, que ensina desde gerenciamento até serviço de garçom
Diploma de "grife" suíça requer esforço
DO ENVIADO ESPECIAL À SUÍÇA
A escola: um palácio centenário
no alto das montanhas suíças. A
paisagem: o lago Leman e a riviera
de Montreux, de tirar o fôlego. A
infra-estrutura: primeiro mundo.
A tarefa reservada aos alunos: cozinhar, servir, cuidar da limpeza.
Até parece contra-senso. Passar
por testes, mudar de país, deixar
família, pagar anualidade no valor
de dois carros "populares" zero-quilômetro, para lavar pratos?
Exato. Nos cursos de hotelaria, a
prática impõe-se tão inevitável
quanto a neve que forra o telhado
da SHMS (Swiss Hotel Management School) no inverno. Se essa
é a regra em qualquer escola, na
Suíça não seria diferente. Aliás, o
rigor na formação prática pode
ser considerado até mais árduo.
O estudante que quer frequentar instituições européias como a
SHMS em busca de um certificado internacional fácil nem precisa
pensar em arrumar as malas.
É certo que a chamada "empregabilidade" dos formados em
boas escolas cresce exponencialmente; sua experiência de vida é
certamente inestimável, e a Suíça,
uma pintura. Mas a vida do aluno
de hotelaria não é chocolate.
O lema fica claro. Mesmo para
os que serão futuros executivos
do setor hoteleiro, uma visão geral de todo o processo -o que inclui culinária e arrumação dos
quartos- não faz mal a ninguém.
Na SHMS, os alunos têm essa
experiência prática logo no primeiro ano. Preparam as refeições
de todos os cerca de 340 estudantes, servem os companheiros com
a destreza de um garçom, limpam
os mais de cem quartos. Em outras palavras, "ralam" bastante.
Não é à toa que os maiores índices de desistência registrados na
escola ficam a cargo dos novatos.
Rigor suíço
Além de todo o aprendizado
prático, ainda têm pela frente o rigor da disciplina. O uso do uniforme (com casaco, terno e gravata)
é obrigatório durante quase todo
o dia. Quem se atrasa mais de
uma vez para as aulas, por exemplo, ganha de prêmio a tarefa de
lavar panelas no fim de semana.
Barba por fazer também rende
pontos negativos aos rapazes.
Segundo o "reitor", o italiano
Remo Sampieri (que já comandou hotéis conceituados como o
Waldorf Astoria, em Nova York),
"adquirir disciplina é fundamental para trabalhar em hotelaria".
Por isso o horário das refeições é
britânico -ainda mais no país
dos relógios. No café da manhã,
por exemplo, a turma responsável
precisa madrugar para deixar tudo pronto para as 7h, horário em
que os estudantes chegam ao restaurante principal da escola.
Vida de hóspede
Mas essas regras e tarefas práticas não parecem desestimular os
alunos. "Só pode orientar aquele
que sabe fazer", afirma a brasileira Lívia da Costa Ribeiro, 19, de
Campinas (SP), que está no segundo ano do curso na SHMS,
equivalente a um de tecnólogo.
O estágio que fez no primeiro
ano foi como garçonete em um
hotel de Genebra, onde trabalhava até nove horas por dia. "Mas os
sacrifícios compensam. Quando
voltar ao Brasil, quero tentar uma
boa posição, como gerente", diz.
O período obrigatório de estágio faz parte dessa ênfase dada pela SHMS à formação prática. O estudante cursa um módulo acadêmico, com cinco meses de aula,
seguido por quatro a seis meses
de estágio supervisionado e remunerado em hotéis ou na própria escola -que tem toda a estrutura de um hotel comercial,
mas que não recebe hóspedes externos, apenas os estudantes.
A escola possui, por exemplo,
três restaurantes: uma espécie de
refeitório, mais informal, um ambiente com cozinha internacional
e outro especializado na culinária
francesa. Os alunos escalados para o atendimento têm de tratar os
demais com toda a cortesia e presteza que seria dada a um hóspede.
Para não perder a prática.
(CLEBER MARTINS)
Texto Anterior: Hotelaria: Suíça atrai alunos para temporada em "cartão-postal" Próximo Texto: Escolas mesclam nacionalidades Índice
|