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O PAÍS E O POETA
Gibran reconstrói cenários do Líbano em obra literária
Conheça a terra natal do pintor e escritor que dizia representar mais a alma das coisas que sua aparência
Paulo Daniel Farah/Folha Imagem
| A praça dos Mártires, em Beirute |
PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL AO LÍBANO
Os cedros do norte do Líbano, as montanhas encimadas
de neve, os desfiladeiros místicos e silenciosos, o refúgio na
morada primordial e final no
mosteiro de Mar Sarkis: o espaço de vivência de Gibran Khalil
Gibran imbuído de sentido se
reconstrói em seus escritos:
Wadi Qadicha (o vale Sagrado)
expõe suas oliveiras e discorre
sobre pertença, providência e
plenitude, envoltas numa crença desterritorializada e híbrida.
Nesta edição, o caderno de
Turismo mostra a terra desse
pintor e escritor libanês nascido no final do século 19 e desvenda os lugares que influenciaram a sua obra.
O contorno do vale Sagrado e
os agrupamentos de casas de
pedra agarradas à encosta de
terraços da montanha em meio
a plantações e extensas vinhas
revelam a presença humana, já
atestada anteriormente, nos
vestígios das cavernas, a formar
pequenas aldeias no vale.
É eloqüente o papel da natureza na criação literária de Gibran. "Há quem creia que o trabalho do artista seja o de imitar a natureza. Mas ela é grande
demais para ser imitada. Na
realidade, o trabalho do artista
é representar a alma de uma árvore mais do que reproduzir
sua aparência", ponderou o
próprio autor, que celebra a natureza, pois crê na fusão do ser
humano a seu meio.
Na obra "Temporais", o protagonista da história, um eremita de 30 anos recluso no topo
de uma montanha, vê nas tormentas o símbolo kaliano da
destruição e da regeneração e
procura desvendar, na natureza, os segredos do universo.
O eremita seria Gibran? Ou
seria a tempestade? Em sua
obra, a consciência se expressa
e tem voz. Vêem-se e ouvem-se
em seus escritos a neve, as
montanhas e os rochedos do
Líbano. Na tempestade, o vento
fala, e assim fazem as chuvas.
"O Líbano dos Cedros, do
"Cântico dos Cânticos"... Nasci
perto do Cedro do Senhor, na
ponta do vale Sagrado, em uma
aldeia chamada Bcharre", escreveu Gibran sobre a região de
montanhas, mosteiros, planícies e rios inquietos de onde
partiu -com a mãe Kamle, as
irmãs Marianna e Sultana e o
irmão Butrus- para os Estados
Unidos no final do século 19,
uma terra em processo de urbanização e industrialização.
PAULO DANIEL FARAH é professor da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da USP
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