São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 2002

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ILHAS À PORTUGUESA

Com traçado geométrico que segue modelo europeu, ex-capital do reino é patrimônio mundial

Heroísmo de Terceira renomeou cidade

João Bittar/Folha Imagem
A praça Velha, com o monte Brasil ao fundo, é considerada a mais antiga de Portugal e abriga os paços do Concelho de Angra do Heroísmo, principal cidade da ilha


DO ENVIADO ESPECIAL A PORTUGAL

Terceira a ser descoberta e terceira em tamanho, a ilha Terceira, com seus 29 km de comprimento e 17,5 km de largura, tem belíssimos campos, lagoas, escarpas de pedra vulcânica comuns a todo o arquipélago e a história mais saborosa de todas as ilhas.
Além das ameaças de piratas ingleses, sua população se opunha ao domínio dos espanhóis, que lá ficaram por 58 anos (de 1583 a 1641), guardando seus carregamentos de ouro e prata do novo continente, até serem expulsos. A partir de 1820, ela se tornou o principal reduto dos constitucionalistas e dos liberais em memoráveis batalhas que batizaram as suas cidades, como Praia da Vitória e Angra do Heroísmo (antes chamada apenas Angra), por projeto do poeta Almeida Garrett.
O layout geométrico de Angra do Heroísmo, principal cidade da ilha Terceira, precede as reformas urbanas da Baixa de Lisboa do período pombalino. A praça Velha, que abriga a Câmara Municipal nos paços do Concelho, é considerada a primeira de Portugal e constituiu o centro da primeira cidade oficialmente criada em todo o arquipélago, em 1534.
O traçado da cidade segue o modelo urbanístico europeu e está ligado à sua função marítima de porto e entreposto obrigatório para os navegadores que iam à África, à América e às Índias.
Angra do Heroísmo se tornou Patrimônio Histórico Mundial em 1983 pela Unesco (órgão da ONU para a educação e ciência).
Nos palácios, nas igrejas e nos conventos da cidade, o fervor religioso (especialmente pelo Espírito Santo, principal padroeiro das ilhas) resplandece na arquitetura original, com suas tradicionais madeiras talhadas e suntuoso mobiliário em jacarandá.
A enorme quantidade de conventos, que serviam de refúgio e exílio para jovens donzelas de amores impossíveis e famílias ricas do continente, dá um certo clima de desterro, solidão e distância, mesclados com as constantes brumas e névoas das ilhas.
Os tons coloridos do sol do arquipélago convidam o visitante a agradáveis passeios pelas ruas planejadas, com seus edifícios com varandas de ferro fundido -herança do comércio com os ingleses, importadores de laranjas-, ou nos jardins públicos. Vale dar uma paradinha para saborear o café expresso dos bares.
Fora da cidade, o restaurante Quinta do Martelo organiza cursos sobre a história gastronômica da ilha, com direito a degustação de pratos servidos há mais de 500 anos. Não há como se arrepender. De qualquer forma, come-se muito bem e barato na ilha toda.
Também perto de Angra, o monte Brasil, que tem um mirante com um monumento aos descobrimentos, oferece uma vista excelente da parte ocidental da ilha. Quem caminha por ali se depara com castelos construídos pelos espanhóis, como o de São João Batista (antigo São Filipe), com quatro quilômetros de muralhas ao redor do monte.
A origem do nome do monte é controversa. Pode vir de Brashel, ilha mítica da Irlanda, pode ser algum termo latino para árvores "tintureiras", ou pode ainda estar associado ao fato de o proprietário do monte ter viajado para o Brasil. O certo é que existem mapas de 1507 com o monte já batizado de Brassil.
Ao norte está a praia dos Biscoitos, com suas piscinas naturais, uma das raras praias com características semelhantes às do Brasil. Biscoitos tem esse nome por causa das pedras pretas de lava que pontuam a costa. A praia fica numa vila de pescadores que é o balneário mais procurado no verão.
A outra cidade da ilha, Praia da Vitória, tem história tão rica como a de Angra e ainda abriga uma base militar americana, vizinha ao aeroporto de Lages, o único da ilha Terceira. (JOÃO BITTAR)



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