PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A NOVA TRENTO (SC)

Fundada por parentes de madre Paulina (1865-1942), a primeira santa do Brasil, Nova Trento vem atraindo cada vez mais devotos. Com pouco menos de 10 mil habitantes, a cidade catarinense espera que o turismo (sobretudo religioso) se torne a base de sua economia. Hoje, o setor representa 20% da economia local, mas o objetivo é aumentar essa porcentagem para 60% nos próximos dois anos, segundo a Secretaria de Turismo de Nova Trento -as consultas a esse órgão aumentaram 900% em dois meses.
"Queremos um crescimento ordenado e tudo ainda é muito recente", diz Ivana Cadore, 33, secretária de Turismo. Ela afirma que a meta é fazer com que a cidade seja não apenas a segunda estância turístico-religiosa do país (atrás de Aparecida do Norte), mas que também não perca "a identidade de berço da causa de santa Paulina", evitando que o progresso traga violência.
É justamente essa uma das principais preocupações de seus habitantes. "Hoje não preciso trancar a casa, mas não sei como será amanhã", explica José Kons, morador de Nova Trento, resumindo a apreensão quanto ao futuro.
A maioria das casas não tem nenhum tipo de muro nem grade, e as portas costumam ficar abertas. Mas a prefeitura já distribuiu folhetos em que recomenda a construção de muros e calçadas.
Até o início do ano o santuário costumava receber cerca de 5.000 visitantes por mês. A partir de fevereiro, esse número aumentou para 25 mil, e a expectativa é que dobre a quantidade de peregrinos nos próximos meses. Os hotéis de Nova Trento (quatro, com apenas 250 leitos) e de municípios vizinhos, como Brusque, Itajaí e São João Batista, têm ficado lotados.
No último dia 19 de maio, quando madre Paulina foi canonizada, a polícia mobilizou 200 pessoas, e mesmo assim houve alguns furtos. Em geral, dez pessoas se responsabilizam pela segurança da cidade, e a intenção é instalar um posto policial no santuário, segundo o coronel Edson de Souza.
A festa litúrgica -o "dia do santo"- de madre Paulina será em 9 de julho (a data da morte da santa), mas as celebrações acontecem no segundo domingo do mês. Em 14 de julho, o santuário promoverá uma grande festa. No local, há uma igreja com a imagem da santa, uma animação mecanizada da vida de madre Paulina, monumentos dedicados a ela, uma réplica do casebre onde ela cuidava de doentes, principalmente de câncer, e um museu sobre a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição.
A administração municipal quer incentivar a visita a outros locais de culto -são 36, entre igrejas, capelas e oratórios, apenas em Nova Trento, única cidade brasileira que possui dois santuários: o de madre Paulina, no bairro do Vígolo, e o de Nossa Senhora do Bom Socorro, localizado a 525 m de altitude, em um morro situado no centro -são 8 km até o topo, onde há uma igreja, um mirante e uma estátua de bronze de Nossa Senhora, presente de uma condessa francesa. A estátua está no morro desde 1906.
Embora o principal atrativo seja a devoção a santa Paulina, que, em 1875 (com nove anos), veio com seus pais de Trento (Itália) e ajudou a fundar a cidade de Nova Trento, a região vem recebendo cada vez mais turistas em busca de tranquilidade e de uma natureza exuberante, com cachoeiras, córregos e cascatas, além de conforto espiritual. Nova Trento também se destaca por sua colonização italiana, cujas festas e a gastronomia (vinhos e queijos) são destaques. Nesse roteiro, o passeio pelas vinícolas é interessante. A produção anual gira em torno de 900 mil litros.
O prefeito Godofredo Luiz Tonini (PPS) afirma já ter recebido propostas de investidores interessados em construir grandes hotéis (como as redes Ibis, Le Canard e Parthenon), e a empresa Bogotur planeja abrir um parque temático sobre a Itália -95% da cidade tem ascendência italiana.
Nova Trento ainda é um município pequeno para oferecer suporte e infra-estrutura aos turistas. Já a região de Balneário Camboriú, a cerca de uma hora, oferece mais de 20 mil leitos.
O prefeito diz que prefere esperar a reforma do plano diretor do município, que começa ainda neste mês, "para evitar um crescimento desorganizado". Tonini alega que o plano não pretende barrar os investimentos e defende o fim da exigência de que na área em torno do santuário só possam ser construídas casas. "É principalmente naquela região que os investidores têm interesse", argumenta. Ele já estuda desapropriações ao longo do caminho, de cerca de 6 km, que vai do centro de Nova Trento ao santuário.
A prefeitura realizou diversas obras emergenciais, como melhorias na pavimentação dos acessos ao santuário, a construção de uma ponte e a instalação de 75 placas de sinalização, mas a paisagem ainda deve sofrer muitas alterações. Resta esperar que as campanhas de conscientização em vigor amenizem os efeitos nocivos de um crescimento certo.


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