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JOSÉ AVILLEZ
Fiz uma ruptura total com passado do restaurante
EM APENAS DOIS ANOS, CHEF REFORMULA O TAVARES E CASA GANHA A SUA PRIMEIRA ESTRELA
ENVIADA A PORTUGAL
Um dos chefs mais novos
de Portugal à frente do restaurante mais antigo do país.
Quem comanda a cozinha do
Tavares, de 226 anos, é José
Avillez, de 30. Quando assumiu, há dois anos, o principal desafio do jovem chef foi
mudar os pratos sem desrespeitar a história do lugar.
Deu certo. Com opções arrojadas e o rompimento com
a culinária praticada pelos
antigos chefs, neste ano o Tavares ganhou a primeira estrela do "Guia Michelin".
Leia trechos da entrevista.
Folha - O que você mudou na
cozinha do Tavares?
José Avillez - Tudo! Respeito a história do Tavares, mas
fiz uma ruptura total com seu
passado culinário.
Foi essa ruptura que o levou à
estrela do " Guia Michelin"?
Temos de olhar o que efetivamente conseguimos em
termos de qualidade nessa
reestruturação da cozinha.
O Tavares estava passando por anos complicados,
com a entrada e saída de
chefs e falências. Não foi fácil
porque a expectativa de muitas pessoas era a de que eu
não conseguiria fazer nada,
mas nós conseguimos.
Em menos de dois anos recebemos uma estrela e colocamos o restaurante cheio
quase todos os dias.
Como é a cozinha que você
pratica no Tavares?
Estamos fazendo um trabalho que vai buscar os sabores da cozinha portuguesa.
Optei por recuperar pratos
da cozinha tradicional, como
o bacalhau na brasa, o arroz
de mariscos e as amêijoas à
Bulhão Pato. O resto são criações inspiradas nos pratos
das várias regiões, numa
culinária contemporânea.
Isso agrada não só aos
críticos estrangeiros, como
aos portugueses que costumavam vir ao Tavares. Não é
possível agradar a todo mundo. Há os que preferem os
pratos que eram servidos antigamente. Mas a maioria
gostou e volta sempre.
Qual a diferença do que se fazia e do que é feito hoje?
É um bocadinho complicado explicar, mas o Tavares ficou um tempo fazendo cozinha de pratos mais franceses. Em 2004 ele foi comprado e começaram a ser implantados pratos da alta cozinha. Outros chefs vieram, já
tentando fazer essa ruptura
com o passado. Mas as coisas
não correram muito bem.
Qual o segredo do ovo que o
cardápio diz que vem da "galinha dos ovos de ouro"?
Não há um segredo muito
grande. Há uma técnica aplicada na cozedura do ovo, um
ovo biológico fresco.
Ele é cozido em banho-maria a 63,5 por 40 minutos por
causa da coagulação da gema e da clara, que atingem os
pontos certos nessa altura.
É um ovo muito cremoso,
em que a gema está líquida,
mas não totalmente, e a clara
está no ponto certo. Coloco
alguns sabores terrosos no
prato, como cogumelos.
Qual é o seu prato preferido?
O que eu chamo de "mergulho no mar", um robalo
que é cozido em baixa temperatura e é fervido com algas.
Você chegou a fazer estágio
no elBulli. Como foi sua trajetória até aqui?
Fiz cursos com Allan Ducasse, estagiei com grandes
chefs em Paris e tive um restaurante em Cascais.
Andei também pelo Brasil,
para fazer consultorias entre
Rio e Angra. Abri um bufê, fui
trabalhar com o Ferran Adriá
no elBulli e passei lá três meses. Acho que foi o grande
marco na minha vida.
Você é muito jovem. Há um
conflito de geração entre a
sua cozinha e a velha guarda
portuguesa?
A cozinha, como tudo na
vida, é fruto do nosso percurso. Chefs 20 anos mais velhos
do que eu a vivenciaram de
uma maneira diferente. Eu
recebi grande influência da
cozinha espanhola, tive a
oportunidade de viajar muito. Não sei se conflito é a palavra, mas há diferenças.
Você conhece chefs brasileiros? É fã de algum deles?
Sim. Gosto muito do Alex
Atala. Ele veio jantar aqui
três semanas atrás. Eu já
mandei um estagiário meu
passar alguns meses com ele.
E não é só pela cozinha do
DOM, ao qual já fui cinco vezes. Ele é uma pessoa extraordinária e importante na
construção de uma nova cozinha brasileira.
Como definiria a cozinha portuguesa?
Só experimentando!
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