São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Próximo Texto | Índice

VENEZA EM LETRAS

Nativo ainda considera San Marco 'umbigo do mundo'

Para habitante local, artes e ciências saem dali em círculos que enfraquecem à medida que se distanciam

Luigi Costantini - 2003/Associated Press
Gôndolas participam de tradicional regata no Grande Canal, todos elementos descritos pela escritora inglesa Jan Morris em "Venice", um dos principais livros publicados sobre a cidade italiana

THIAGO MOMM
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Se a praça San Marco é o umbigo de Veneza, ela também já foi o umbigo do mundo. Isso porque Veneza, até que Vasco da Gama mudasse a rota do comércio para o Ocidente, em 1498, era uma república que mandava e desmandava em umbigos alheios.
Mas, para os nativos mais arraigados, continuou assim: "Os verdadeiros venezianos estão convencidos de que as habilidades, artes e ciências do mundo saem, em círculos que enfraquecem à medida que se afastam, da praça San Marco", escreveu a inglesa Jan Morris na década de 1960 em "Venice", livro revisado por ela três décadas depois e considerado pelo jornal "Sunday Times" o melhor já escrito sobre a cidade.
Verdadeira veneziana, uma atendente da livraria Sansovino (praça San Marco, 84; www.libreriasansovino.com) recomendou não apenas "Venice" como outros livros sobre a cidade italiana.
É bastante culpa dela a abordagem deste caderno. E culpa do repórter se a lista de livros sobre Veneza completada posteriormente e distribuída nesta edição omitiu algum grande título. Se não encontrar nenhuma falta grave, mostre a lista para um veneziano e ele fará isso por você. "Eles nunca resistem à oportunidade de dizer o quanto enganado você está", ensina Jan Morris.

Velha enrugada
Shakespeare (1564-1616) nunca viajou para lá. Escreveu a partir de relatos. Mesmo assim, "O Mercador de Veneza" e "Otelo, o Mouro de Veneza" (ambos R$ 10,50 pela ed. Martin Claret) estão entre os livros com que o leitor mais topará se fizer uma busca, nas livrarias, com o nome da cidade.
Também recorrente é "Morte em Veneza", de Thomas Mann (1875-1955), que no caso conheceu o cenário.
Giacomo Casanova nasceu naquela paragem e passou mais de 30 anos nela. É célebre a sua fuga da prisão do palácio Ducale, episódio que narrou na autobiografia. O filósofo francês Jean-Paul Sartre publicou dois ensaios, sobre a cidade e sobre o pintor local do século 16 Tintoretto, reunidos em "O Seqüestrado de Veneza".
O escritor inglês Milton Grundy recorreu a 116 livros para produzir "Veneza - O Guia de Antologias", que compila descrições de pessoas e livros famosos.
Inspirada em leituras como as de Grundy, a professora de literatura Tony Sepeda dá aulas na universidade local e conduz tours literários. E até aluga aos turistas uma casa com uma biblioteca especializada em história da arte e em... Veneza.
Estabelecida por aquelas bandas desde 1981, a norte-americana Donna Leon ambientou nelas, de 1992 para cá, nada menos que 16 romances policiais. "Com certeza não sou mais famosa do que Thomas Mann. Mas sim, suponho que sou famosa por escrever sobre Veneza", disse à Folha em entrevista em que explica seu gosto por espalhar cadáveres fictícios por vielas e canais.
Do que Leon não gosta é de turismo abundante. Lamenta os mais de 15 milhões que visitam suas imediações anualmente e inclui nos seus livros resmungos a respeito. Em "Morte no Teatro La Fenice", estampou: "Outrora capital das dissipações de um continente, Veneza se tornou uma cidadezinha provinciana que praticamente deixa de existir depois das nove ou dez da noite. Durante os meses de verão, ela pode lembrar seus dias de gala, enquanto os turistas pagam e o verão dura, mas no inverno torna-se uma velha enrugada e cansada, desejando apenas ir para cama bem cedo, deixando suas ruas desertas aos gatos e às lembranças do passado".


Thiago Momm viajou a convite da Royal Caribbean


Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.