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VENEZA EM LETRAS
Nativo ainda considera San Marco 'umbigo do mundo'
Para habitante local, artes e ciências saem dali em círculos que enfraquecem à medida que se distanciam
Luigi Costantini - 2003/Associated Press
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Gôndolas participam de tradicional regata no Grande Canal, todos elementos descritos pela escritora inglesa Jan Morris em "Venice", um dos principais livros publicados sobre a cidade italiana
THIAGO MOMM
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA
Se a praça San Marco é o umbigo de Veneza, ela também já
foi o umbigo do mundo.
Isso porque Veneza, até que
Vasco da Gama mudasse a rota
do comércio para o Ocidente,
em 1498, era uma república que
mandava e desmandava em
umbigos alheios.
Mas, para os nativos mais arraigados, continuou assim: "Os
verdadeiros venezianos estão
convencidos de que as habilidades, artes e ciências do mundo
saem, em círculos que enfraquecem à medida que se afastam, da praça San Marco", escreveu a inglesa Jan Morris na década de 1960 em "Venice", livro revisado por ela três décadas depois e considerado pelo
jornal "Sunday Times" o melhor já escrito sobre a cidade.
Verdadeira veneziana, uma
atendente da livraria Sansovino (praça San Marco, 84;
www.libreriasansovino.com) recomendou não apenas
"Venice" como outros livros
sobre a cidade italiana.
É bastante culpa dela a abordagem deste caderno. E culpa
do repórter se a lista de livros
sobre Veneza completada posteriormente e distribuída nesta
edição omitiu algum grande título. Se não encontrar nenhuma falta grave, mostre a lista
para um veneziano e ele fará isso por você. "Eles nunca resistem à oportunidade de dizer o
quanto enganado você está",
ensina Jan Morris.
Velha enrugada
Shakespeare (1564-1616)
nunca viajou para lá. Escreveu
a partir de relatos. Mesmo assim, "O Mercador de Veneza" e
"Otelo, o Mouro de Veneza"
(ambos R$ 10,50 pela ed. Martin Claret) estão entre os livros
com que o leitor mais topará se
fizer uma busca, nas livrarias,
com o nome da cidade.
Também recorrente é "Morte em Veneza", de Thomas
Mann (1875-1955), que no caso
conheceu o cenário.
Giacomo Casanova nasceu
naquela paragem e passou mais
de 30 anos nela. É célebre a sua
fuga da prisão do palácio Ducale, episódio que narrou na autobiografia.
O filósofo francês Jean-Paul
Sartre publicou dois ensaios,
sobre a cidade e sobre o pintor
local do século 16 Tintoretto,
reunidos em "O Seqüestrado de
Veneza".
O escritor inglês Milton
Grundy recorreu a 116 livros
para produzir "Veneza - O Guia
de Antologias", que compila
descrições de pessoas e livros
famosos.
Inspirada em leituras como
as de Grundy, a professora de
literatura Tony Sepeda dá aulas
na universidade local e conduz
tours literários. E até aluga aos
turistas uma casa com uma biblioteca especializada em história da arte e em... Veneza.
Estabelecida por aquelas
bandas desde 1981, a norte-americana Donna Leon ambientou nelas, de 1992 para cá,
nada menos que 16 romances
policiais. "Com certeza não sou
mais famosa do que Thomas
Mann. Mas sim, suponho que
sou famosa por escrever sobre
Veneza", disse à Folha em entrevista em que explica seu
gosto por espalhar cadáveres
fictícios por vielas e canais.
Do que Leon não gosta é de
turismo abundante. Lamenta
os mais de 15 milhões que visitam suas imediações anualmente e inclui nos seus livros
resmungos a respeito. Em
"Morte no Teatro La Fenice",
estampou: "Outrora capital das
dissipações de um continente,
Veneza se tornou uma cidadezinha provinciana que praticamente deixa de existir depois
das nove ou dez da noite. Durante os meses de verão, ela pode lembrar seus dias de gala,
enquanto os turistas pagam e o
verão dura, mas no inverno
torna-se uma velha enrugada e
cansada, desejando apenas ir
para cama bem cedo, deixando
suas ruas desertas aos gatos e
às lembranças do passado".
Thiago Momm viajou a convite da Royal Caribbean
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