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FIM DE SEMANA / PARATY (RJ) - 303 KM DE SP
Tradição toma ruas de Paraty para o Divino
De 5 a 16 de maio, cidade fluminense acolhe fiéis e turistas que participam de festa religiosa, seguindo rituais de três séculos
CRISTINA TARDÁGUILA FERREIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO
A cidade de Paraty, fundada no
Estado do Rio de Janeiro no fim
do século 16 para servir de entreposto comercial para o ouro e a
cana, estará a mil por hora entre
os dias 6 e 15 de maio, quando
acontecerá o evento mais importante de seu calendário: a esperada Festa do Divino Espírito Santo.
Celebrada de forma ininterrupta há mais de três séculos em homenagem à Terceira Pessoa da
Santíssima Trindade, a festa dura
dez dias e acaba no domingo de
Pentecostes.
Nesse período, milhares de fiéis
e turistas interessados em conhecer a tradição religiosa e em aproveitar a programação social que
corre em paralelo lotam as pousadas da cidade. Para organizar a
festa, promovida pela paróquia de
Nossa Senhora dos Remédios, o
pároco de Paraty elege, entre diversos candidatos, aqueles que assumirão o cargo de festeiros, pessoas incumbidas de garantir o
bom andamento da celebração.
A família escolhida para cuidar
da edição deste ano foi a do professor e artista plástico paratiense
Edson José de Oliveira. Ao lado da
irmã Andréia e da mãe, Inácia, ele
se prepara para transformar a casa em que moram no ponto de
saída para todas procissões.
"A sala da nossa casa será totalmente desmontada para receber
as peças do século 18 que pertencem ao Museu de Arte Sacra de
Paraty e compõem o Altar do Divino. Ela ficará aberta à visitação
pública durante os dez dias de festa e deverá receber mais de 150
pessoas interessadas em ver o altar diariamente", conta Oliveira.
Até os dias 14 e 15, considerados
o ponto alto da celebração, procissões diárias sairão da casa dos
Oliveira e irão à igreja da matriz,
depois de visitar diversos pontos
da cidade ao som da banda e da
Folia, um grupo de senhores que
"cantam versos e tocam violão e
pandeiro para louvar o Espírito
Santo", acrescenta o festeiro.
No último sábado da Festa do
Divino, sairá o Bando Precatório,
procissão que pretende arrecadar
os últimos fundos necessários à
celebração, que custa cerca de R$
50 mil por ano.
Depois disso, será oferecido
perto da igreja e de forma gratuita
um almoço preparado pelas senhoras da comunidade para cerca
de 6.000 pessoas. No menu: carne
assada, carne ensopada, frango,
macarronada, farofa de feijão preto, arroz e muito refrigerante.
Às 17h, acontece a coroação do
Menino Imperador, momento
em que uma criança de Paraty
veste roupas de época e recebe
com "grande honra" o cetro e a
coroa que até então eram exibidos
no Altar do Divino. Seguido por
quatro guardas de honra e dois
vassalos, todos crianças de até 12
anos de idade, dá início ao império do Divino, quando a cidade recorda suas danças tradicionais.
O último domingo é o dia mais
importante da festa. Após uma
procissão que sai às 9h com um
resplendor composto por uma
peça de madeira do século 17 com
uma pomba, o símbolo do Divino, no centro, é celebrada a missa
solene cantada, que recebe romeiros de todo o país. Cerca de duas
horas depois, a procissão caminha até a antiga cadeia da cidade e
vê o Menino Imperador libertar
um preso de forma figurativa.
"Esse é o momento em que
mostramos que o Espírito Santo
liberta todos da opressão e da angústia", explica Oliveira.
Depois disso, são distribuídos
às crianças cajuzinhos, cocadas e
doces de banana e de abóbora
vindos do Vale do Paraíba.
Acompanhada da multidão, a
última procissão sai às 17h e passa
pelo bairro histórico, quando é
declarado o encerramento da festa. Acontecem, então, a queima
de fogos da praia, shows, apresentações de teatro de rua e gincanas.
Nada disso, no entanto, parece
preocupar ou mesmo cansar Oliveira e sua família.
"Ser festeiro é trabalhar muito,
ter amor pela festividade e convicção da fé que proclama. É querer
fazer que as pessoas se unam nesta festa que é para Deus e para o
povo que vive e visita Paraty."
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