São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 2005

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FIM DE SEMANA / PARATY (RJ) - 303 KM DE SP

Tradição toma ruas de Paraty para o Divino

De 5 a 16 de maio, cidade fluminense acolhe fiéis e turistas que participam de festa religiosa, seguindo rituais de três séculos

CRISTINA TARDÁGUILA FERREIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO

A cidade de Paraty, fundada no Estado do Rio de Janeiro no fim do século 16 para servir de entreposto comercial para o ouro e a cana, estará a mil por hora entre os dias 6 e 15 de maio, quando acontecerá o evento mais importante de seu calendário: a esperada Festa do Divino Espírito Santo.
Celebrada de forma ininterrupta há mais de três séculos em homenagem à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, a festa dura dez dias e acaba no domingo de Pentecostes.
Nesse período, milhares de fiéis e turistas interessados em conhecer a tradição religiosa e em aproveitar a programação social que corre em paralelo lotam as pousadas da cidade. Para organizar a festa, promovida pela paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, o pároco de Paraty elege, entre diversos candidatos, aqueles que assumirão o cargo de festeiros, pessoas incumbidas de garantir o bom andamento da celebração.
A família escolhida para cuidar da edição deste ano foi a do professor e artista plástico paratiense Edson José de Oliveira. Ao lado da irmã Andréia e da mãe, Inácia, ele se prepara para transformar a casa em que moram no ponto de saída para todas procissões.
"A sala da nossa casa será totalmente desmontada para receber as peças do século 18 que pertencem ao Museu de Arte Sacra de Paraty e compõem o Altar do Divino. Ela ficará aberta à visitação pública durante os dez dias de festa e deverá receber mais de 150 pessoas interessadas em ver o altar diariamente", conta Oliveira.
Até os dias 14 e 15, considerados o ponto alto da celebração, procissões diárias sairão da casa dos Oliveira e irão à igreja da matriz, depois de visitar diversos pontos da cidade ao som da banda e da Folia, um grupo de senhores que "cantam versos e tocam violão e pandeiro para louvar o Espírito Santo", acrescenta o festeiro.
No último sábado da Festa do Divino, sairá o Bando Precatório, procissão que pretende arrecadar os últimos fundos necessários à celebração, que custa cerca de R$ 50 mil por ano.
Depois disso, será oferecido perto da igreja e de forma gratuita um almoço preparado pelas senhoras da comunidade para cerca de 6.000 pessoas. No menu: carne assada, carne ensopada, frango, macarronada, farofa de feijão preto, arroz e muito refrigerante.
Às 17h, acontece a coroação do Menino Imperador, momento em que uma criança de Paraty veste roupas de época e recebe com "grande honra" o cetro e a coroa que até então eram exibidos no Altar do Divino. Seguido por quatro guardas de honra e dois vassalos, todos crianças de até 12 anos de idade, dá início ao império do Divino, quando a cidade recorda suas danças tradicionais.
O último domingo é o dia mais importante da festa. Após uma procissão que sai às 9h com um resplendor composto por uma peça de madeira do século 17 com uma pomba, o símbolo do Divino, no centro, é celebrada a missa solene cantada, que recebe romeiros de todo o país. Cerca de duas horas depois, a procissão caminha até a antiga cadeia da cidade e vê o Menino Imperador libertar um preso de forma figurativa.
"Esse é o momento em que mostramos que o Espírito Santo liberta todos da opressão e da angústia", explica Oliveira.
Depois disso, são distribuídos às crianças cajuzinhos, cocadas e doces de banana e de abóbora vindos do Vale do Paraíba.
Acompanhada da multidão, a última procissão sai às 17h e passa pelo bairro histórico, quando é declarado o encerramento da festa. Acontecem, então, a queima de fogos da praia, shows, apresentações de teatro de rua e gincanas. Nada disso, no entanto, parece preocupar ou mesmo cansar Oliveira e sua família.
"Ser festeiro é trabalhar muito, ter amor pela festividade e convicção da fé que proclama. É querer fazer que as pessoas se unam nesta festa que é para Deus e para o povo que vive e visita Paraty."


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