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SUÍÇA SALVA
Calçadas cobertas e ruas estreitas do centro de Berna terminam em prazerosas happy hours em cafeterias
Galerias emolduram tarde na cidade antiga
DA ENVIADA ESPECIAL À SUÍÇA
Faltam três minutos para as seis
da tarde. Eles estão todos de pé, se
apertando para que ninguém deixe de ver: uma fila de bonés e câmeras fotográficas. Então a galinha do canto esquerdo abre as
asas e grita algo que lembra um
cocoricó. A platéia solta interjeições de surpresa. O sino toca; um
boneco balança a cabeça para a
direita; outro responde com o
movimento inverso. São 18h. O
grupo já se dispersa quando a galinha do lado direito mostra que
também cocorica. Mais risinhos
discretos. São turistas japoneses.
O espetáculo ocorre nas 24 horas cheias do dia na Zytglogge
(torre do relógio), antigo portão
de entrada de Berna e início do
centro velho da cidade, que data,
em sua maior parte, do século 15 e
foi considerado patrimônio da
humanidade em 1983. Estreitos
sobrados se dividem em ruas tão
estreitas quanto eles, ocupando
uma península formada pelas
águas do rio Aare, na parte alemã.
A monocromia e o paralelismo
do casario cinza só são quebrados
pela altiva torre de 101 metros da
catedral, Münster, construída em
estilo gótico entre 1421 e 1893.
Com a Reforma Protestante, o ex-santuário católico perdeu grande
parte das imagens que forravam
seu interior: restaram apenas vitrais e faces sorridentes encravadas em todo o teto.
Mas, para o deleite dos visitantes de agora, o protestantismo
preservou uma cena esculpida em
1470, logo acima da porta, cuja excentricidade compensa a dor no
pescoço causada pelos minutos
de admiração. De um lado, almas
boas vestidas de branco são levadas para o céu pelo arcanjo Miguel; do outro, as más, nuas, se
encaminham para o inferno
-entre elas, até o papa. Essa demonstração de igualdade perante
Deus agradou aos reformistas e
salvou a obra da condenação.
Nessa época, no século 16, o
ponto de encontro dos berneses
era também tanques para roupa e
bebedouro: 11 fontes, adornadas
por figuras históricas ou lendárias. Elas ainda estão lá, mas não
são mais palco de bate-papo. Hoje, o burburinho de Berna afastou-se dali, mas não muito.
Labirinto
A face mais charmosa da cidade
antiga se deve ao fogo. Porque foi
após um incêndio, em 1405, que
os seis quilômetros de galerias
que margeiam as ruas surgiram
no cenário urbano. Destruídos, os
então edifícios de madeira deram
lugar aos atuais, de alvenaria, e
veio a idéia de reservar parte do
térreo para as calçadas, protegendo assim os transeuntes da chuva.
Hoje, passear pelas galerias arqueadas é -além de perder a
orientação e ter de buscar o mapa
na bolsa- passar por lojas elegantes, restaurantes e "confiseries". Essas confeitarias, aliás, dão
golpes no regime de qualquer um,
com chocolates, doces e pães.
Grudadas nas galerias, há dezenas de mesinhas, especialmente
cheias na happy hour. Os berneses gostam de passar por lá para
tomar um copo de cerveja ou um
café, vendo o anoitecer preguiçoso durante as estações quentes.
Após passar uma tarde inteira
nos labirintos das ruas medievais,
vale descansar ali, observando os
locais apreciarem sua bebida, entre risos tão discretos quanto os
dos turistas japoneses da torre do
relógio. Apesar de o patrimônio
de Berna valer mais um sorriso
bem largo.
(JULIANA DORETTO)
Münster - Münsterplatz 1. Funciona, no
verão, aos domingos, das 11h30 às 17h, e
de terça a sábado, das 10h às 17h; no inverno, aos domingos, das 11h30 às 14h,
de terça a sexta, das 19h às 12h e das 14h
às 16h, e aos sábados, das 10h às 12h e
das 14h às 17h.
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