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CIÊNCIA SALVA
No ano em que a relatividade faz cem anos, turista segue rastro do imigrante
Einstein "Como foram bons os anos em Berna"
DA ENVIADA ESPECIAL À SUÍÇA
Na época, os cabelos estavam
bem mais domados. Talvez por
isso ninguém reparasse naquela
figura bigoduda de 26 anos, que,
no segundo andar do número 49
da Kramgasse, estava virando a física de ponta-cabeça.
Há exatos cem anos o então habitante de Berna Albert Einstein
(1879-1955) publicava as bases da
teoria da relatividade -que jogava por terra as noções de tempo e
espaço como algo absoluto e inflexível.
Nascido na Alemanha, em Ulm,
foi para a Suíça aos 16 anos: fez os
exames de conclusão do ensino
médio em Aarau e formou-se em
matemática e física pelo Instituto
Tecnológico Federal da Suíça, em
Zurique. Chegou de mala e cuia
em Berna em 1902, como um simples técnico do Escritório de Patentes, seu primeiro emprego. Ele
então pôde se casar com a ex-colega de faculdade Mileva Maric,
com quem já havia tido uma filha
-que não foi criada pelos pais, e
cujo paradeiro é desconhecido.
Por sete anos, até 1909, Einstein
deu o ar da graça pelas ruas medievais da capital suíça. Como o
centro de Berna não mudou muito do século 15 para cá (leia texto
na pág. F4), dá para refazer os
passos rotineiros do físico pela cidade -e, quem sabe, até se sentir
um pouquinho mais inteligente.
O ponto de partida é o apartamento em que a família morou de
1903 a 1905 (nessa época, o casal
havia tido outro filho, Hans), na
Kramgasse. Tudo bem, sabe-se
que o espaço é relativo, mas não
há outra definição para a casa senão minúscula. O local virou o
museu Einstein-Haus, cuja intenção é boa, mas o acervo, pífio.
Havia três cômodos: sala, quarto da criança e quarto do casal
(que hoje é a recepção). A cozinha
e o banheiro eram divididos com
outro apartamento -área que
não está aberta aos visitantes. Na
decoração, mobília e objetos da
época e fotos, mas nenhum móvel
original. Há apenas duas cadeiras
e um sofá que de fato foram usados pelo físico, mas em Princeton
(EUA), não na Suíça.
De lá, ele seguia pelo entroncamento de galerias até a Speichergasse, esquina com a Genfergasse.
Era lá a sede do antigo Escritório
de Patentes; hoje, uma unidade
do grupo Swisscom. Apesar de
não ser próprio para visitação,
pode-se dar uma espiada no hall,
além de observar os pormenores
da construção, do lado de fora.
Se fosse possível, a partir desse
ponto, cortar os trilhos que chegam à estação de trem, Bahnhof,
repetiria-se o caminho que Einstein fazia do trabalho -em 1907 o
escritório mudou para um prédio
próximo, na Bollwerk- à Universidade de Berna. Ele cruzava
uma colina nada gentil para encontrar os poucos alunos que se
dispunham a ouvir o professor
externo, contratado em 1908.
Hoje, o melhor caminho é subir
as escadas rolantes da estação de
trem, cortar o estacionamento e
enfrentar os vários degraus de
uma escura passagem, à direita. A
escadaria desemboca num terraço que leva o nome do cientista,
de onde se avista, lá embaixo, o
centro -o físico devia chegar esbaforido à sala de aula.
Suas palestras aconteciam no
edifício principal da universidade
centenária (fundada em 1834),
que fica à esquerda do terraço. Explore esse prédio: suba as escadas,
encoste-se nas janelas, junte-se
aos estudantes que descansam no
fim de tarde no gramado em frente. O sorriso maroto que Einstein
fazia ao posar para fotos indica
que o cientista aprovaria o momento. Afinal, ele mesmo disse:
"Como foram bons aqueles anos
em Berna".
Peça de museu
Como forma de render homenagem ao ilustre morador, o Museu Histórico de Berna abriga, até
17 de abril de 2006, a maior exposição já dedicada ao gênio de cabeleira rebelde.
Há, claro, tudo o que se espera
encontrar em uma mostra desse
porte: fotos, documentos, depoimentos, salas interativas que explicam (ou aos menos tentam) as
teorias do físico.
Entre essa batelada de fatos históricos, descobrem-se certas preciosidades. A foto do segundo ano
da escola, por exemplo, traz o
Einstein menino como o único
sorridente entre seus colegas. Alguns anos depois, quando o casamento com Mileva estava mal das
pernas, o cientista escreveu uma
série de regras a serem cumpridas
pela mulher, como condição para
que a união não se dissolvesse.
Um painel projeta as normas,
que, de tão absurdas, beiram à comicidade: "Você não pode expressar carinho por mim publicamente" ou "Se eu pedir para você
se calar, faça-o imediatamente".
Ela não aceitou, e o casal se separou em 1914.
(JULIANA DORETTO)
Einstein-Haus - Kramgasse 49. Funciona, até o dia 31/10, todos os dias, das 10h
às 19h; de 1º/11 a 15/12, de terça a sexta,
das 13h às 17h; e aos sábados, das 12h às
16h. De 16/1 a 31/12: fechado. Ingresso:
CHF 6 (R$ 10) e CHF 4,50 (R$ 8, adultos e
crianças).
Museu Histórico de Berna - Helvetiaplatz 5. Funciona todos os dias, das 10h
às 17h. Entrada: CHF 24 (R$ 42) e CHF 12
(R$ 21, até 16 anos); www.bhm.ch.
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