São Paulo, segunda, 30 de março de 1998

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CIDADES HISTÓRICAS
Doença rara pode ter obrigado o artista mineiro a usar roupas compridas e a se esconder da luz do sol
Porfiria muda a biografia de Aleijadinho

Maristela do Valle/Folha Imagem
Jesus carregando a cruz e "Passos da Paixão", obra de Aleijadinho


FÁBIA PRATES
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Os restos mortais de Aleijadinho -que já haviam sido exumados em 1930 para que os ossos pudessem ser transferidos para um túmulo especial- estão sendo novamente estudados.
Uma equipe de médicos mineiros fez nova exumação no último dia 16, com a finalidade de descobrir se o artista foi portador de porfiria, uma doença rara que deixa a pele sensível aos raios solares, podendo provocar lesões.
Segundo o dermatologista Geraldo Barroso de Carvalho, que coordena os estudos, os ossos do artista têm pigmentos avermelhados, o que seria uma marca deixada pela doença.
A equipe analisa se os pigmentos são sanguíneos, o que indicará se ele era portador de porfiria.
Se a doença for confirmada, a biografia do artista pode ser alterada, afirma o dermatologista.
Pode ser explicado, por exemplo, porque Aleijadinho usava sempre roupas compridas, preferia sair de casa de madrugada e retornar à noite e trabalhava protegido por um toldo, pois a porfiria torna o doente sensível à luz solar.
A equipe, no entanto, enfrenta um problema para concluir o trabalho. Como o corpo de Aleijadinho foi inicialmente enterrado numa vala comum, há dúvidas de que os ossos dados como sendo do artista sejam mesmo dele.
Na própria urna onde estão os restos do escultor foram encontrados ossos de pelo menos outras duas pessoas.
Segundo Geraldo Barroso, todos os indícios levam a crer que os ossos são de Aleijadinho. Mas, para sair do campo da hipótese e ter dados científicos, o médico já está avaliando a possibilidade de exumar os restos mortais do pai do artista ou de um irmão dele.
A idéia é tentar encontrar o DNA de Aleijadinho e de um parente para fazer a confirmação por meio da genética.
Visita ao túmulo
Morto em 1814, o escultor foi enterrado numa vala comum no interior da igreja Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto.
Em 1930, por ocasião das comemorações do bicentenário do seu nascimento, os ossos do artista foram transferidos para uma urna de zinco e depositados em um túmulo especial, na mesma igreja.
O túmulo, o primeiro à direita logo na entrada da igreja, pode ser visitado de terça-feira a sábado, durante todo o dia, e no domingo, à tarde.
A igreja, construída pelo pai de Aleijadinho, é a maior de Ouro Preto e fica na praça Antônio Dias, no bairro de mesmo nome.
Há no subsolo um museu batizado com o nome do artista. Ali estão expostas algumas peças feitas pelo mestre mineiro.
Isso comprova que a história do barroco brasileiro está exposta em Ouro Preto não somente nas fachadas das igrejas e dos casarões do século 18.
Também não é demais lembrar que Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, é reconhecido como o mais importante artista barroco no Brasil.



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