HELOISA LUPINACCI
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

No mapa do metrô de Londres, na região leste, há um buraco, uma área em que não há estações. Ali é Hackney. A ausência de transporte subterrâneo é responsável por uma certa degradação do bairro, repleto de conjuntos habitacionais criados pelo governo, chamados de "council flats". Um mercado na rua Broadway, perpendicular ao canal Regent, agita o bairro aos sábados. A combinação de parques, canal e mercado é suficiente para justificar o deslocamento -para chegar ao mercado é preciso seguir, pela linha Central, até a estação Bethnal Green; dali, é preciso caminhar pela Cambridge Heath road, dobrar à esquerda no canal Regents e ir até Andrews road.
Mas nos arredores do mercado há ainda uma concentração de galerias de arte, pubs lotados e antiquários charmosos, mesclados a agradáveis parques. Não é que tudo seja novidade. O mercado, por exemplo, tem cem anos. Entre uma e outra barracas, é bom desgrudar o olho das mercadorias à venda para observar os frequentadores da feira. Muitos parecem saídos de um editorial de moda de revista alternativa. Acessórios, penteados e modelos pouco prováveis circulam entre uma barraca de pães integrais e uma tenda de suco orgânico.
Na hora que a fome bater, há dois bons endereços para saciá-la. O mais tranquilo é o The Dove, com cardápio típico de pub. O outro é o The Cat and Mutton, mais badalado, perto de London Fields, parque ideal para uma caminhada digestiva. A sequência de galerias de arte contemporânea instaladas em galpões industriais reformados na Vyner street vale às vezes pelas obras expostas, às vezes pelo prédio em si. Hackney está espremido entre dois polos de especulação imobiliária. De um lado, a oeste, fica a City, centro financeiro de Londres, que busca espaço de expansão. Do outro, a leste, está sendo erguido o complexo que abrigará a Olimpíada de 2012. Os moradores temem que seus aluguéis aumentem e eles tenham de procurar outra área que esteja pronta para passar de degradada a descolada.