São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2008

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UM DIA SANTISTA

Em Santos, renovação vive marcha lenta

A apenas 80 km de SP, cidade portuária se alinha pelos canais e tem história que remonta à do Brasil

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

Apesar da proximidade, distando 80 km de São Paulo, os passeios santistas são pouco explorados por paulistanos. Dona do maior porto brasileiro, Santos é uma cidade cuja história se confunde com a do Brasil -remonta a 1536, ano em que foi fundada por Brás Cubas.
Com o quinto melhor índice de desenvolvimento humano (IDH) do país, museus e institutos culturais valiosos, uma noite agitada, restaurantes típicos e até um bonde escocês, de 1910, a cidade tem uma orla ajardinada, de 5,3 km, e, também, aquário municipal e local de mergulho, a laje de Santos.
Mas, é pena, o paulistano, que ainda não descobriu o turismo em Santos, muitas vezes vê a paisagem de passagem, embarcando num transatlântico (na última temporada, ocorreram ali 200 aportagens, realizadas por 15 navios).
E o pior: a visão do porto é desoladora. As experiências de recuperação em antigas áreas históricas degradadas de Santos têm sido bem sucedidas, mas não andam na velocidade esperada, sobretudo na área portuária, onde nem de longe houve uma regeneração urbana comparável às de Lisboa, Barcelona, Gênova, Cidade do Cabo e mesmo à de Buenos Aires. Isso é triste se lembrarmos que, há cem anos, Santos já tinha um sanitarista como Saturnino de Brito, idealizador e construtor de sistema de canais inédito. Até hoje, esses canais -onde foram priorizadas a navegabilidade, a arborização e o sistema em que águas pluviais e esgoto não se misturam- são ali uma obra de engenharia referencial.

Era Café
Até 1867, quando a estrada de ferro Santos-Jundiaí iniciou operações, 5.000 pessoas viviam na cidade -hoje, a população local soma 500 mil habitantes. Foi a economia do café, cultivado então no planalto paulista, que acelerou a atividade portuária, juntamente com a passagem de imensos contingentes de imigrantes na virada entre os séculos 19 e 20.
Em 1892, a Cia. Docas de Santos edificou os primeiros 260 metros de cais acostáveis, mudando o rumo da economia santista. E foi nessa época que a cidade foi retratada por Benedito Calixto (1853-1927), autor de óleos de valor artístico e documental mostrando o porto, os barcos a vela e a vapor, o casario e os armazéns de mercadorias. Suas marinhas retratam ainda a paisagem e a geografia no entorno de Santos. Há uma pinacoteca com as obras de Calixto na rua Bartolomeu de Gusmão, 15. Na mesma rua à beira-mar, ficam atrações como o museu da Pesca, na altura do número 192, num prédio de 1908 erguido num local onde, em 1753, já havia um forte.
Entre o terminal de passageiros no porto e a Ponta da Praia, referência para se chegar até as atrações da rua Bartolomeu de Gusmão, o caminho é inóspito: as calçadas são precárias, há trânsito intenso de caminhões pesados, pouca segurança e nenhuma sinalização turística.
Na temporada de cruzeiros, um ônibus de turismo leva gratuitamente até o shopping Praiamar, próximo ao canal 6. Da Ponta da Praia, no canal 7, parte a balsa que liga Santos à ilha de Santo Amaro, onde fica a cidade de Guarujá. Guardada à distância pela serra do Mar, Santos, aliás, ainda tem nos canais legados por Saturnino de Brito uma referências para quem ali mora ou passeia.


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