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Na Galícia, natureza ameniza o sacrifício
DA ENVIADA ESPECIAL
A Galícia é, possivelmente, a
região mais bonita do caminho
de Santiago do ponto de vista
da interação entre o viajante e a
natureza. Ao contrário de muitos outros trechos em que o peregrino é forçado a caminhar à
beira da estrada e enfrentar o
barulho de carros, ônibus e caminhões, aqui ele atravessa
bosques e montes em meio a
carvalhos centenários, com o
ruído apenas de seus próprios
passos e dos pequenos córregos. Mesmo para quem faz a
viagem de carro o visual é de tirar o fôlego.
A porta de entrada na Galícia
é o Cebreiro, aonde se chega depois de percorrer as montanhas
da serra dos Ancares e de Courel, subindo de cerca de 500 m
para 1.300 m de altitude. É um
dos mais importantes pontos
de encontro de peregrinos, e
muitos começam o trajeto daí,
a 150 km de Santiago.
Após a árdua subida, o momento da chegada é potencializado porque antes os peregrinos passaram pela Cruz de Ferro, um marco simbólico onde o
viajante é convidado a deixar
para trás uma pedra e tudo o
que lhe "pesa" fisicamente ou
espiritualmente na caminhada.
Há de tudo aos pés da cruz: de
"tupperwares" a fotos, lenços e
algumas bandeiras brasileiras.
O publicitário paulistano
Marcos Valério, 42, acabava de
subir o Cebreiro de bicicleta.
"Não sou emotivo, mas comecei a chorar. A sensação é de "eu
consegui'", conta Valério, nada
a ver com o também publicitário envolvido no mensalão. Depois de 12 anos sem fazer exercícios, ele se preparou por um
mês e meio para a jornada, iniciada em Pamplona.
Milagre
O templo de Santa María La
Real, no Cebreiro, é a igreja
mais antiga do caminho, construída em meados do século 9º
por monges beneditinos. Apesar de ter passado por diversas
reformas, ainda conserva parte
de sua estrutura pré-românica,
com três naves, e uma pia batismal em que se realizavam batismos por imersão até o século
12 ou 13.
Foi nessa igreja que, segundo
os crentes, ocorreu um dos
mais famosos milagres do caminho, o do santo Graal. Segundo a tradição, um camponês foi à missa na igreja em um
dia de inverno e havia uma
grande tempestade. O monge
que rezava a missa riu do sacrifício do camponês ao vê-lo entrar. Nesse momento o pão e o
vinho que consagrava se transformaram no corpo e no sangue
de Jesus Cristo.
Em 1486, os Reis Católicos
(Fernando de Aragão e Isabel
de Castela), em peregrinação a
Santiago, fizeram uma parada
no Cebreiro e doaram o relicário onde se guardam os restos
do milagre. Está até hoje na capela, junto à pátena e ao cálice,
uma peça românica do século
12 que é o símbolo da Galícia.
Da imagem de Santa María na
capela, diz-se que inclinou a cabeça para poder ver o milagre e
assim ficou.
O povoado do Cebreiro é coalhado de "pallozas", típicas
construções pré-românicas
circulares em que no mesmo
recinto ficavam a residência, o
estábulo e o celeiro, provavelmente de origem celta. É famoso também o queixo do Cebreiro (queijo com denominação de
origem).
(CVN)
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