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A irresistível ascensão de Jr. Jr.
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Editor-adjunto de Opinião
Assim como Athayde
Patreze deu cria a seus sobrinhos, Amaury Jr. já
tem o seu afilhado. Ao
contrário dos primeiros,
palhaços por opção, o segundo é como o padrinho
-involuntariamente cômico. Uma revista paulistana que acaba de lhe dedicar a reportagem de capa, chama-o de "rei da
moçada". Muito justo.
Amaury se especializou
em cortejar o jet set de
meia-idade. Sempre esforçado na tarefa de dar
um certo verniz de dignidade à vida afinal apenas
mundana e frívola dos
seus colunáveis, mostra-se sempre solícito e
grave diante dos entrevistados.
Sua performance é uma
caricatura de bons modos. As indefectíveis fichinhas que carrega nas
mãos o ajudam a organizar o mundo e os neurônios. Produzem além disso o efeito ilusório de que
ali se faz jornalismo sério.
Não se faz.
O afilhado se parece
muito com o padrinho.
Com uma diferença: é o
porta-voz da "jeunesse
dorée", o "rei da moçada". Seu nome: Luciano
Huck. Ou apenas
Amaury Júnior Júnior
-Jr. Jr. para os íntimos.
No inverno está em
Campos do Jordão; no
verão, na Barra da Tijuca;
o ano inteiro, rodeado de
"fama, prestígio, dinheiro e belas mulheres",
conforme escreveu a revista. Por um momento,
acreditamos estar diante
de um novo Onassis.
Pois bem, o nosso
Onassis, ou apenas Jr. Jr.,
não mereceria maior
atenção, não fosse ele
porta-voz, sintoma e,
agora, também personagem da elite mirim da
nossa época.
Nada do que faz é sério,
mas é difícil encontrar alguém mais imbuído do
espírito de seriedade, empenho e abnegação profissional. Ele tem de ser o
melhor de todos, o homem com "H". As mulheres que exibe são as
mais bonitas, os homens
são os mais ricos. Tudo
em Jr. Jr. pende para o superlativo: está rodeado de
gente muito fashion,
muito up to date, muito
arrivista, muito desmiolada.
Invariavelmente agitado e tenso, em permanente sobressalto, Jr. Jr.
concentra em si a tendência atual de identificar diversão e trabalho. Seus
programas transbordam
um certo "fascismo aeróbico", uma necessidade de confundir prazer
com atividade frenética,
de ocupar o tempo livre
com algum desgaste físico. Sempre é preciso "fazer alguma coisa", produzir bobagens. Ócio e
vida desinteressada são
palavras condenadas, banidas do universo dessa
gente que, sem nunca ter
feito nada, no entanto é
gente que faz.
E quem é essa gente?
São pessoas geralmente
incapazes de ter momentos de introspecção ou
um mínimo de prazer
com o espírito concentrado. Pessoas cuja atenção errática cisca sobre as
coisas sem conseguir se
prender ou interessar por
nada. Extremamente individualistas e narcisistas, incapazes de ouvir o
outro ou de sustentar
uma conversa por mais
de cinco minutos que não
lhes diga respeito estrito e
imediato, não conseguem no entanto ficar sozinhas, com a própria alma. Esse horror à solidão
as persegue até no carro,
quando estão acompanhadas do celular, esse
bom companheiro.
Não deve ser à toa que
essa moçada é fanzoca
dos chamados "esportes
radicais", que Jr. Jr. exibe
e pratica em profusão.
Além de caros, o que já
ajuda muito, são esportes
solitários, cujas emoções
são instantâneas, uma espécie de comprimido
efervescente.
Devemos acompanhar
com interesse a ascensão
efervescente de Jr. Jr. Ele é
o Amaury da "jeunesse
dorée".
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