São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

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A irresistível ascensão de Jr. Jr.

FERNANDO DE BARROS E SILVA
Editor-adjunto de Opinião

Assim como Athayde Patreze deu cria a seus sobrinhos, Amaury Jr. já tem o seu afilhado. Ao contrário dos primeiros, palhaços por opção, o segundo é como o padrinho -involuntariamente cômico. Uma revista paulistana que acaba de lhe dedicar a reportagem de capa, chama-o de "rei da moçada". Muito justo.
Amaury se especializou em cortejar o jet set de meia-idade. Sempre esforçado na tarefa de dar um certo verniz de dignidade à vida afinal apenas mundana e frívola dos seus colunáveis, mostra-se sempre solícito e grave diante dos entrevistados.
Sua performance é uma caricatura de bons modos. As indefectíveis fichinhas que carrega nas mãos o ajudam a organizar o mundo e os neurônios. Produzem além disso o efeito ilusório de que ali se faz jornalismo sério. Não se faz.
O afilhado se parece muito com o padrinho. Com uma diferença: é o porta-voz da "jeunesse dorée", o "rei da moçada". Seu nome: Luciano Huck. Ou apenas Amaury Júnior Júnior -Jr. Jr. para os íntimos.
No inverno está em Campos do Jordão; no verão, na Barra da Tijuca; o ano inteiro, rodeado de "fama, prestígio, dinheiro e belas mulheres", conforme escreveu a revista. Por um momento, acreditamos estar diante de um novo Onassis.
Pois bem, o nosso Onassis, ou apenas Jr. Jr., não mereceria maior atenção, não fosse ele porta-voz, sintoma e, agora, também personagem da elite mirim da nossa época.
Nada do que faz é sério, mas é difícil encontrar alguém mais imbuído do espírito de seriedade, empenho e abnegação profissional. Ele tem de ser o melhor de todos, o homem com "H". As mulheres que exibe são as mais bonitas, os homens são os mais ricos. Tudo em Jr. Jr. pende para o superlativo: está rodeado de gente muito fashion, muito up to date, muito arrivista, muito desmiolada.
Invariavelmente agitado e tenso, em permanente sobressalto, Jr. Jr. concentra em si a tendência atual de identificar diversão e trabalho. Seus programas transbordam um certo "fascismo aeróbico", uma necessidade de confundir prazer com atividade frenética, de ocupar o tempo livre com algum desgaste físico. Sempre é preciso "fazer alguma coisa", produzir bobagens. Ócio e vida desinteressada são palavras condenadas, banidas do universo dessa gente que, sem nunca ter feito nada, no entanto é gente que faz.
E quem é essa gente? São pessoas geralmente incapazes de ter momentos de introspecção ou um mínimo de prazer com o espírito concentrado. Pessoas cuja atenção errática cisca sobre as coisas sem conseguir se prender ou interessar por nada. Extremamente individualistas e narcisistas, incapazes de ouvir o outro ou de sustentar uma conversa por mais de cinco minutos que não lhes diga respeito estrito e imediato, não conseguem no entanto ficar sozinhas, com a própria alma. Esse horror à solidão as persegue até no carro, quando estão acompanhadas do celular, esse bom companheiro.
Não deve ser à toa que essa moçada é fanzoca dos chamados "esportes radicais", que Jr. Jr. exibe e pratica em profusão. Além de caros, o que já ajuda muito, são esportes solitários, cujas emoções são instantâneas, uma espécie de comprimido efervescente.
Devemos acompanhar com interesse a ascensão efervescente de Jr. Jr. Ele é o Amaury da "jeunesse dorée".



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