São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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Apresentador refuta boicote sugerido pelo ministro da Justiça a "programas de mau gosto" e diz que críticas se devem aos seus índices de audiência: "A gente fica visado"
"Falam mal de mim porque meu programa incomoda"

Reprodução
Modelo passeia nua pela rua em pegadinha do programa de Sérgio Mallandro


CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL

ELE JÁ foi um ídolo das crianças, chegou a substituir Xuxa durante as férias da apresentadora, comandou atrações infantis na Globo e no SBT, contracenou com o trapalhão Didi no cinema. Hoje, o apresentador Sérgio Mallandro, 39, é sinônimo de, no mínimo, polêmica.
Dono de três atrações na TV Gazeta, repletas de mulheres seminuas lutando no gel e pegadinhas com drogas, revólver e bate-boca, ele pode ser considerado um alvo perfeito para a portaria 796 do Ministério da Justiça, que altera as regras de classificação dos programas de TV.
Mesmo assim, seus programas "Festa do Mallandro" 1 e 2 e "Allegria Geral" são líderes de audiência na Gazeta, com médias de 5 pontos e picos de até 12 pontos no Ibope, e já conseguiram ficar até na frente da Rede Globo. "Falam mal dos meus programas porque eu incomodo muita gente", defende-se o apresentador. A seguir, trechos de entrevista que ele concedeu à Folha.

Seus três programas são os de maior ibope da TV Gazeta. Por que, na sua opinião, você tem tanta audiência?
Meu programa é para as pessoas darem risada, para se divertirem, para verem mulheres bonitas. Todo mundo só vê desgraça, só tem conta pra pagar, vive com medo de assalto, de doença. E, no final do programa, eu procuro sempre passar uma mensagem positiva, falo de uma campanha antidrogas, falo para as pessoas doentes nos hospitais não desistirem da vida. As pessoas gostam disso.

Mesmo sendo líder de audiência na Gazeta, segundo a superintendente de programação da emissora, Marinês Rodrigues, seus programas não trazem receita porque os anunciantes não querem vincular suas marcas a eles.
Eu acho que quem não consegue vender anúncio para o Sérgio Mallandro é incompetente. Estou na TV há 19 anos, e todos os programas em que eu trabalhei foram sempre vendáveis. A falta de anunciantes deve ser por causa dos preços dos anúncios, já que, por terem a maior audiência, meus programas são os mais caros da casa. Então, os anunciantes procuram programas mais baratos.

O ministro da Justiça, José Gregori, chegou a propor que os telespectadores fizessem um boicote a programas de "mau gosto" e criticou, entre outros, o seu programa. O que, na sua opinião, faz seus programas serem considerados assim?
Quem está falando isso é uma pessoa que mora em Brasília e não vê meu programa. Ele vê pelos jornais. A imprensa fala mal do meu programa porque ele incomoda muita gente. O que a gente faz de tão errado assim? O que fazemos de errado, na verdade, é ficar várias vezes em primeiro lugar na audiência. E, quando isso acontece, viramos alvo de críticas. Não quero mais ficar em primeiro lugar, a gente fica muito visado. Por exemplo, houve um sábado que a Globo estava com 12 pontos no Ibope e eu estava com 10,7. E eu tinha uma pegadinha muito boa para pôr no ar, que iria fazer o meu programa superar a Globo. Sabe o que eu fiz? Mandei chamar o intervalo. Como diz o Silvio Santos, é ruim ser o primeiro. Melhor é ser o segundo, que ninguém fala nada de você.

Você foi acusado de assédio por uma assistente de palco e de ser viciado em cocaína por um ex-produtor do seu programa. Isso ajudou a mudar sua imagem de ídolo infantil para "rei da baixaria"?
Ninguém chuta cachorro morto. Quando eu estava fora do ar, ninguém inventava nada disso. Estou processando essas pessoas. Eu tive que fazer um exame para provar que eu nunca usei drogas, mas ninguém publicou isso. Minha mãe foi parar no hospital por causa disso. As pessoas usam meu nome para conseguir espaço na mídia.

E os casos de pegadinhas polêmicas que já foram feitas no seu programa, como a de um homem pendurado em uma placa na marginal Tietê, que mobilizou o corpo de bombeiros, ou a simulação de um acidente de trem, apoiado pelo governo e pelo Ministério da Saúde?
Quem fez a pegadinha do homem pendurado foi o mesmo produtor que me acusou de usar drogas. Ele fez isso sem o meu conhecimento, para prejudicar o programa. A pegadinha da simulação foi outro problema: fizemos uma simulação de uma pessoa pegando fogo, mas, na hora de colocar a fita da pegadinha, o técnico se enganou e colocou a fita da simulação do governo sem querer.

A nova portaria do Ministério da Justiça veio para combater programas com mulheres seminuas, tiros, violência, pegadinhas de mau gosto. Seu programa representa tudo o que a portaria quer coibir?
Cenas de meninas de biquíni existem desde o programa do Chacrinha. O Gugu exibe a garota da banheira no domingo à tarde, a novela das sete mostra o índio pelado. Não posso falar sobre essa portaria porque estou por fora. Estou esperando receber um comunicado da direção da emissora. Sou apenas um funcionário, o problema não é meu. Meu programa da noite tem pegadinhas mais sensuais, para adultos, mas o programa da tarde é feito para crianças.

Então você acha que, para certas atrações, deve existir horário determinado?
É uma questão de bom senso. Sei que pode haver no meu programa coisas que as crianças não deveriam assistir. Mas a novela mostra mulher pelada, o SBT mostra a garota da camiseta molhada, e eu concorro com todos esses programas, então tenho que mostrar o que eles mostram. Não colocamos uma menina tirando a roupa de graça. Há um contexto.

Mas a pegadinha é feita para que ela apareça sem roupa...
Claro. Isso é uma pegadinha engraçada, sensual. Ela não está transando, como nos filmes que os canais exibem no horário. Ela está no camarim.

Uma pegadinha como aquela em que um ator ofereceu "cocaína" ao cantor Rafael não é algo que choca?
Sim, foi uma cena forte. O intuito foi mostrar que ele estava curado, que não tinha mais nada a ver com as drogas.
Do que você seria capaz pela audiência?
Eu vou até um limite, que é minha consciência, sei até onde posso ir. Sou um cara de família. Mas não sou hipócrita, nem vou fugir da linguagem da televisão. Senão, iria para uma TV educativa. Já cometemos erros nesse programa, eu sei. Mas nem por isso meu programa está pesado. O povo quer ver uma menina de biquíni, quer dar risada. À noite, tenho que usar a linguagem da noite, mas isso não quer dizer que eu serei obsceno.

Para você, o que é de mau gosto na TV?
De mau gosto são as notícias que a gente ouve, as filas nos hospitais, as injustiças com as crianças, as mentiras dos políticos, as eleições. Não tem que existir censura. Na TV, você vê o que quiser.

Na sua opinião, a televisão deveria ter uma função mais social, mais educativa?
Educação tem que ser feita na escola, a televisão serve para divertir, para informar. Eu teria o maior prazer em ceder o meu programa para fazer campanhas antidrogas para alertar os jovens, por exemplo, mas ensinar o ABC tem que ser na escola, senão a gente vai tirar o emprego dos professores.



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