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Autores, diretores e atores que foram trabalhar no exterior contam as suas
aventuras nas novelas "mexicanas"
O Brasil hispânico
Reprodução
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O brasileiro Ari Coslov dirige cena da novela "El Magnate", gravada na Flórida (EUA), em 90; ele acabara de deixar uma produção no Peru, assustado com a guerrilha |
FERNANDA DANNEMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil não exporta só craques
do futebol, mas também atores, diretores e autores de novelas. Com o mercado saturado por aqui, muitos tentam a
sorte no exterior. Daniel Ortiz, 30, por
exemplo, paulista de Taubaté, assinou
contrato com a rede mexicana Televisa e
está escrevendo uma novela, cujo título e
enredo são mantidos em segredo.
"A Televisa sempre está interessada no
talento estrangeiro e nas pessoas que têm
experiência e preparação", diz Guillermo
Quezada, diretor do departamento de
novelas comerciais da emissora, que já
chegou a gravar 11 folhetins simultaneamente e exporta suas produções.
Ex-roteirista de programas de auditório para o canal peruano Frequencia Latina, Ortiz escreveu três versões para sua
novela "Sin Limites", que não foi ao ar
porque prostituição e homossexualidade
eram temas que não agradavam ao presidente Alberto Fujimori (1990-2000).
No Brasil, ele nem tentou trabalhar. "A
Globo tem seu grupo de autores há décadas, é difícil entrar. No México sou escritor; no Brasil, seria colaborador", afirma.
Segundo Ortiz, as novelas mexicanas
fazem sucesso em toda a América Latina,
exceto no Brasil, na Argentina e no Chile,
países menos conservadores.
Manoel Carlos, 69, que prepara a próxima novela das oito da TV Globo, escreveu, entre 1985 e 1991, mais de 20 novelas
para América Latina e Estados Unidos.
Mas diz que não mudou seu estilo.
"O público se perguntava como a patroa chorava no colo da empregada. Os
latinos são preconceituosos, mas acho
que alguns aceitaram. O restante achou
bizarro", afirma.
Ele chegou a escrever uma sitcom colombiana ("Uma Família como Outra
Qualquer") sem nunca ter ido à Colômbia. "Usei a lista telefônica, o mapa de
Bogotá, jornais e revistas", diz.
Na direção de seu maior sucesso, a novela "El Magnate", de 1990, estava outro
brasileiro, Ari Coslov, 58, que recentemente dirigiu "Vale Todo", versão da
Globo e Telemundo para "Vale Tudo"
(88-89).
"Foi ótimo dirigir "El Magnate" na Flórida, nos estúdios do "Miami Vice". Tinha
desistido da versão peruana para "O Homem que Deve Morrer", sucesso de Janete Clair, por problemas no orçamento.
Além disso, o Sendero Luminoso fazia
em Lima o que os traficantes fazem hoje
no Rio", diz Coslov.
O elenco de "El Magnate" era composto por atores latinos de diversas procedências. "A gente não se tocava para essa
diferença. Quando a novela foi comercializada, as pessoas achavam engraçado
uma família em que o pai falava como
peruano, a mãe como venezuelana e, os
filhos, como mexicanos", lembra Coslov.
Cabeça inclinada Para Herval
Rossano, 70, que lançou a telenovela no
Chile e, em 1994, dirigiu "Camiños Cruzados" para a Televisa, o desafio maior
foi tirar o ponto eletrônico (fone de ouvido em que o texto é passado ao ator).
"Foi uma mudança drástica, e os atores
reclamavam. Eles apareciam nas cenas
com a cabeça inclinada, esperando o texto", diz Rossano, cujo filho, Herval Guerrero, 38, é roteirista e diretor no Chile.
"As novelas chilenas são as mais parecidas com as brasileiras", afirma Guerrero, que não pensa em trabalhar no Brasil.
O ator Rubens de Falco, 71, que há dez
anos estrelou a novela "La Bruja", na Venezuela, foi elogiado por seu castelhano.
De Falco ri ao lembrar que seu personagem era um misto do terrível Leôncio
de "Escrava Isaura" (76-77) e do generoso Roberto Steiner, de "A Sucessora"
(78-78), ambas brasileiras e veiculadas lá.
"Coisa de novela "mexicana"...".
Viviane Pasmanter, 30, que protagonizou "Alen, Luz de Luna" há cinco anos,
na Argentina, adorou a experiência, mas
abandonou o projeto por falta de salário.
"Eles são moralistas e não aceitam mudanças. Como saí, meu par ficou sozinho
no final", conta ela, que ganhou o processo contra o produtor.
Para José Wilker, que morou em Nova
York há dez anos, o problema eram os
papéis. "A Sônia [Braga] tinha contatos
no HBO, mas eu faria qualquer coisa,
menos o mexicano típico", diz.
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