São Paulo, Domingo, 02 de Janeiro de 2000


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VAI PARA O TRONO?
Apresentador do 'VJ por um dia e do 'Teleguiado' deixa a MTV para comandar programa de auditório na Globo supervisionado pela trupe do 'Casseta & Planeta'
Cazé decola para ser o Chacrinha do ano 2000

Dado Galdieri/Folha Imagem
Cazé Pecini, o ex-apresentador do "VJ por um Dia" e do "Teleguiado", que trocou a MTV pela Globo


ERIKA SALLUM
da Reportagem Local

A NOVA aposta da Rede Globo para o ano 2000 é um cara magro, tímido, careca, tem aversão à imprensa e começou sua "vida profissional" vendendo bijuterias tailandesas em Hong Kong.
Aos 31 anos, o apresentador carioca Carlos José de Araujo Pecini, o Cazé, acaba de deixar a MTV, onde trabalhou durante cinco anos como VJ, para se dedicar ao maior desafio de sua carreira até agora: um programa de auditório na maior rede de TV do país.
Ainda sem data para ir ao ar, a atração terá supervisão dos humoristas do "Casseta & Planeta", os responsáveis pela "virada" na trajetória televisiva do apresentador. Após conferirem sua performance à frente do "Teleguiado" e do "VJ por um Dia", ambos da MTV, os comediantes não hesitaram: queriam Cazé para desenvolver um programa a ser exibido na Globo.
A emissora já deu sinal verde ao projeto -aprovado pelos todo-poderosos Daniel Filho, diretor de criação, e Marluce Dias da Silva, diretora-geral da Globo-, que deve começar a ser efetivamente elaborado no início de fevereiro. Em março, a equipe grava os pilotos.
"Cazé é um dos maiores talentos da TV atualmente, um apresentador fantástico. A gente nem conhecia pessoalmente o cara quando o chamamos para conversar e descobrimos que, além dessas qualidades, ele é muito bacana", afirma o "casseta" Marcelo Madureira.
Sem ser um expert em música, apesar de adorar jazz e bossa nova, Cazé foi aos poucos conquistando um espaço único na MTV, ao trilhar um caminho que se afastou da simples função de VJ, de só apresentar videoclipes, para dar lugar a uma espécie de Chacrinha dos anos 90.
Sua estréia em frente às câmeras aconteceu em 1994, substituindo a então VJ Cuca Lazarotto no extinto "Pix MTV". Na época, teve de se mudar do Rio para São Paulo e se adaptar a uma emissora acostumada a apresentadores "modernosos" e cheios de estilo. "Nunca havia feito TV na vida. Os primeiros dois anos foram bem difíceis, pois tive de me achar no meio de tudo aquilo. Sentia-me inseguro e não gostava de mim no vídeo, pois tinha uma ansiedade louca de desenvolver um jeito próprio", conta Cazé.
Depois de comandar programas como o "Pix" e o "Top Ten Estados Unidos", ele começou a despontar em atrações como "MTV na Chapa", que ia ao ar por volta das 7h. "Era um programa de clipes, mas onde eu não falava de clipes. Por causa do horário, a gente tinha liberdade de experimentar e falávamos de tudo, até sobre Castro Alves e Zumbi dos Palmares. Foi onde comecei a escrever roteiros."
Dali foi um passo para Cazé dar vazão ao improviso e à criatividade, quando a MTV passou a transmitir o "Teleguiado", o primeiro programa ao vivo de sua história. "Por ser ao vivo, eu tinha de entreter o espectador enquanto a produção buscava a fita com o clipe escolhido pelos participantes. No começo, eu ficava enrolando a pessoa, era tudo muito cru. Mas foi uma ótima escola."
Foi essa irreverência que chamou a atenção tanto do público como da direção da MTV, dando a Cazé o status de um dos VJs mais queridos pelos fãs da emissora. "A gente foi percebendo que ele tinha um humor muito peculiar, além de ser um excelente improvisador. Ele consegue cutucar a platéia sem ser agressivo ou prepotente. Além de extremamente autocrítico, Cazé é um excelente improvisador", diz Cris Lobo, diretora de programação da MTV.

Made in Thailand
Tanta capacidade de improvisação não surgiu de repente na vida de Cazé. Antes de mergulhar na carreira na TV, o apresentador -indeciso com as faculdades de oceanografia e publicidade, ambas abandonadas pela metade-, resolveu dar um giro pelo Oriente.
Após conhecer a Índia, se hospedar com monges no Japão -onde decidiu ser vegetariano-, passou sete meses em Hong Kong. Para sobreviver, vendia prata da Tailândia pelas ruas da cidade. Atividade ilegal, chegou a ser detido duas vezes e até julgado. "A polícia lá era educada, foi bacana comigo. Mas tudo compensava, pois as vendas davam grana: em seis meses, juntei US$ 9.000."
Apesar do espírito aventureiro, Cazé é um sujeito avesso a badalações. Pai de dois filhos -o mais novo nasceu no fim de dezembro e se chama Iggy, como o roqueiro Iggy Pop-, ele não suporta ser fotografado e foge de jornalistas que queiram saber de sua vida pessoal.
"Não gosto desse culto à personalidade, de tirar foto para tal revista, ir para castelos, essas coisas de aparecer por aparecer. Televisão para mim é um trabalho, que te expõe, claro, mas é um trabalho como outro qualquer."
E ele não teme ficar meses afastado das câmeras, como aconteceu com Ana Maria Braga, que teve de aguardar seis meses pela aprovação de seu "Mais Você", e o que ainda ocorre com Luciano Huck, cujo programa global ainda nem tem data precisa para estrear? "Aqui na MTV eu não ameaçava ninguém. Então por que os caras iriam me tirar do ar, só para me pagar um salário e me deixar encostado? Acho pouco provável", diz ele, que chegou a recusar um convite para substituir Huck no "H", da Bandeirantes.
"O projeto na Globo vai ser elaborado com cuidado. Na Band, me convidaram em setembro e o programa entraria no ar em outubro. E eu não estava nem um pouco a fim de trabalhar com bunda..."



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