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ESTRELAS DO VAREJO
Canal Shoptime e programas como "Medalhão Persa" e "Liquida Mix" comercializam de tapetes a carros e ajudam a tirar rostos do anonimato
Apresentadores vendem a própria imagem
Rogério Albuquerque/Folha Imagem
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Os apresentadores Nina Mayer (esq.), Kadu Fabretti e Ana Paula Anzelotti, do "Liquida Mix |
ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL
CIRO Bottini, Kadu Fabretti, Breno
Bonin. Esses nomes significam alguma coisa para você? Pode ser que não.
Mas provavelmente você já viu essas pessoas antes. Elas são apresentadoras de alguns dos mais conhecidos e inusitados
programas de vendas da TV brasileira.
O mais pitoresco deles é, sem dúvida,
Bonin, 49. Publicitário, ator e professor
de história, ele comanda há seis anos o
"Medalhão Persa", em que são leiloados
por telefone tapetes, quadros, cristais e
relógios, entre outras mercadorias. Produzido em Curitiba, pela loja que dá nome à atração, o programa é exibido diariamente, de madrugada, pelo canal 6 da
Net e pelo canal Rural. Sempre ao vivo.
Detalhe: nos finais de semana, Bonin
chega a ficar cinco horas no ar, sem intervalos comerciais. "Tomo café ali mesmo,
na frente da câmera. Não vou nem ao banheiro. E fico falando sem parar, improvisando, pois não há texto." Definindo-se como um "bobo da corte" e para matar o tempo e "não perder o pique", ele
cria expressões enquanto vende seus tapetes -entre elas, "é pechincha, não é
para chorar nem meia lágrima" ou "é fogo na caixa-d'água".
"No início, não sabia nada de tapete
persa. Agora, tomei gosto pela coisa e estou planejando uma viagem ao Irã para
escrever um livro sobre a cultura local",
diz o apresentador.
Segundo Paulo César Calluf, sócio da
loja Medalhão Persa, o programa recebe,
em média, 700 ligações por noite e vende,
por mês, 600 metros quadrados de tapete. "Pena que tem muito trote", lamenta.
Menos "underground", o canal Shoptime (Net/Sky) é outro celeiro de "estrelas
do varejo". Criado em 95 e transmitido
24 horas por dia, o canal vende de tudo:
de aparelhos de ginástica e carros a produtos eróticos. Seus apresentadores, se
não gozam da mesma fama de uma Vera
Fischer, pelo menos são figuras bem conhecidas pelos assinantes da operadora.
Quem não se lembra do "loirinho que
vende CD"? Seu nome é Ciro Bottini, 34.
Paulistano, ele foi locutor de rádios como
a Transamérica durante dez anos, até ser
contratado pelo canal. Hoje apresenta,
entre outros, o "CD Mania" e costuma
vender entre 75 mil e 85 mil discos por
mês. "Lancei até um CD com músicas escolhidas por mim, que até agora vendeu
20 mil exemplares", gaba-se ele, que já foi
reconhecido até em Veneza, na Itália.
Outro rosto familiar é o da carioca Viviane Romanelli, 38, encarregada, no
Shoptime, de vender eletrodomésticos
tão úteis quanto um "fazedor" de waffles
em forma de coração. Ex-sócia de Luciano Szafir na filial santista do bar Democrata, ela é jornalista, com passagens pela
Manchete e CNT. "Meu trunfo é que sou
verdadeira e me empenho em fazer um
prato bonito para o telespectador."
Com faturamento anual de R$ 62 milhões, o canal Shoptime recebe diariamente 10 mil ligações. Todos os seus programas são exibidos ao vivo (e reprisados algumas vezes por dia), o que dá
margem a inúmeros acidentes na frente
das câmeras.
Apresentador do "Personal Training",
o professor de educação física e modelo
Mauro Jardim, 37, cortou a cabeça recentemente, ao sentar em um aparelho de ginástica que estava à venda. Tudo ao vivo.
Sua parceira de cena, Fabiana Boal (sobrinha do famoso teatrólogo Augusto
Boal), não teve nem tempo de entrar em
pânico: "Dei um jeito de tirar o Mauro de
cena e toquei o barco sozinha".
Outro rosto que se destaca no Shoptime é o de Carlos Takeshi, 40, que comanda o "Infoshop", que vende computadores e jogos eletrônicos. "Sempre fazemos
pesquisas anuais sobre nossos apresentadores, e elas mostraram que o telespectador queria que um japonês apresentasse as ofertas sobre computadores", afirma Carlito Camargo, diretor de programação e produção do canal.
Uma das "descobertas" de Camargo foi
a modelo Monique Evans, que voltou a
ser notícia ao se tornar apresentadora do
Shoptime, onde comandou, até julho, o
"De Noite na Cama", que ganhou nova
substituta com sua ida para a Rede TV!:
Roberta Close (leia texto ao lado).
Em SP
Com um formato bem diferente do
Shoptime, o programa "Liquida Mix" é
outro que acabou dando fama a rostos
anônimos. No ar desde maio de 99, a
atração é exibida por volta das 8h e da
1h, diariamente, na paulista TV Gazeta.
No "Liquida Mix", os apresentadores
-vestidos com inconfundíveis paletós
vinho- visitam lojas de São Paulo,
mostrando as "últimas ofertas" de produtos tão distintos quanto carros, roupas de bebê, móveis e planos de saúde.
À frente do programa desde o início,
Ana Paula Anzelotti, 26, não é novata
na TV. Quando criança, foi "borboletinha" do programa de Mara Maravilha
e "mallandrinha" ("não do tipo que
existe hoje!") do infantil que Sérgio
Mallandro comandava no SBT. "A
gente começa a gravar às 9h e visita de
seis a oito lojas por dia, na cidade toda.
É uma loucura. A gente tem uma meia
hora para saber os preços dos produtos
e já começamos a trabalhar", diz ela.
O "Liquida Mix" tem ainda mais dois
apresentadores: Nina Mayer, 28, e Kadu Fabretti, 27. A loira Nina já integrou
o grupo Banana Split, trabalhou como
assistente de palco de Gugu Liberato e
Fausto Silva e chegou até a entrevistar
jogadores no "Cadeira Cativa", da Rede Bandeirantes ("adorei falar com o
Mirandinha").
Também veterano na TV, Kadu já foi
produtor, assistente e diretor de emissoras como Record e Globo, além de
locutor de rádio. "Sempre fui um apaixonado por TV. E o legal do "Liquida" é
que não somos apenas apresentadores,
mas "fuçadores" de lojas", afirma.
Por semana, o "Liquida Mix" mostra
de 100 a 120 lojas, em programetes de
um minuto e meio, em média -o
anúncio custa cerca de R$ 2.000. "Temos também quadros de entretenimento, não somos só vendedores, diferentemente de outras atrações que têm
por aí", diz o diretor Durval Rodrigues
Paulo, referindo-se a seu concorrente
"Shop Tour", exibido pelo canal CBI.
Mais antigo programa do gênero, o
"Shop Tour" reivindica na Justiça ser o
dono dessa fórmula de venda na TV.
Alegando "razões judiciais", os diretores do programa não autorizaram entrevistas com seus apresentadores.
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